Priorizar mandato de deputado
Aluysio Abreu Barbosa e Arnaldo Neto 30/03/2019 20:45 - Atualizado em 03/04/2019 18:02
Genilson Pessanha
Único representante de Campos em Brasília, Wladimir Garotinho evitou colocar seu nome como pré-candidato a prefeito e disse estar mais preocupado em construir um projeto ao município para 2020, e em fazer um bom mandato como deputado federal. Nele, voltou a se colocar à disposição do prefeito Rafael Diniz, cujo governo não poupou de críticas, feitas também aos deputados estaduais Rodrigo Bacellar e Gil Vianna. Mas afirmou que seus pais não teriam “papel nenhum” em um governo seu. E que “questões partidárias e de pessoas (...) a gente resolve na eleição”. Ele definiu o presidente Jair Bolsonaro como “escolha errada pelos motivos certos”. E disse que, em caso de condenação da prefeita Carla Machada no TSE, Bruno Dauaire seria “o caminho natural e bom” para São João da Barra.
Folha da Manhã – Como está sendo sua primeira experiência como deputado federal? Qual o clima hoje em Brasília, com as tensões e aparentes apaziguamentos entre o governo Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM/RJ)?
Wladimir Garotinho – Uma experiência muito boa. Morei com meu pai por seis meses quando ele foi deputado federal. Já tinha consciência do ambiente parlamentar em Brasília, mas você ser deputado é diferente. Só que o ambiente é muito ruim hoje.
Folha – É muito ruim ou está muito ruim?
Wladimir – Está muito ruim porque a relação entre o parlamento e o presidente da República está muito ruim. Como essa relação está ruim, o ambiente acaba ficando ruim também. O que o Congresso espera, o que os parlamentares esperam e o que o Brasil espera é que haja uma relação harmônica para que o país ande. Conversamos isso entre os deputados e as bancadas, de que precisa dessa relação cordial e a gente está tentando colocar panos quentes para que essa relação possa melhorar.
Folha – Com essa crise, Fernando Henrique Cardoso chegou a tuitar que presidente que briga com o Congresso sofre impeachment, como Collor e Dilma. Concorda com isso?
Wladimir – É verdade. Concordo. Temos um histórico muito ruim de relação de briga entre Congresso e presidente. Até porque vivemos num país que tem um monstrengo, vamos dizer assim. O sistema é presidencialista, mas...
Folha – A Constituição é parlamentarista.
Wladimir – Mas a Constituição é parlamentarista. O presidente não dá um passo se o Congresso não quiser. Se houver enfrentamento, discórdia, o país para.
Folha – Fernando Henrique colocou que os dois presidentes que não entenderam a força do Congresso, a partir do final da ditadura militar (1964/85), sofreram o impeachment e os vices assumiram. Corremos de novo esse risco? Como vê o Mourão?
Wladimir – Eu acho que o Brasil precisa de estabilidade para poder arrumar a casa e crescer. Eu acho que essa briga não é boa. Se continuar, a gente não sabe no que pode dar. A gente já viu no que deu e não sabe no que pode dar hoje. Mourão tem se mostrado, pelo menos, uma figura equilibrada e coerente. Mas não torço e não desejo que aconteça novamente um impeachment novamente. Acho que o povo não merece, de novo, passar por essa instabilidade.
Folha – A reforma da Previdência é considerada fundamental à sobrevivência financeira do Brasil. Como você analisa a proposta do ministro da Economia Paulo Guedes? Como pretende votar?
Wladimir – Primeiro a gente precisa esclarecer o seguinte: a reforma da Previdência é necessária. Eu não concordo com o modelo apresentado pelo Paulo Guedes, porque ele pune, principalmente, os mais pobres. Mas a sociedade brasileira precisa entender que é necessário. Quando a Previdência foi concebida, lá atrás, você tinha nove pessoas contribuindo, para cada aposentado. Hoje as pessoas estão envelhecendo, morrendo mais tarde, e a proporção hoje é de três para um. Ou seja, é fadado ao fracasso. Ela vai quebrar.
Folha – Como Delfim diz: “é questão de aritmética, não de desejo”.
