Crítica de cinema - Entre a nostalgia e o déjà vu
- Atualizado em 28/12/2018 18:18
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
(Bumblebee) -
Transformers é uma franquia que adapta os bonecos da Hasbro para os cinemas e chega ao seu sexto filme (inacreditável não é mesmo ?!). Saindo Michael Bay e sua insana pirotecnia (ele assina como produtor), “Bumblebee” é uma bem intencionada tentativa de respiro para a desgastada franquia.
Dessa vez, como um prequel (história anterior aos eventos da pentalogia), o longa busca dar novos ares à série, ao abordar uma história mais simples, apostando no carisma do Autobot do título (que desde o primeiro longa tem mais identificação com os humanos), e traz como ponto principal, a relação do personagem título com a protagonista Charlie (a primeira protagonista feminina da série).
Ainda traz como pano de fundo uma trama sem sentido que liga a terra a interminável guerra entre Autobots e Decepticons e permite um número reduzidíssimo de combatentes em tela. Mesmo com esses acertos, o filme traz ainda alguns dos problemas dos longas anteriores, provando que mesmo que bem intencionado e com efeitos espetaculares (provavelmente a maior qualidade da franquia), nem todos os problemas foram contornados.
Ambientado no final da década de 80, período em que os bonecos estavam no auge de seu sucesso, o longa trabalha muito com a nostalgia. É também desta época que grande parte público alvo do longa tem memórias afetivas muito fortes com sua infância e consequentemente com os bonecos. Esse sentimento é reforçado à exaustão através de incontáveis músicas de sucesso da época, pelos figurinos e por diversos posters de filmes marcantes da época que preenchem os quartos da protagonista e de seu amigo.
A relação entre Charlie e Bumblebee remete diretamente à relação do Transformer com o protagonista do primeiro filme. Algumas situações são praticamente idênticas, o que ajuda aqui, é que a jovem Hailee Steinfeld é mais carismática que Shia Labeouf (o protagonista dos três primeiros filmes) e sua personagem traz um desenvolvimento mínimo, que permite ao espectador uma melhor identificação (mesmo que um certo trauma, fique totalmente sem explicação por todo o filme).
O maior dos problemas que permanece no novo capítulo da franquia, são os personagens coadjuvantes, que são retratados como completos idiotas. São atitudes e ideias absurdas que causam espanto mesmo em um universo que parte da premissa de uma guerra entre robôs/máquinas alienígenas. Os militares em especial, tomam decisões incoerentes com qualquer nível de realidade.
O maior acerto do filme (que diga-se de passagem, permitiu um orçamento mais enxuto) é a economia no número de personagens em cenas de ação. As intermináveis batalhas dos longas anteriores, repletas de robôs se engalfinhando, onde em pouco tempo se tornava impossível ao espectador saber quem era quem e compreender o que se passava em tela. Aqui, após uma breve introdução no planeta natal dos Autobots, as cenas na terra se limitam a três personagens e mesmo que a ação careça de criatividade, ao menos é visualmente agradável e compreensível.
O trabalho do experiente animador Travis Knight (que aqui tem sua estreia em longas live action), dá ao filme um tom mais leve, repare que até mesmo o visual de Bumblebee é mais infantil, mas o filme carece de identidade. Não que Michael Bay seja um cineasta que imprima grande estilo em suas obras, mas o filme se parece de mais com os longas anteriores.
Os efeitos permanecem como grande destaque, tendo nesse filme uma das cenas mais bacanas da franquia, ao trazer Bumblebee se transformando pela primeira vez para Charlie, enquanto a mesma está de baixo dele e a câmera acompanha tudo focada no espanto da personagem.
“Bumblebee” aposta na nostalgia e na sobriedade para dar novo ânimo à tão bem sucedida (financeiramente) franquia da Hasbro, porém o longa tropeça em um roteiro fraco. Não é a renovação que a franquia precisava, na verdade a série já entregou o que podia há uns quatro filmes atrás, mas enquanto o dinheiro estiver entrando, veremos Transformers como prequel, sequência, spin-off, reboot...

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