Pezão preso na Boca de Lobo
29/11/2018 21:49 - Atualizado em 03/12/2018 17:36
Reprodução Globo
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), foi preso por volta das 6h dessa quinta-feira (29), no Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do Estado. A prisão ocorreu dentro da operação Boca de Lobo, mais um desdobramento da Lava Jato no Rio, e que é baseada na delação premiada de Carlos Miranda, operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), que está preso. Pezão é o quarto governador fluminense preso nos últimos dois anos — Cabral continua na prisão, Anthony e Rosinha Garotinho estão em liberdade —, mas o primeiro no exercício do cargo. Ele não foi algemado e chegou à sede da Polícia Federal pouco antes das 8h para prestar depoimento. Por volta das 15h, depois de depor por três horas, ele foi levado para a cadeia de Benfica, de onde, após triagem, foi transferido para o Batalhão Especial Prisional de Niterói (BEP), já que Pezão tem direito à sala de Estado Maior. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), há provas documentais do pagamento em espécie ao atual governador de quase R$ 40 milhões, em valores de hoje, entre 2007 e 2015. O vice-governador Francisco Dornelles (PP) assumiu o governo. O governador eleito Wilson Witzel (PSC) afirmou que a operação não irá atrapalhar a transição.
Ao deixar a sede da PF, Pezão negou as acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitações. “É óbvio que eu nego, nego tudo”, respondeu ao ser questionado por uma equipe de reportagem.
  • Pezão preso

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Segundo o MPF, Pezão operou esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros, desde que era vice e que também atuou como secretário de Obras de Cabral. Além do governador, outras seis pessoas foram presas. Entre elas, os secretários estaduais de Obras, Iran Peixoto Júnior, e de Governo, Affonso Henriques Monnerat Alves da Cruz - este já preso na operação Furna da Onça -, e o sobrinho do governador, Marcelo Santos Amorim. E ainda, Luiz Carlos Vidal Barroso (servidor da secretaria da Casa Civil e Desenvolvimento Econômico), Cláudio Fernandes Vidal e Luiz Alberto Gomes Gonçalves (sócios da J.R.O Pavimentação), Luis Fernando Craveiro de Amorim e César Augusto Craveiro de Amorim (sócios da High Control Luis).
O Palácio Guanabara, onde o governador despacha, a casa de Pezão em Piraí, no Sul Fluminense, e a casa de Hudson Braga, secretário de Obras durante o governo Cabral, foram alvo de mandados de busca e apreensão.
A ordem de prisão preventiva foi expedida pelo ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde governadores têm foro.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou, ao explicar a prisão de Pezão, que havia “infrações criminosas muito graves” ocorrendo no Rio. Ainda segundo ela, as prisões foram necessárias porque crimes como organização criminosa e lavagem de dinheiro ainda estavam em curso.
Delator relata valores de R$ 150 mil mensais
Batizada de Boca de Lobo, a operação é baseada na delação premiada de Carlos Miranda, operador financeiro de Sérgio Cabral, que está preso desde novembro de 2016 e já condenado a mais de 140 anos de prisão. Miranda detalhou o pagamento de mesada de R$ 150 mil para Pezão na época em que ele era vice de Cabral. Também houve, segundo a delação, pagamento de 13º de propina e ainda dois bônus de R$ 1 milhão como prêmio. O “homem da mala” de Cabral disse que o atual governador guardou R$ 1 milhão em propina com um empresário do Sul Fluminense.
Segundo a PF, Pezão cobrava até 8% de propina dos contratos do governo em benefício próprio. Para a força-tarefa da Lava Jato, solto, o governador poderia dificultar ainda mais a recuperação dos valores, além de dissipar o patrimônio adquirido em decorrência da prática criminosa.
Nome - O nome da operação Boca de Lobo faz alusão aos desvios de recursos, revelados nas diversas fases da Operação Lava Jato, que causa a sensação na sociedade de que o dinheiro público vem escorrendo para o esgoto. Boca de Lobo são dispositivos instalados em vias públicas para receberem o escoamento das águas da chuva drenadas pelas sarjetas com destino às galerias pluviais.
Vice fala em violência, Witzel em transição
O vice-governador Francisco Dornelles, de 83 anos, estava fazendo seus exercícios matinais quando soube da prisão de Pezão. De acordo com O Globo, ele havia acordado às 6h30m, tomado seu café e, em vez de sair para se exercitar no Jockey Club, como costuma fazer, decidiu ir à academia de ginástica no playground do prédio em que mora, no Jardim Botânico. Soube da prisão uma hora mais tarde. Antes de assumir a cadeira de governador, passou nas Laranjeiras para ver a primeira-dama Maria Lúcia, esposa de Pezão.
Só depois, assumiu e teve reuniões com o chefe da Casa Civil, Sérgio Pimentel Borges da Cunha, divulgou nota garantindo pagamento de salários e 13o, conversou por telefone com o presidente Michel Temer (MDB), afirmando que dará prosseguimento a todas as ações do regime de recuperação fiscal. À noite, reuniu-se com o governador eleito, Wilson Witzel (PSC).
Já o governador após 1o de janeiro afirmou que o processo de transição não será afetado após a prisão do atual governador. Witzel disse também que confia na Justiça e na condução dos trabalhos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pela Polícia Federal.
E acrescentou: “A transição não será afetada. A equipe do governador eleito seguirá trabalhando para mudar e reconstruir o Rio de Janeiro”, afirmou, através das redes sociais, o governador eleito.
Ceciliano e Jungmann lamentam ocorrido
Presidente em exercício da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT) afirmou, nessa quinta-feira, que a prisão de Pezão não vai atrapalhar o andamento de importantes votações previstas até o fim do ano: “O cronograma da Alerj até o final de dezembro está mantido. Vamos votar o orçamento, a prorrogação do estado de calamidade, os vetos e o Fundo Estadual de Combate à Pobreza, que pode garantir R$ 5,079 bilhões ao estado”.
E comentou, sobre a prisão do governador: “É lamentável o acontecido. A gente espera que as investigações ocorram, mas que se dê o amplo direito de defesa”, disse Ceciliano, que assumiu o comando da Alerj após a prisão de Jorge Picciani (MDB), presidente efetivo da Casa, pela Lava Jato em novembro de 2017.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, considerou a prisão do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, como “extremamente triste”. Ele disse que o Rio de Janeiro vive uma “metástase” em que o crime organizado conseguiu penetrar no poder público.
 
 

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