Wladimir – Exatamente. Não tem jeito. Precisa haver uma reforma. Só que eu acho que o modelo apresentado é muito ruim, principalmente para os mais pobres e trabalhadores do país. Poderia citar aqui o BPC (Benefício de Prestação Continuada), trabalhador rural, professor. A própria proposta para os militares. Para os militares das polícias militares e bombeiros dos estados, é péssima. Agora, para os militares das Forças Armadas ela é boa, até porque é mais um plano de cargos e salários do que uma aposentadoria. O sentimento que se tem no Congresso é que essa reforma não passa. E do jeito que ela está, eu votarei contra. Tentarei algumas emendas no texto, não serão só emendas minhas, mas do nosso partido, PSD, porque não concordamos com vários pontos dessa reforma.
Folha – Eleitor de Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno presidencial, como vê esse turbulento início do governo Bolsonaro? Com a visão de quem está vivendo Brasília, o que esperar?
Wladimir – Eu acho que o Brasil escolheu a pessoa errada pelos motivos certos. Eu não votei no Bolsonaro, inclusive fui crítico da radicalização que ele usou durante a campanha. Eu acho que a radicalização não é boa para nenhum dos dois extremos. Ele precisa encontrar o equilíbrio. E me preocupa muito não ver nenhuma movimentação do governo, principalmente em relação às classes produtiva e trabalhadora. A gente não vê, por exemplo, elevação de salário mínimo, que agora foi dito que será só pela inflação. Isso é muito perigoso, porque quando você tem um salário mínimo forte, você tem mais poder de compra. E quando você tem mais poder de compra as empresas estão vendendo mais e, consequentemente, vão contratar mais. A gente espera que a reforma da Previdência passe de uma forma que seja melhor para todo mundo. E eu acho que o governo vai ter um marco zero na reforma. Vai ser um governo até a reforma e outro governo depois.
Folha – Você falou que a reforma como está, não passa. Paulo Guedes fala muito na economia de R$ 1 trilhão que ela daria ao país. Desse R$ 1 trilhão, passa o quê?
Wladimir – Tem um problema nesse R$ 1 trilhão. Nós não conhecemos os números para chegar no R$ 1 trilhão. Inclusive, várias bancadas já pediram, por escrito, para saber como ele chegou a esse R$ 1 trilhão. A gente só sabe do R$ 1 trilhão que ele diz. Mas como ele chegou a esse número? Do global, desse R$ 1 trilhão, R$ 800 bilhões está saindo da classe trabalhadora e outros R$ 200 bilhões, apenas, do que ele chama de privilegiados. A gente quer ter acesso às contas.
Folha – O Psol pediu no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a cassação do seu mandato e do deputado estadual Bruno Dauaire (ainda PRP)? A denúncia é de compra de voto para vocês dois, no bairro da Penha, por Paulo Henrique Barreto Barbosa, o “PH”, ex-DAS do governo municipal da sua mãe, condenado na Chequinho e assessor parlamentar de Bruno. Em dezembro, você falou: “vou provar nos autos que tais acusações não existem”. Três meses depois, o que mais pode dizer sobre o caso?
Wladimir – Tenho convicção de que a denúncia vai ser arquivada, porque, inclusive, o PH disse que pode pedir perícia no tal vídeo, na tal imagem, porque não tinha nada de ilegal no que ele estava fazendo ali. Estava, segundo ele, entregando uma célula que tinha o número dos candidatos dele, que não era dinheiro, porque, inclusive, a imagem está completamente distorcida. Eu vi a imagem e ela está distorcida. Então, estou muito tranquilo em relação a isso.
Folha – Mas, a entrega dessa cédula com os nomes dos candidatos em dia de eleição também não seria crime eleitoral?
Wladimir – Mas isso você não tem como controlar. Todo mundo entrega cédula. Segundo ele, a pessoa era uma conhecida dele, que teria perguntado quem eram os candidatos dele, e ele entregou uma cédula dizendo quem eram os candidatos dele. Não vejo problema nenhum nisso e tenho certeza que a denúncia será arquivada.
Folha – O PRP, partido pelo qual se elegeu em outubro, antes de se mudar ao PSD, pediu seu mandato esta semana por infidelidade partidária, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Qual sua expectativa?
Wladimir – Isso é uma ação desproporcional e, no meu ponto de vista, até irresponsável, visto que o PRP nacional já deu baixa no seu CNPJ e não existe mais o partido. Isso beira, inclusive, à falsidade ideológica por parte da pessoa que protocolou a ação, porque a Constituição garante ao parlamentar do partido que não alcançou a cláusula mudar em qualquer tempo para outro partido. Foi o que eu fiz.
