Ainda não é a mudança, mas pode ser o começo
Guilherme Belido 06/10/2018 23:23 - Atualizado em 07/10/2018 20:59
O eleitor brasileiro vai às urnas neste domingo para uma missão que poucas vezes se viu revestida de tanta urgência e expectativa: a de pôr fim ao período de crise iniciado ainda em 2014, logo após a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff – apontada como estelionato eleitoral –, que aumentou sobremaneira nos anos seguintes (2015 e 2016) e se mantém até hoje face ao governo sem legitimidade e repleto de escândalos que tem sido a marca de Michel Temer.
Trata-se de apostar no início de uma grande mudança, de reformas profundas, passo inicial para que o Brasil – com a brevidade possível – retome as condições básicas para, aí sim, vencer a crise econômica, voltar a crescer e tirar dos ombros do povo o pesado sacrifício e a penúria que dele tem sido exigido neste período sombrio de nossa história.
Por isso não há exagero em se dizer que o pleito de hoje é o mais aguardado dos últimos 29 anos, desde a eleição de 1989, que resgatou o voto direto, vencida por Fernando Collor.
Por coincidência, a de 89 também aconteceu 29 anos depois da eleição de Jânio Quadros, em 1960 – ultimo presidente a chegar ao Planalto pela vontade popular antes do Golpe de 1964.
Provável 2º turno se Bolsonaro não ‘disparar’ na última hora
Por mais que os especialistas falem que o 2º turno está praticamente garantido, durante a semana foi crescente a ressalva de que seria quase impossível o candidato Jair Bolsonaro (PSL) liquidar a eleição hoje.
Logo, o ‘quase impossível’ não para de ser repetido, numa perspectiva que mostra o ‘improvável’ cada vez mais presente.
O fechamento desta página ocorreu antes da divulgação das pesquisas do sábado de ontem (06) – que tanto podem manter as pontuações captadas nos levantamentos anteriores, como mostrar crescimento ainda maior de Bolsonaro. Isso, sem falar em avanço ou recuo passível de ocorrer até mesmo hoje.
Praticamente fora do script seria a hipótese de atropelamento de Fernando Haddad (PT), no sentido de encostar no deputado. Salvo pelo imponderável, não é razoável.
Assim, com base no penúltimo levantamento feito pelo Datafolha que apontou crescimento de Bolsonaro, com 39% dos votos válidos contra 25% de Haddad, há de se ter em mente que 11 pontos não se tiram da noite para o dia.
Por outro lado, um novo avanço do candidato do PSL na reta final pode encurtar a diferença, deixando Bolsonaro nas fronteiras dos 50% mais um voto. Neste particular, é preciso observar que a intenção de votos entre as mulheres subiu em favor do deputado – detalhe que pode fazer a diferença.
Cabe ressaltar que eleição pode virar até no dia – exemplos não faltam – em particular num pleito tão atípico como a sucessão presidencial deste ano.
Pela lógica, teremos o 2º turno. Mas sem desconsiderar o ponto fora da curva, que seria a vitória de Bolsonaro neste domingo.
Uma reviravolta a favor dos candidatos mais próximos – Ciro Gomes, do PDT, e Geraldo Alckmin, do PSDB –, seria apostar nos píncaros de imprevisibilidade.
Desserviço de uma parte da grande imprensa
Felizmente com menor frequência nas últimas semanas, há de se lamentar que no início do período eleitoral, fatia considerável da grande imprensa jogou em desfavor dos princípios aos quais deve seguir.
No final de julho, nas primeiras edições do ‘Central das Eleições’, da Globo News, os presidenciáveis não foram apenas sabatinados pelos jornalistas, mas alvos de inquisição. Não por todos os comentaristas – naturalmente. Mas muitos deles.
Além da agressividade, perguntas acusatórias e cansativas, repetidas por outros órgãos, como a querer uma confissão. A questão de Ciro Gomes ter dito que receberia os enviados de Sérgio Moro a bala... De Alckmin ter comparado o PTB de Vargas com o PTB atual... Que Marina votou contra a CPMF depois de dizer que votaria a favor... Que Álvaro Dias fez pagamentos em dinheiro na campanha de 1986... Que Bolsonaro fez declarações polêmicas... E por aí adiante.
O “receber a bala”, de Ciro, foi uma forma caricata de expressão; o PTB citado por Alckmin ocorreu num comício do velho partido, um afago em Roberto Jefferson; a referida campanha de Álvaro foi há mais de 30 anos... Enfim, muita chatice e retrovisor.
