Crítica de cinema - Sobre limites e situações
- Atualizado em 30/11/2018 17:59
(Sequestro relâmpago) -
Baseado em uma história real, “Sequestro relâmpago “(como o título já evidencia), é um filme situação. A premissa é bem simples, uma jovem estudante de classe média é sequestrada por dois jovens e inexperientes assaltantes que devido a diferentes questões acabam retendo ela em seu carro durante toda uma noite. Tudo corre ligado a essa dinâmica.
Esse estilo de narrativa já traz problemas inerentes, devido às limitações impostas pela situação. Seja ela um roubo, um acidente, aqui é um sequestro, porém, a cineasta Tata Amaral busca trabalhar além da situação, buscando abordar diferenças e paralelos sociais entre os três personagens principais, enquanto cruzam a capital paulista em diferentes cenários.
O roteiro escrito pela própria diretora, junto a dois parceiros, carece de tensão, bons diálogos e principalmente, verossimilhança. Apresentando a protagonista Isabel (Marina Ruy Barbosa), como uma jovem independente, descolada e de atitude, em uma introdução econômica e eficiente, que de maneira inteligente se passa dentro do carro, o filme faz um pequeno prólogo, introduzindo elementos na trajetória de cada personagem e logo somos introduzidos ao sequestro.
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
Desde o primeiro momento, cria-se uma dinâmica previsível na relação dos sequestradores, que funciona em um primeiro momento devido às atuações. Matheus (Sidney Santiago) é o jovem negro, centrado, que só quer conseguir o dinheiro e sair dali, já o Japônes (Daniel Rocha) faz o estilo do esquentado, passa o tempo todo com a arma na mão, fazendo ameaças e traz ainda uma tensão sexual com a protagonista, que logo é descartada pelo roteiro.
A personagem Isabel é uma mulher inteligente, que consegue manter o mínimo de calma, na tentativa de sair daquele carro e tenta jogar os sequestradores, um contra o outro, uma ideia que é mal trabalhada. Até mesmo a ideia de se aproximar dos sequestradores no intuito de ganhar a confiança e a simpatia deles, acaba soando forçada, já que o filme falha em alternar momentos de tensão com cenas que aproximem os personagens.
A falta de tensão é o principal problema do filme. Após os primeiros momentos, alguns acontecimentos dentro do carro e uma cena desastrosa no estacionamento de um shopping, que têm um importante papel de denunciar o machismo, mas é mal realizada e só explicita os problemas do longa, o filme vira um tour pela cidade de São Paulo e quando começa a parecer que não tem muito a apresentar, o longa assume seu caráter de estudo sociológico, misturando diálogos ruins com algumas cenas forçadas.
A cena mais tensa, e que mostra o potencial do longa, é a no desmanche de carros. Essa cena tem tensão, reviravolta e personagens convincentes com uma montagem dinâmica que até destoa do resto da produção. É um dos únicos momentos do filme em que realmente se teme pela vida dos três.
Outro problema do roteiro é o de abandonar elementos que poderiam enriquecer os personagens. O personagem Matheus tem um filho, informação que nunca é utilizada de forma aumentar os riscos do personagem em ser preso. O Japonês, mais que dinheiro, quer ser respeitado como o pai. Respeito claramente demonstrado na já citada cena do desmanche. Porém esses elementos são desperdiçados em prol da relação dos dois com a protagonista, forçando uma situação que apela para o lado do inusitado, quando em diversos momentos, os três agem como se amigos fossem.
Apesar das atuações corretas e com uma direção oscilante, “Sequestro relâmpago” naufraga mesmo no discurso vazio e na falta de verossimilhança de diversos momentos, soando falso. A discussão sobre a violência e diferença de classes soa vazio em um longa que não consegue transmitir realidade e urgência. Ao final, fica a certeza que as limitações do longa vão muito além das impostas pela situação.

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