Folha – Quando fala em irresponsável, se refere a alguma pessoa? Foi uma questão pessoal?
Wladimir – Uma questão pessoal por motivos que eu não quero citar. Mas, a pessoa se achou na vontade de entrar, e eu vou responder em juízo.
Folha – Em contrapartida, como viu a saída de Indio da Costa do PSD, que renunciou à presidência estadual do partido por não compactuar com sua entrada?
Wladimir – Eu acho uma decisão equivocada dele, até porque ele deu uma entrevista dizendo que quer estar conectado com as ruas, sendo que, uma semana antes, ele tinha sido denunciado por um empresário que disse que ele pagou US$ 2,5 milhões para o Índio da Costa o proteger numa CPI. Acho que ele não precisava ter saído do partido, política se constrói com diálogo, aliança. Mas respeito a decisão dele, e que ele siga um bom caminho.
Folha – Seus pais, os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho estão inelegíveis até 2022. Somado isso ao fato de que sua eleição a deputado federal se deu pela vontade de 39.398 eleitores, mais do que os 35.131 que reelegeram sua irmã Clarissa ao cargo, você é hoje apontado como o nome mais forte do seu grupo político. Isso está correto? Por quê?
Wladimir – Minha prioridade é fazer um bom mandato de deputado federal. Essa é minha prioridade, para isso estou me preparando e para isso que fui eleito. Eu acho que nós temos uma história aqui na cidade, temos um grupo político e vamos ter, com certeza, um projeto para Campos na próxima eleição. Esse projeto vai ser muito conversado, muito dialogado, vamos conversar com outras frentes políticas também, e lá na frente a gente vai discutir quem é o melhor candidato.
Folha – Não era esperado que você fizesse mais votos que Clarissa e você sai como a principal força do seu grupo?
Wladimir – Na verdade, essa queda de votação da Clarissa e até a minha, porque eu achava que faria um pouco mais de voto, foi porque, quando meu pai retira a candidatura dele na quinta — a eleição era no domingo —, o nosso material era casado. O material era 100% eu e ele, minha irmã e ele. Eu senti isso principalmente nas áreas periféricas aqui de Campos, em que eu estava mais presente. Quando as pessoas iam entregar material, as pessoas não queriam nem pegar, porque achavam que o voto não ia valer e que aquele material era do Garotinho. Por isso a votação da minha irmã caiu muito, a minha também caiu, principalmente nessa região do entorno aqui. Eu fui candidato pela primeira vez, e existe, em Campos, por parte da sociedade, uma saudade muito grande do governo Rosinha, porque o governo Rafael não vai bem. Acho que por isso eu posso ter feito uma votação maior que a Clarissa, porque o meu voto foi mais concentrado aqui. O voto dela é mais pulverizado, principalmente pelo sobrenome Garotinho, na Região Metropolitana, na Baixada. Quando da retirada da candidatura dele, a votação dela caiu.
Folha – Você disse que o governo Rafael não vai bem, mas Marcão Gomes (PR) teve mais voto do que você no geral, embora um pouco menos em Campos.
Wladimir – No geral, porque ele tinha uma máquina o apoiando por trás, o que deu capilaridade a ele. A votação de Campos mostrou a insatisfação do povo com o governo dele.
Folha – Vocês ficaram bem próximos nas votações.
Wladimir – Dois mil votos de diferença. Por acaso, a mesma diferença de quando meu pai ganhou de Sérgio Diniz (pai de Rafael) como deputado estadual, em 1986. Sérgio foi o candidato da máquina e perdeu para Garotinho sem máquina, por dois mil votos. Por acaso, a mesma quantidade de votos (risos). Isso demonstra que, em Campos, a máquina está muito mal.
Folha – Antes de outubro, dizia-se abertamente que, se conseguisse se eleger à Câmara Federal, você seria candidato natural pela Prefeitura de Campos em 2020. O prefeito Rafael Diniz (PPS) já assumiu publicamente a pré-candidatura dele à reeleição, em entrevista à Folha publicada em 30 de dezembro. E você?
Wladimir – Como eu disse, minha prioridade é o meu mandato como deputado federal, e eu estou me preparando para fazer um grande mandato, porque acho que o Brasil precisa e eu sou o único deputado federal da região. A questão de candidatura nós vamos decidir com outras forças políticas, junto com nosso grupo, conversando, construindo um projeto para a cidade. Em cima desse projeto, o que for o melhor nome a gente vai encaminhar.
