Homicídios avançam em Campos
Matheus Berriel 06/10/2018 23:54 - Atualizado em 08/10/2018 14:51
Violência em Campos
Violência em Campos / Antônio Leudo
A intervenção federal no Rio de Janeiro, iniciada em fevereiro, não tem resolvido o problema da Segurança Pública na capital, e nem no interior. Pelo menos é o que demonstram as estatísticas. Maior município fluminense em extensão territorial e sétimo em população, com 503.424 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Campos vive um ano extremamente violento. Levantamento da Folha da Manhã aponta 181 homicídios registrados em 2018, quatro em outubro. Até o fim de setembro de 2017, eram 138, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP).
Desde 2014, quando o ISP passou a divulgar os dados do município, Campos vem apresentando irregularidade no indicador de letalidade violenta. Naquele ano, foram 227 assassinatos. No ano seguinte, o número caiu para 177. Subiu consideravelmente para 281 em 2016, com nova diminuição no ano passado, com 185 homicídios. Como 181 já foram registrados e ainda restam quase três meses para o fim de 2018, é provável que a quantidade suba novamente.
Questionado sobre a atuação policial, o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Fabiano Souza, citou que houve intensificação nos patrulhamentos, mas que a situação engloba outros fatores.
— Sabemos que a questão dos homicídios depende também dos demais órgãos, não só de segurança pública, como também da Prefeitura, levando infraestrutura para os bolsões de pobreza de Campos. E a gente precisa muito da colaboração da população através do Disque Denuncia, que é o 2723-1177. É importante que as pessoas denunciem os homicidas e outras coisas de errado que estejam acontecendo no bairro. Do restante, a Polícia Militar se encarrega”, disse o comandante.
Em nota, a PM explicou que “os elevados indicadores de homicídios dolosos, especialmente na circunscrição da 146ª Delegacia Policial (em Guarus), são históricos e refletem uma conjugação de fatores socioeconômicos, como concentração de pobreza, falta de infraestrutura urbana, de educação, de saúde, enfim, de políticas sociais inclusivas. Este cenário transforma-se em terreno fértil para atrair diferentes facções criminosas, que disputam, de forma violenta, a ocupação de território. As taxas de homicídios da circunscrição da 146ª DP são compatíveis com indicadores das áreas mais violentas do Estado do Rio e do País”.
De janeiro a agosto deste ano, 360 armas de fogo foram apreendidas em Campos, 56% delas na área da 146ª DP. O número é representativo, visto que 84% dos homicídios foram praticados justamente com armas de fogo. No mesmo período, houve 1269 prisões em flagrante, quantidade já superior às 1221 de janeiro a agosto do ano passado.
O presidente do Conselho Comunitário de Segurança, Ivanildo Cordeiro, acredita que a intervenção federal fez muitos criminosos migrarem para o interior. “Isso é um problema que discutimos há algum tempo. A maior parte dos homicidas estão dentro das facções criminosas, principalmente nos complexos habitacionais de Guarus. Essas facções ganham força no interior na medida em que são realizados os projetos de segurança na capital. A gente cobra no Conselho e as polícias realizam operações conjuntas, que ajudam a amenizar. Mas, não resolvem — afirmou.
População é refém do tráfico em Guarus
A população de Guarus, em especial a da “Faixa de Gaza”, vem sofrendo com a influência do tráfico. A área abrange os Parques Bandeirantes, Eldorado, Nova Campos, Novo Eldorado, Prazeres, Santa Clara e Santa Rosa, além da Codin e Custodópolis. Só neste ano, pelo menos 63 pessoas foram assassinadas nos nove bairros citados. Apesar de várias tentativas, a Folha não conseguiu contato com o delegado Luis Mauricio Armond, titular da 146ª DP.
No dia 9 de agosto, uma megaoperação foi realizada nos Parques Eldorado I e II, Santa Rosa, Santa Clara e Prazeres, todos na “Faixa de Gaza”, iniciando a atuação intervencionista no interior. A operação contou com 387 militares das Forças Armadas,150 policiais militares, 85 policiais civis e 23 agentes rodoviários federais, com apoio de dois veículos blindados do Exército e um do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), modelo Urutu, além de aeronaves. Uma moto e um carro foram recuperados, bem como 100 imóveis que haviam sido tomados por criminosos (esbulho possessório). Os agentes de segurança removeram 10 barricadas e apreenderam uma carabina de calibre 12, um revólver de calibre 38, duas granadas caseiras, dois carregadores de pistola, munições, 20 quilos de pasta de cocaína em tabletes com selo de qualidade de tráfico internacional, seis celulares e farto material para endolação. De acordo com informações do Comando Leste, de 15 a 18 mil moradores foram impactados positivamente por esses indicadores.
Posteriormente, policiais civis e militares realizaram desdobramentos da Operação Cruzada. Mesmo assim, os crimes seguem acontecendo. Dos 21 homicídios de setembro, 17 foram na área da 146ª DP. Outubro começou com quatro casos, nos quatro primeiros dias do mês, dois deles em Guarus.
O tráfico também se faz presente à margem direita do rio Paraíba do Sul, embora com menor intensidade. Sem divulgar dados, o delegado titular da 134ª DP (Centro), Geraldo Rangel, citou as cinco etapas já deflagradas na Operação Sicário, destinada a prender suspeitos de terem cometido homicídios e tentativas. “A maior parte dos crimes está relacionada à questão da guerra do tráfico, inclusive do lado de cá, não é só em Guarus. A gente atua conjuntamente com o 8º BPM. Aqui, na área do Centro, estamos dentro da meta. Não tenho os dados exatos, mas a maioria dos homicídios já estão elucidados. A situação está controlada. Tem as operações Sicários que a gente faz constantemente, já foram cinco, exclusivamente cumprindo mandados de prisão de homicídios”, enfatizou.
Ações que podem mudar a realidade
A população de Guarus, em especial a da “Faixa de Gaza”, vem sofrendo com a influência do tráfico de drogas. O comandante do 8º BPM apontou a necessidade de políticas para a área e a necessidade de ações do poder público.
Em nota, a Prefeitura de Campos disse que vem desenvolvendo políticas públicas voltadas para crianças e jovens, principalmente, em áreas de risco social. “Entre os projetos, estão o Construindo Valores nas Escolas, dentro do PSE, e o Gentileza, que visa resgatar valores morais e humanizar relações”. “Estamos atentos e tomando medidas preventivas para garantir que valores sejam preservados. Uma vez por semana, iremos em várias unidades escolares e, uma vez por mês, em escolas do interior levando essa ação” afirma o secretário de Educação, Cultura e Esportes, Brand Arenari.
A nota lembra ainda que a Fundação Municipal de Esportes (FME) oferece 40 modalidades esportivas e atende, atualmente, cerca 14 mil crianças e jovens. Ainda segundo a nota, a Fundação Municipal da Infância e da Juventude (FMIJ) passou a leva qualificação profissional às localidades como Eldorado, Goitacazes, Farol, Morro do Coco e Centro. Através do programa Guarda Mirim, vários jovens são atendidos e a Guarda Civil Municipal também conta com o Grupamento Ronda Escolar, que atua nas escolas com prevenção.
A Prefeitura ressaltou ainda que as obras do Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) estão sendo finalizadas. O espaço é idealizado para abrigar ações culturais, esportes e qualificação para o mercado de trabalho. A administração terá interação das Secretarias de Desenvolvimento Humano e Social (SMDHS), Educação, Cultura e Esporte; da Superintendência de Paz e Defesa Social e Superintendência de Igualdade Racial (Supir), além da Fundação Municipal da Infância e Juventude.

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