Conversas de Domingo
25/08/2019 18:58 - Atualizado em 25/08/2019 19:01
Conversas de domingo
Conversas de domingo
Há algum tempo atrás uma conversa virtual - ou digital - com uma pessoa a quem eu vou chamar aqui de "Professor P", pois ele não teria interesse em se identificar, se mostrou profícua. As conversas começaram por iniciativa minha, reconhecendo a capacidade intelectual do interlocutor. 
A ideia seria buscar um entendimento sobre os movimentos sociais vigentes, como eles são estruturados e sobre a flagrante e crescente polarização ideológica.  A conversa rendeu. Outros assuntos foram abordados. Em certo momento do diálogo as diferenças de pensamento quase se transformaram em um "fim de papo", mas ambas as partes decidiram continuar, provavelmente para não aceitar que a polarização realmente se tornou densa ao ponto de ser quase palpável e pesar muito na construção dialética atual. Reproduzo uma parte dessa conversa, como forma de ampliar o debate e promover algum tipo de nova construção, novos diálogos, novas interpretações. 
- Boa noite professor. Venho lendo suas postagens e as minhas são, em geral, alinhadas com as suas. Pois bem, uma dessas faz referência à necessidade da "esquerda" e da "centro esquerda" se unirem e estruturarem ações e discursos mais efetivos. As rotulações muitas vezes limitam; existem diversas linhas ideológicas e de pensamento, mas é preciso marcar posição em um lugar de fala confrontante com o status quo, muitas vezes, em outras palavras, é preciso reocupar espaços para que ideias radicais (de ambos os lados) que dialoguem com um atrasado ideal soviético de sociedade que impõe igualdades reprimindo liberdades ou os ideais ultraliberais, exageradamente ligada à costumes e religião, não possam passar a ser hegemônicos, ou pelo menos que intentem a esse propósito. É preciso política, dialética, diálogo e ação. Como fazer isso, é o que lhe pergunto, depois desse preâmbulo extenso? Seria pelos sindicatos e associações? Seria pelos conselhos? Passaria pelos debates virtuais? Vejo o meio acadêmico não tendo capacidade de levar as discussões a dialogar com o homem comum e os espaços estão sendo 
- (Professor P) Boa noite Edmundo. Claro que para o diálogo é bom que se evite as rotulações, mas a definição do campo da "fala" (como usou) é bom que cada interlocutor possa se situar e situar o outro. A disputa das ideias não é nova e não nasceu, como sabemos, da era da internet, com falas e interlocutores múltiplos e até desconhecidos. É dessa disputa de ideias e de busca de apoios que a democracia se instituiu ou se esvai. Hoje, de forma similar à época do fascismo, se tenta calar o outro, e não fazer a disputa no campo das ideias e até - porque não - da luta de classes. Os diferentes interesses estão ai representados em suas frações. Prefiro não falar em marcação de posições e sim de debates sobre os interesses e as contradições políticas e de regimes. A ampliação dos debates favorece à argumentação onde as contradições possam ser expostas e debatidas, mas isso pressupõe o ambiente democrático, que está sendo, escamoteadamente, subtraído. É essa defesa a essência do que defendi no meu texto de hoje, para além das minhas posições e opiniões que exponho no dia a dia. Os espaços são todos aqueles possíveis. Quem não quer debater a democracia são aqueles líderes que falam desejar "jovens que não gostem da política". Eu não gosto muito desse embate que alguns buscam colocar entre o virtual e o real. Ambos podem ser válidos, embora o conhecimento do interlocutor no mundo real, seja importante e muitas vezes imprescindível. Porém, não costumo me furtar em conversar com muitos que encontro aqui nas redes e não sei quem são, como é o nosso caso. Tenho centenas de contatos que são exclusivamente digitais e não menos importantes hoje em minhas várias interlocuções. Muitos desses contatos digitais (que prefiro ao termo virtual) avançaram para a amizade no mundo real. Outros que existiam no mundo real, se esvaíram nos desencontros de posição nas redes sociais. Tal como antes acontecia na vida apenas real. Por isso, eu insisto que é preciso sim articular nos diversos espaços, porém, as pressões políticas, derivadas das mobilizações precisam ser reais. Prazer pelo contato. 
 
 
- Então, justamente por se tentar calar o outro, seja por rotulações ou pela força mesmo, é que devemos retomar alguns espaços “esquecidos” pela intelectualidade, pela academia e por quem tem senso crítico. Concordo que esses espaços devem ser todos aqueles possíveis e que os espaços virtuais são uma continuação de discussões e espaços reais ou físicos. Agora, pondero que devemos sair do metafísico. De um mundo ideal, platônico, onde a verdade absoluta existe e a moral é perfeita. Devemos nos dispor a participar do mundo real e ocupar sim espaços que esquecemos por preguiça, preconceito ou acomodação. Desculpe usar a primeira pessoa (que também peço desculpas ao leitores do blog), mas vejo a necessidade de rever alguns posicionamentos e ser mais assertivo. 
- (Professor P) Sim, Edmundo. (...) Concordo com a sua afirmação que vou transcrever; "agora, pondero que devemos sair do metafísico. De um mundo ideal, platônico, onde a verdade absoluta existe e a moral é perfeita." Para mim o metafísico não deve ser o digital, mas o debate etéreo, e não o teórico, muitas vezes necessário para entender esse mundo tão complexo. Valorizo a todos que antes, ajudaram a construir o conhecimentos que aponta pistas, para entender o mundo contemporâneo. Sobre a moral eu entendo que dentro da necessidade de se compreender esse mundo complexo em que vivemos, precisamos compreender o "lugar" dos valores. Isso não é simples, na política no Brasil,onde o moralismo (na maior parte das vezes, um falso moralismo) serviu e continua a servir como arma e golpe, para a elite econômica, retomar o poder político para os seus interesses. Mas esse seria um papo para um dúzia de cafés. Um abraço.
A conversa se estende. Passeou pela Revolução Francesa e foi até estudiosos e teóricos modernos, como  Luiz Nassif e Castells. Porém, por sua extensão e pela fuga da linha editorial do blog, ainda não explorada, ficaremos por aqui.  

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    Edmundo Siqueira