Folha – Sim. Você, primeiro, se elegeu. Se consegue fazer um bom mandato...
Wladimir – Eu posso ser candidato... Nós temos, independente do nome de quem for o candidato, temos que ter um projeto para a cidade. Acho que o projeto antecede ao nome.
Folha – Você acha que Bolsonaro foi eleito pelo projeto?
Wladimir – É por isso que eu acho que não vai dar certo. Eu acho que é uma tristeza para o Brasil você ter um presidente que você não consegue enxergar que possa dar certo. Acho que Bolsonaro foi eleito, como disse antes, a pessoa errada pelos motivos certos.
Folha – Witzel foi eleito pelo projeto? Zema foi eleito pelo projeto? Trump foi eleito pelo projeto?
Wladimir – Isso é uma questão pessoal e ideológica minha. Não consigo acreditar em nome antes do projeto. Eu trabalho com essa perspectiva, independente do que deu certo ou deu errado.
Folha – Trabalha independente do que deu certo e deu errado?
Wladimir – Mas aí é o que eu acredito. Acredito em projeto político. Nós vamos trabalhar e desenhar um projeto para Campos. As pessoas que estiverem nesse projeto de construção do projeto, nós vamos avaliar o melhor nome.
Folha – Apesar do destaque nas urnas 2018, no dia seguinte ao resultado delas, você declarou à Folha em 8 de outubro: “O líder do grupo continua o mesmo, Garotinho”. Se ele é o líder, você é o liderado? Que papel Garotinho e Rosinha teriam em um eventual governo seu?
Wladimir – Primeiro, eu sou filho. E, como filho, sempre respeitarei e honrarei pai e mãe, porque é isso que eu acredito. Segundo, existe uma questão geracional. Ser liderado não significa ser submisso. É diferente.
Folha – A pergunta hora não se refere à relação de pai e filho, mas à de líder e liderado na política.
Wladimir – Sim. Ele é o líder de um grupo que eu faço parte. Mas, ser liderado não significa ser submisso. A gente discorda...
Folha – Que papel seu pai e sua mãe teriam num eventual governo seu?
Wladimir – Papel nenhum. Eles são meu pai e minha mãe.
Folha – Eles ocupariam alguma secretaria?
Wladimir – Não, até porque não é desejo deles, e eu também acho que não é desejo deles, e eu também acho que não é o momento. O momento é de a gente conseguir construir uma aliança política para devolver um rumo à cidade de Campos, que hoje está sem rumo.
Folha – Em 2014, não é segredo que, você não se candidatou a deputado estadual porque Garotinho o impediu, preferindo apoiar Geraldo Pudim (hoje, no MDB e desafeto do grupo), enquanto você apoiou e ajudou a eleger Bruno. Ainda assim a liderança do seu pai é inconteste?
Wladimir – Ele é o líder do grupo. Só que, como eu disse, ser liderado não significa ser submisso. A gente discorda. Quando discorda, a gente conversa internamente. Mas, naquela questão da eleição do Bruno, eu não podia recuar, porque eu tinha me preparado para ser candidato a deputado, mas tive que recuar, porque ele é o líder do grupo e tinha um compromisso assumido com Pudim. Mas eu disse que, com Pudim, não podia caminhar naquele momento. Apostei no Bruno e deu certo.
Folha – Em entrevista ao programa Folha no Ar, na estreia da Folha FM na última quinta (28), Rafael falou sobre a duplicidade das iniciativas para reativar do Restaurante Popular. A sua junto à gestão Wilson Witzel (PSC), e a do município, que teve Marcão como secretário de Desenvolvimento Humano e Social reunido com o vice-governador Cláudio Castro (PSC) no dia 19, antes de prometer inaugurar o Centro de Segurança Alimentar e Nutricional até o final do primeiro semestre. Rafael disse: “Se tem alguém querendo disputar, querendo ser o pai da criança, isso é normal, é hereditário. É uma fome de ser dono de tudo que é hereditária (...) Eu tenho o objetivo de consertar toda essa bagunça que eles deixaram (...) Tiveram tantos anos para fazer, e fizeram o quê? Quebraram a cidade!”. Como você vê a questão?
