Guilherme Belido Escreve: Imagens semelhantes; realidades diferentes
30/03/2019 15:41 - Atualizado em 03/04/2019 18:02
Há exatos 55 anos o Brasil dava o primeiro passo que o lançaria em período negro de sua história política.
Acredita-se que não de imediato – como em tempos mais recentes passou a defender corrente significativa de estudiosos do assunto –, mas na sequência, não tardaria para que o golpe de 31 de março de 1964 resultasse numa ditadura que revogou os direitos fundamentais, suprimiu a liberdade, intimidou, coagiu, torturou e assassinou.
Em suma, a democracia deu lugar ao regime dos porões.
De certo que nessas cinco décadas e meia a história foi visitada e revisitada, não raro trazendo contradições e interpretações. Contudo, cabe perguntar: como se faz possível interpretar fatos? Como a realidade do que se passou pode ser objeto de interpretação?
Pois é! Mas, estranho ou não, foi o que aconteceu e vem acontecendo, possivelmente sentenciando a futuro sem fim as interrogações que insistem em se fazer presentes.
Fatos e versões se misturam e não obstante aspectos, digamos assim, de periferia, sigam com boa dose de controvérsia, o cerne da questão – hoje, felizmente, um período bem distante de nossos dias – é que o País, de fato, foi tomado de assalto por uma ditadura longa e cruel.
Nos nossos dias... apenas história
Por vários anos, denominou-se o golpe de Estado do longínquo 31 de março de ‘militar’. Mais recentemente, os próprios historiadores passaram a denominá-lo como ‘civil-militar’, o que sugere designação melhor apropriada, levando em conta que a ‘mudança’ parece mais próxima do que realmente aconteceu, em especial porque a chamada ‘Revolução’ contou com apoio e respaldo de diferentes setores da sociedade civil.
Para não ir longe, os governadores dos três principais estados brasileiros – todos civis – ajudaram a arquitetar e apoiaram o golpe: Ademar de Barros, São Paulo; Magalhães Pinto, Minas Gerais; e (principalmente) Carlos Lacerda, da Guanabara.
Além desse núcleo político, diversas instituições, setores empresariais, entidades, Igreja e outros segmentos representativos da sociedade pediram o golpe. Ainda mais contundente, fatia considerável da classe média urbana aplaudiu a queda de João Goulart e, frise-se, toda – toda – a grande imprensa do Brasil, excetuando a Última Hora e o Diário Carioca, apoiou o golpe.
Os Jornais
Neste particular, cabe a ressalva de que essa mesma imprensa, ao longo dos anos, tentou criar uma memória anti-golpe que absolutamente não contempla a verdade. O Estadão, Folha de S. Paulo, O Globo, Correio da Manhã, O Dia, Jornal do Brasil, Estado de Minas, e segue... (a maioria ainda está aí) não pouparam editoriais favoráveis ao novo regime. “Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade”, – defendeu o JB. Outros publicariam títulos marcantes contra Jango, como “Fora” e “Saia”.
Depois, – alguns, muito depois, quando o regime dos generais se mostrava esgotado – é que passaram a fazer oposição ao golpe que francamente apoiaram. Mas é preciso registrar que, mesmo após a ditadura se revelar escancarada, sem máscara ou maquiagem, certos veículos ainda mantiveram o conveniente apoio e apreço.
Mais de 30 anos do novo Brasil
Que algumas incógnitas vão permanecer, não há dúvida. Mas, por outro lado, em termos de hoje, pouco importa. O Brasil de 1964, é verdade, estava uma bagunça. Contudo, se o “perigo comunista” existiu, ou se foi fruto de ‘propagandismo’, não é mais relevante para a nossa democracia adulta, de quase 35 anos.
Se o marechal Castello Branco desejou, em 1964, implantar uma ditadura militar ou, ao contrário, se teve em mente, apenas, por fim à agitação, resgatar a normalidade e promover eleições diretas então marcadas para o ano seguinte, – é indagação que vai permanecer sem resposta.
E mais: o desastre aéreo de que foi vítima, em 16 de julho de 67, quando o bimotor em que viajava fôra atingido na cauda pela ponta da asa de um caça da FAB, se deu por acidente ou, como muitos suspeitaram, o choque teria sido fruto de atentado cirurgicamente planejado? Outra pergunta, com viés de mistério, sepultada com o próprio Castello.
Logo, é hora de deixar as dúvidas, as contradições, as interpretações, os mistérios e os episódios pretéritos apenas na esfera histórica. Há muito não fazem parte de nossa vida democrática.
Das continências prestadas no passado, às de hoje, do presidente Jair Bolsonaro, apenas a imagem guarda alguma semelhança. A democracia do Brasil está definitivamente consolidada e nela se molda nosso futuro.
A atenção para com Bolsonaro reside em suas falas desnecessárias, inoportunas e nas trapalhadas de seus tuítes. De resto, é cuidar do déficit fiscal, de retomar o crescimento econômico, de conter o desemprego (que, por sinal, aumentou a já passa de 13 milhões) e de colocar em prática as reformas que há muito se fazem absolutamente necessárias.

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