Questões pertinentes, como o tamanho de Paulo Guedes num possível governo Bolsonaro; bem como a responsabilidade do PT na corrupção da Petrobras e na crise econômica – estas endereçadas a Haddad – teriam, sim, espaço. Mas aquelas velhas perguntas que já se sabe que o candidato, seja ele quem for, vai negar, vai enrolar e não vai responder, podem ser feitas – mas não devem monopolizar as entrevistas ou ficar voltando como um disco agarrado. Não contribuem para esclarecer nada.
Só porque não gosta?
Também nas primeiras entrevistas feitas pelo Jornal Nacional, muitas perguntas foram cansativamente previsíveis, não faltando nem mesmo o erro de premissa, como a da apresentadora Renata Vasconcellos ao questionar Alckmin por estar “sendo apoiado por Collor”, quando o partido do senador alagoano, o PTC, apoiava Álvaro Dias.
Na vez de Haddad, Bonner só faltou trazer para o estúdio aquela lâmpada usada em interrogatórios para arrancar do candidato do PT o que ele queria ouvir.
De maneira geral (já se cuidou aqui disso) a imprensa foi intolerante com Bolsonaro, mostrando-se parcial – o que não é correto – ao invés de perguntas objetivas, que melhor revelariam ao eleitor o maior ou menor conhecimento do capitão da reserva acerca de temas capitais para o Brasil.
De mais a mais, é inaceitável pautar o jornalismo com base no gosto pessoal do profissional de imprensa. Gostar ou não gostar de alguém é algo de foro íntimo, não pode ser passado para o público sob pena de se atropelar a devida isenção.
O Brasil dividido
O País não está separado apenas na política, entre petistas e anti-petistas. A divisão alcança o comportamento da sociedade e o conceito do que é mais ou menos relevante.
Existe um Brasil que só tem olhos para o ‘politicamente correto’, preocupado com a torcida que xinga a mãe do juiz no jogo de futebol, com a piada no programa de humor e em censurar quem, de brincadeira, cita a expressão “cavalo paraguaio”. O mesmo Brasil que lançou o ‘empoderamento’ como se fundasse a nova república e que se apega à cartilha do ‘certo’ e do ‘errado’ sentenciados pelo politicamente correto.
E existe um outro Brasil, que sofre (ou se aflige por quem sofre) com a fome, com a insegurança e com o desemprego. Com os hospitais sucateados, com a falta de remédios e de profissionais de Saúde. Com a Educação de 5º mundo, com a falta de saneamento básico, de moradia e de transporte público. O Brasil que se revolta pelos idosos que morrem pela ausência de um mínimo de atendimento e com as crianças que buscam comida nos lixões.
PT x Bolsonaro
O Brasil que vai às urnas não está apenas polarizado, mas polarizado pelos extremos. De um lado o PT, o PT comandado por Lula, que prega a democracia, mas andou de mãos dadas com o chavismo venezuelano; que negou conhecer o Mensalão tanto quanto agora nega envolvimento com o Petrolão. O PT que confronta, desafia e se insurge contra decisões do Judiciário.
Do outro lado, Jair Bolsonaro. O deputado com um longo histórico de declarações não apenas agudas, mas ofensivas; não só polêmicas, mas desrespeitosas. Destas, o candidato do PSL busca passar a imagem de ter deixado para trás – o que é bom. O capitão da reserva, contudo, não se afasta dos elogios ao regime militar e tampouco reconhece a implantação da ditadura no Brasil; que prendeu, torturou e matou.
Festival de mentiras
De quatro em quatro anos é a mesma coisa. Mesmo numa eleição diferente das anteriores, o discurso fantasioso, recheado de promessas que não podem ser cumpridas, esteve presente. E ao menos entre os candidatos melhor pontuados, não se vê exceção. Bolsonaro, Haddad, Alckmin, Ciro e Marina prometem o que não podem entregar. Até porque não há tempo, nem dinheiro, nem condições estruturais.
Todos – cada qual a seu modo – falam a este ou aquele segmento da sociedade o que o referido setor quer ouvir. Emprego para a população, aumento de salário para o funcionalismo e redução de impostos para os empresários. Crescimento dos programas sociais, oferta de crédito barato e solução para os endividados.
Para os próximos 4 anos, avanços extraordinários na Saúde, Educação, Segurança, Habitação, Saneamento, Transporte Público, Meio Ambiente e por aí vai...
Colocar no papel ou falar no palanque, não é difícil. Mas pôr em prática... aí são outros quinhentos.

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