Wladimir – Primeiro, são dois projetos completamente diferentes. O que Rafael quer fazer, na minha concepção, está errado. Os critérios são exclusivos, ele vai conseguir atender muito pouca gente no tipo de projeto que quer fazer. O Restaurante Popular é universal. Comerciários que ganham salário mínimo podem se alimentar ali, estudantes podem se alimentar ali, pessoas pobres podem se alimentar ali. Não é o critério que Rafael vai usar no Restaurante Popular. Ele vai usar o critério para poder se alimentar quem ganha 1/4 do salário mínimo e está cadastrado no CAD Único. E quem ganhar renda acima disso vai ter que pagar entre R$ 4 e 8. Então, ele está excluindo pessoas. Para mim, o critério dele está errado. São programas completamente diferentes. E o Marcão, quando esteve com o vice-governador, ouviu dele que ele não poderia, neste momento, fazer o que o Marcão queria. Marcão esteve lá para pedir a renovação da cessão do prédio, e o vice-governador não garantiu a ele que por enquanto pode fazer a cessão do prédio.
Folha – Você parece bem informado.
Wladimir – O vice-governador me ligou.
Folha – Quando Rafael fala que os Garotinho quebraram a cidade, se refere à dívida de R$ 2,4 bilhões que o governo municipal denunciou, desde março de 2017, ter sido deixado por seus pais na Prefeitura de Campos. Como Garotinho alegou à época, vocês fazem contas diferentes. Em quem acreditar? E por quê?
Wladimir – Essa dívida é mentira. Eu quero que Rafael abra os números e mostre para a população. Não adianta ele dar um número fechado, porque grande parte do que ele diz que nós deixamos de dívida, são dívidas que têm 20, 30 anos para vencer, de parcelamento de fundo de garantia, INSS, que vêm de gestões bem anteriores à nossa. Nós deixamos, se não estiver enganado, cerca de... Não vou lembrar o número. Nós deixamos restos a pagar, normais, que qualquer governo deixa. Inclusive, deixamos menos do que pegamos de Mocaiber.
Folha – A prestação de contas da sua mãe, no último ano de gestão, foi reprovada. E no primeiro ano de gestão do atual prefeito, as contas foram aprovadas. Você não acha que isso corrobora esse discurso dele sobre as contas?
Wladimir – Não acho, não, porque o último ano da gestão da Rosinha foi, realmente, num período que a gente teve que pegar empréstimos e cessão de créditos para poder fechar a folha.
Folha – A venda do futuro.
Wladimir – Não é venda do futuro. Inclusive, foi um discurso usado na campanha. Mas não é. Para se ter ideia, no ano de 2017, que foi o primeiro ano do governo de Rafael, o que eles chamam de venda do futuro representou apenas 2,5% do orçamento dele. No ano passado, representou 3%. Então, não foi isso que inviabilizou a cidade.
Folha – Nessa aparente disputa local de influência junto ao Palácio Guanabara, o governador nega a participação dos Garotinho em sua administração. E apesar do PSC ser o destino provável de Bruno Dauaire, especulou-se o mesmo sobre você, antes de acabar indo ao PSD. Qual é, de fato, a relação do seu grupo com o Governo do Estado?
Wladimir – Primeiro, não existe briga de influência junto ao governador. Me relaciono com o governo como deputado federal eleito. Segundo, nós não temos espaço no governo Witzel. Nem o Cleiton [Rodrigues, chefe de Gabinete de Witzel e ex-coordenador de campanha do Garotinho], que era uma pessoa mais próxima da gente, foi indicação nossa. Isso, o próprio Witzel já deixou claro. E eu vou dar um relato aqui que, infelizmente, já me coloquei duas vezes à disposição do prefeito Rafael. Uma vez pessoalmente, outra por ofício, e até hoje não fui procurado por ele para nenhum assunto relacionado à Prefeitura. Inclusive, ele esteve em Brasília esta semana, se reuniu com outros deputados e não procurou o deputado da cidade dele, que se colocou à disposição dele por duas vezes. Estou esperando ser convocado.
Folha – Mandar o ofício enquanto seu pai pega um inquérito policial de um sequestro para acusar o governo de receber propina, versão negada pelos cinco presos pela ação criminosa, não é hipocrisia?
