Casaduna mantém memória viva
Jéssica Felipe 30/09/2017 17:04 - Atualizado em 06/10/2017 18:50
Atafona, vista muitas vezes pela cortina da destruição e da catástrofe, também respira um ar de resignificados para o seu cenário estético e social. Depois de séculos de fenômeno marítimo e a “naturalização” das questões socioculturais e ambientais que compõem a região, o vilarejo pesqueiro recebe a proposta de um laboratório cultural para unir pesquisa, memória e arte na busca pela valorização de personagens da vida real. A Casaduna é um espaço de carinho, com iniciativa de um artista campista que viveu grande parte da sua infância e adolescencia nesse lugar. Inaugurado em junho deste ano, o laboratório tem realizado atividades de cineclube, teatro e residência artística. O intuito é buscar parcerias para executar muito mais.
A Casaduna surgiu da relação afetiva de Fernando Codeço com Atafona. Ele, atualmente com 32 anos, filho de uma família tradicional campista, teve a oportunidade de viver bons momentos da sua vida no balneário sanjoanense. Marcado pela memória, Fernando, mesmo tendo se mudado para o Rio de Janeiro com 17 anos, nunca perdeu o contato com o lugar. Em 2015, enquanto cursava Teatro na capital fluminense, conheceu Julia Naidin, doutora em Filosofia, que pelas narrativas de Fernando logo se apaixonou pelo vilarejo. Começava então, o planejamento do casal para juntos realizarem o sonho de Fernando: unir pesquisa, arte e toda a sua relação emocional com Atafona. “Comecei a pensar, o que fazer diante de toda essa história?”, contou Codeço.
No início deste ano, ao terminarem suas respectivas pesquisas na capital, Fernando e Julia seguiram para Atafona com malas, desafios e objetivos muito bem alinhados. “Unir a memória, a arte, e nossos campos de pesquisa, com caráter colaborativo de construção de um espaço, que possa ser um centro de convergência de diversas pessoas”, pontuou Júlia, sobre as motivações do casal. Como desafio, materializar histórias e contribuir para o desenvolvimento regional. Então, após conseguirem alugar um imóvel, os pesquisadores iniciaram os trabalhos de acervos históricos, contactando personagens locais, como o escritor Jair Vieira e o pesquisador André Pinto.
— O lugar é importante, pois agrega a ideia de abrigar, temporariamente ou permanentemente, os acervos públicos e particulates existentes em Atafona e sobre Atafona, como vídeos, fotos, documentários, curtas-metragens, objetos afins para exposições com diversas finalidades culturais e educativas. Sempre houve vontade de muitos moradores de Atafona em ter um local que reunisse e resguardasse a memória local e este momento parece estar se concretizando com o funcionamento do Casaduna”, considerou André Pinto, pesquisador e guia de turismo regional.
Atividades envolvem cineclube e teatro
A Casaduna, localizada na rua Júlio Souza de Valê Júnior, 157, realiza quinzenalmente (aos sábados), sessões cineclubistas composta por uma seleção em dois recortes: filmes que foram sucesso de bilheteria, que apresentam narrativas lineares e que são relevantes para história do cinema brasileiro e filmes que fazem experimentação de linguagem, com narrativas rarefeitas ou fragmentadas. “Mais do que a possibilidade de assistir a alguns filmes, realizar um cineclube é abrir um espaço de fruição e debate sobre a arte cinematográfica. É também provocar reflexões sobre o visível, sobre o escutável, sobre a montagem e sobre as coisas do mundo por intermédio do cinema”, ressaltam os idealizadores da Casaduna.
Duna em Cena, este é o nome do grupo de pesquisa e criação em teatro da Casaduna. Os encontros são realizados aos sábados de 11h as 15h, gratuitamente. Para participar basta confirmar presença pelo e-mail [email protected]. Para André Pinto, atividades como essas são “um importante meio de comunicação, divulgação e formação para a comunidade de Atafona, principalmente àqueles que não tem condições de acesso ao meio cultural”.
O espaço também oferece a Residência Artística, um programa que fomenta o encontro entre artistas e pesquisadores nacionais e internacionais, com questões estéticas, poéticas e político-ambientais deste território específico, criando diferentes linguagens. Entre as pessoas que já passaram por lá, o diretor de “Avenida Central”, João Bernardo Caldeira.
Paulo Sérgio Pinheiro
Exposição marcada para o próximo dia 12
Para o dia 12 de outubro, a Casaduna prepara a inauguração de uma exposição sobre a memória de Atafona. Os materiais (de qualquer natureza, que tenham ligação com Atafona) podem e devem ser fornecidos por qualquer pessoa. Basta se inscrever pelo site ou contatar as redes sociais do centro de pesquisa. Já estão confirmados os trabalhos do escritor Jair Vieira e dos fotógrafos Victor Aquino e Fred Alvin.
A exposição tem previsão de duração até janeiro, com entrada franca para visitação. Fernando e Júlia programam, ainda, um Festival de Arte para o fim de ano, que contará com apresentações artísticas e culturais.
Para Júlia Naidin, esses primeiros meses de Casaduna representam uma metáfora, de como as pessoas olham para a terra e suas histórias.

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