"Bélgica preparada para ganhar"
Paulo Renato do Porto 30/06/2018 15:48 - Atualizado em 02/07/2018 17:26
Na Copa de 1958, em gramados da Suécia, o Brasil sagrou-se campeão do mundo pela primeira vez, com o brilho do campista Valdir Pereira, o Didi, considerado pela crítica internacional o melhor jogador da competição. Em 1962, no Chile, se Garrincha foi coroado o rei do bicampeonato, outro papa-goiaba que brotou nos campos da planície igualmente saltou para a glória com uma contribuição decisiva na conquista do bicampeonato. Amarildo Tavares Silveira, então um jovem de apenas 22 anos, foi chamado às pressas para substituir um lesionado Pelé, já consagrado como o Rei do Futebol, e não se intimidou. Responsável por gols importantes, o Possesso, como ficou conhecido, concedeu entrevista à Folha da Manhã, por telefone, na qual relembrou o passado e comentou a atual Seleção Brasileira, que terá pela frente o México, nesta segunda-feira, às 11h, pelas oitavas de final da edição russa da Copa.
Como muitos especialistas, Amarildo acredita numa possível surpresa neste Mundial. “Com a ausência da Itália e a eliminação da Alemanha, somando-se ao fato de que nenhuma grande seleção conseguiu convencer até agora, é possível que uma teoricamente menos capacitada venha ser campeã mundial. Vejo a Bélgica como uma equipe equilibrada e bem preparada para ganhar essa Copa”, apostou.
Na ótica de Amarildo, a Seleção Brasileira precisa melhorar em seu padrão de jogo. “Não tenho lá muita confiança na Seleção, precisa melhorar muito na parte coletiva, em seu conjunto. Não adianta jogar em cima do Neymar toda responsabilidade, porque isso inclusive desmoraliza seus companheiros, pois falam só nele. Para um jogador mais talentoso decidir, o conjunto precisa funcionar. Não basta só um”, afirmou.
Para Amarildo, o nível da Copa da Rússia não passa de mediano. “Não vejo nada de extraordinário. Às vezes, a imprensa até exagera quando valoriza certos jogadores, mas porque a quantidade de jogadores com mais qualidade é pouca. Então, eles tendem a valorizar muito os que existem”, analisou.
A ausência de Daniel Alves foi vista pelo Possesso como um grande baque na Seleção Brasileira: “Esse é um grande jogador, ataca e defende com a mesma eficiência. Está fazendo falta”.
Indagado se o time comandado por Tite carece de um jogador com as mesmas qualidades de um Amarildo, aquele que chama para si a responsabilidade nos momentos decisivos, o eterno goleador de Botafogo, Fiorentina, Milan e Vasco, criado na base do Goytacaz, pondera.
— É complicado falar. Na minha época, havia Amarildo, mas também Garrincha, Didi, Pelé, outros que também assumiam essa responsabilidade de comandar uma reação. Isso não se impõe de uma hora para outra, porque cada um tem sua personalidade. Quando entrei para substituir Pelé, coloquei na minha cabeça que não era superior a ninguém, mas também não era inferior. Nilton Santos me disse: “Esquece Pelé, joga o seu jogo, faz o que você sabe”. Essa confiança fez com que eu jogasse naturalmente aquela Copa. Como um veterano — comentou.
Em relação ao futebol brasileiro atual, Amarildo considera que é necessária uma renovação na base. A ausência da Itália na Copa foi algo que o surpreendeu. “Lá ocorre a mesma coisa que acontece no Brasil. Os garotos começam na base sendo orientados por teóricos. Falta hoje ex-jogador no comando da base, porque só quem jogou pode ensinar como se domina uma bola, como se chuta, se cabeceia, noções de posicionamento, de situações de jogo, entre outras coisas”, explicou.
Sobre Campos, Amarildo lamenta a ausência dos clubes locais na disputa com os grandes do Rio e até mesmo do Brasil. E relembra com saudades da meninice e dos contemporâneos. “Campos merece estar no topo, é um grande celeiro de talentos no futebol. Sinto saudades de minha época de garoto aí, das peladas no campo do Patronato. Campos não sai de mim, porque quase sempre telefono para os amigos que tenho aí. E também rezo pelos que já se foram. Meu respeito a todos, especialmente à torcida do Goytacaz. Se o Botafogo e a Seleção foram as minhas universidades, o Goytacaz foi a minha escola”, concluiu.

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