Wladimir – Eu me coloquei à disposição de Rafael pessoalmente. Depois, fiz por ofício. E quero ajudar a minha cidade. Inclusive, vou ter um encontro com o secretário [estadual] de Saúde na próxima semana, vou levar as quatro instituições de Campos e convidei o secretário de Saúde, Dr. Abdu Neme, para ir. Se ele vai ou não, é uma decisão de governo, de Rafael e deles. [Após a entrevista, o deputado informou que convidou Abdu e o secretário disse que não iria].
Folha – Se você fosse prefeito, Rafael deputado e ele lhe oferecesse ajuda por ofício, enquanto Sérgio Diniz manipulasse um inquérito policial para dizer que há propina em seu governo, quando os cinco presos afirmaram em depoimento que não há, você aceitaria a ajuda?
Wladimir – Eu acho que Campos não pode perder a oportunidade. Já me coloquei à disposição, estou repetindo aqui para vocês que estou à disposição para tentar resolver qualquer problema de Campos com o governo federal. Questões partidárias e pessoas, que ficam em outro campo, nós vamos resolver na hora da eleição.
Folha – Qual a sua avaliação do governo Rafael? Como viu o verão no Farol, em parceria com o Sesc, e a reforma administrativa com a entrada de Abdu Neme (PR) na Saúde, além de Marcão, dois egressos da Câmara Municipal? O que pensa desse assumido avanço da política sobre a administração municipal, além de projetos como a inauguração do novo Hospital São José, o prontuário digital, o Hemocentro Regional, a instalação do ponto biométrico e o retorno do cartão cooperação, além do Restaurante Popular?
Wladimir – Primeiro, eu acho que Rafael vai tentar politizar a administração para tentar se aproximar da população. Mas, eu acho muito difícil que aconteça, porque não vai conseguir melhorar os serviços básicos da cidade de uma forma tão rápida. Segundo, tudo que ele está dizendo que vai fazer agora, de uma certa forma são ações do governo Rosinha. Ele não tem nada de novo. Rafael não apresentou, até agora, nada de novo. Até agora, não deu uma cara para a gestão dele. Está dizendo que vai voltar com o Restaurante Popular, que não é Restaurante Popular, mas que já tinha na gestão passada; voltar com o cartão cooperação, que era o cheque cidadão, que até agora ninguém sabe quais são os critérios; inaugurar o Hospital São José, que já estava pronto...
Folha – E não foi inaugurado?
Wladimir – Mas estava pronto. Ele está levando quase três anos para inaugurar o que já estava pronto.
Folha – O ponto biométrico e o prontuário digital não são novidades?
Wladimir – Prontuário digital também não é novidade. O ponto biométrico é uma novidade, mas eu acho que ele pode ter problema com isso.
Folha – Os servidores não vão gostar?
Wladimir – Não que os servidores não vão gostar. É muito difícil você querer controlar a presença do servidor se você não dá a ele, efetivamente, condição de trabalho. Se você for aos postos de saúde, hoje, não tem nada. Não tem luva, não tem material. Ele não dá reposição salarial há três anos ao servidor, e agora vai querer colocar o ponto biométrico? Vai ter muito problema.
Folha – Você é a favor ou contra o ponto biométrico?
Wladimir – Eu sou a favor, mas ele tem que caminhar junto com melhorias na qualidade do serviço e dos insumos básicos. Não tem nada.
Folha – A reforma administrativa veio junto com a revelação de que garotistas de peso como Edson Batista (PTB), ex-presidente da Câmara Municipal, estaria se aproximando politicamente do governo Rafael. Embora você tenha negado ser o motivo do afastamento dele, considerado há 30 anos como um dos aliados mais fiéis do seu pai, Edson foi enfático ao falar à Folha: “Garotinho e Rosinha são líderes. Os dois têm história, biografia e minha admiração. Mas estão alijados do processo eleitoral por oito anos. A opção que sobrou ao grupo [na eleição a prefeito de 2020] foi Wladimir. Ele não tem história e biografia para ser candidato. Com Wladimir eu não vou caminhar de jeito nenhum”. Como você fica nessa história?
Wladimir – Eu respeito a história de Dr. Edson. Desejo a ele muita sorte e sucesso. E eu estou construindo a minha história e biografia, assim como ele um dia construiu a dele. Só isso.
Folha – Além de você e de Rafael, os deputados estaduais Rodrigo Bacellar (SD) e Gil Vianna (PSL) também admitiram, em entrevistas à Folha, a possibilidade de disputarem a Prefeitura em 2020. Os dois fizeram críticas ao seu grupo. Rodrigo disse sobre você que “é impossível dissociar sua imagem do pai”.
Wladimir – Assim como é impossível desassociar a dele do pai dele.
Folha – Já Gil classificou como “desastre” a venda do futuro, na qual ele votou contra como vereador e foi negociada por seus pais no ocaso do governo Dilma Rousseff (PT). Como reage a essas críticas e como vê as chances da chamada terceira via em 2020?
Wladimir – Eu acho que tem muita coisa para acontecer, tem muito diálogo para acontecer. Política se faz com diálogo, se faz com conversa. A gente só precisa que as pessoas demarquem as suas posições claramente, porque, tanto o Gil quanto o Rodrigo, na eleição para deputado, diziam que não faziam parte do grupo de Rafael, quando não é isso que a gente vê na prática. Ambos apoiados por vereadores da base do governo Rafael e com cargos na gestão. A gente só precisa deixar claro para a população, para que ela possa escolher o melhor representante e delimitar o campo que cada um ocupa.
Folha – Outra das opções aventadas como terceira via na eleição a prefeito de Campos em 2020, o ex-candidato Caio Vianna (PDT) esteve próximo do seu grupo político, antes e depois da eleição municipal de 2016, chegando a se encontrar no Rio em reuniões com Garotinho. Como estão hoje as relações do filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB)?
Wladimir – Não temos relação muito próxima, a gente de vez em quando se fala. Acho que é um novo quadro da política de Campos, assim como eu também sou, e vamos continuar dialogando. Vamos continuar dialogando. Como eu falei, tem muita coisa para acontecer no cenário político ainda.
Folha – Em artigo publicado no jornal carioca O Dia, na última terça (26), você detalhou seu Projeto de Lei nº 1440, que pretende considerar as regiões Norte e Noroeste Fluminense como regiões de clima semiárido, o que facilitaria destinação de verbas aos produtores rurais das duas regiões. Como está o encaminhamento disso no Congresso?
Wladimir – Já dei entrada com projeto e já foi encaminhado para a Comissão de Agricultura, onde vai ser estudado. Ainda não tem relator, mas já foi encaminhado. Ele dá oportunidade de ter linha de crédito mais barata. Pelo estudo que a gente fez, existe a possibilidade de ser 1% ao ano, o que fomentaria a área agrícola como um todoInclusive, eu tenho uma audiência marcada com a ministra da Agricultura [Tereza Cristina] no próximo dia 2 e estou convidando alguns representantes de Campos e região para estarem comigo, como os presidentes da Asflucan e da Coagro, e o diretor da Universidade Rural, para tratar sobre esse projeto. Vamos saber de que forma a ministra pode nos ajudar na aprovação célere dele, e também convidá-la para estar aqui no evento RioAgro Coop, que é o início da safra agrícola da nossa região.
Folha – Como já foi dito, você e Bruno formam uma parceria bem sucedida desde 2014, na eleição dele a deputado estadual, que se ampliou na dobradinha vitoriosa dos dois em 2018. O que fazer isso se repetir em 2020, numa eventual disputa dele a prefeito de São João da Barra, e na sua, a prefeito de Campos?
Wladimir – Como você disse, é eventual. Primeiro a gente precisa saber se Bruno tem esse desejo, de ser candidato a prefeito. Toda vez que a gente conversa sobre isso ele não demonstra se ele é candidato lá ou não. Assim como eu também não sei se sou candidato aqui em Campos ou não. Ele está despontando como uma liderança nova no cenário de São João da Barra, eu, também, uma liderança nova em Campos. Acho que é natural que a gente dispute as prefeituras em algum momento, até ao mesmo tempo.
Folha – No caso de Bruno, parece depender menos da vontade dele do que do julgamento de Carla Machado (PP) pela Machadada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Prefeita popular, se ela for condenada, abre uma janela. Absolvida, é difícil tirar dela. Concorda?
Wladimir – Então, o Bruno não demonstrou claramente ainda se é ou não candidato a prefeito de São João da Barra, talvez até esperando definir a situação de Carla. Se Carla não puder ser candidata, eu acho que o caminho abre e aí, sim, ele pode tomar uma decisão mais firme.
Folha – Carla foi condenada em primeira e segunda instâncias. Se ela for impedida de disputar a eleição, a candidatura de Bruno não é um caminho natural?
Wladimir – Eu acho que é um caminho natural e bom.

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