Castro não vê perspectiva de apaziguar ânimos entre Wladimir e Bacellar
Aldir Sales 15/06/2022 16:26 - Atualizado em 15/06/2022 19:08
Genilson Pessanha
“Tem como apaziguar os ânimos entre Wladimir Garotinho e Rodrigo Bacellar até a eleição?”. Foi o questionamento da equipe de reportagem da Folha da Manhã ao governador Cláudio Castro (PL) na saída do evento de lançamento das obras de urbanização do Parque Saraiva, nesta quarta-feira (15). E a resposta foi direta: “não tem como”. Em cima do palco, ânimos acirrados foram o que não faltou. Depois de Wladimir discursar em tom de conciliação, Bacellar não poupou o prefeito, o acusou de ingratidão ao governador e disse que ele teria gravado um vídeo na noite anterior para atacar o ex-prefeito Rafael Diniz. Houve quatro tumultos no público presente, entre apoiadores dos dois lados, e a Polícia Militar teve que intervir e separar. Logo após, Castro seguiu para um almoço ao lado de Bacellar com a presença de praticamente todos os ex-prefeitos de Campos desde a década de 1990, com exceção da família Garotinho, onde o clima estava mais calmo e tudo correu tranquilamente. Antes, o governador elogiou Wladimir, mas ainda rebateu as críticas que têm recebido de Anthony Garotinho: "ele é uma piada".
A escalada tensão entre os grupos do prefeito Wladimir Garotinho e do deputado estadual Rodrigo Bacellar chegou a um novo patamar com a presença do governador Cláudio Castro na terra natal dos dois campistas. O próprio governador admitiu que não há perspectiva de apaziguamento até as eleições e um novo capítulo deste Fla-Flu político teve momentos tensos em cima e fora do palanque montado no Parque Saraiva. Os moradores do bairro convivem com lama, poeira, inundações e vários outros problemas desde 2016, quando a ex-prefeita Rosinha Garotinho começou, mas não terminou as obras do Bairro Legal na localidade.

O clima já estava quente antes da chegada das autoridades e ficou ainda pior durante os discursos. Houve confusão entre apoiadores de Wladimir e Rodrigo, que tiveram de ser separados pela Polícia Militar.

Depois de outras autoridades, Wladimir discursou em tom de conciliação, inclusive citando Bacellar, mas sem deixar de cutucar o ex-prefeito Rafael Diniz.

— A gente entende perfeitamente que as militâncias fazem parte da política, mas hoje é dia de gratidão. É dia que nossa cidade precisa agradecer pela parceria, pela dedicação de todos os atores políticos. (...) Independente das plateias que aplaudem A ou B, o importante, neste momento, é que a cidade de Campos está ganhando. Eu costumo dizer que a obra é do município. Todo gestor que assume, deve terminar a obra que o outro começou. Infelizmente, isso não foi o que aconteceu com o prefeito que me antecedeu e parou a obra. A gente fica feliz pela parceria e pela continuidade da obra. Agradeço a todos os deputados, Bruno Dauaire, Bacellar, Rosenverg (Reis), Max (Lemos). As brigas e diferenças a gente deixa para o lado de fora. Aqui, hoje, é dia de celebrar e agradecer — declarou o prefeito, em meio a aplausos e vaias do público formado, em maioria, por militantes ligados aos dois grupos políticos.

Na sequência, foi a vez de Rodrigo Bacellar assumir o microfone. Também em meio a aplausos e vaias, o deputado e ex-secretário estadual de Governo, por sua vez, não poupou a família Garotinho e acusou o prefeito de ingratidão ao governador.
— Quem conhece a família Bacellar sabe que não temos papas na língua. Não tenho medo de vaia, de cara feia, de porrada, de nada. Eu tenho respeito com o próximo. É muito fácil chegar no palco, como tem acontecido há muito tempo nesta cidade, e pregar a paz, dizer que é dia de festa, mas ontem à noite, o prefeito saiu de casa com aquele frio que estava, e veio aqui na rua às 23h para falar mal do ex-prefeito (Rafael Diniz). Não tenho procuração para falar do ex-prefeito, mas falar dele é sacanagem porque quem veio aqui tirar o paralelepípedo do Parque Saraiva foi a mãe do prefeito (Rosinha). Tudo tem que ser colocado no seu devido lugar — disse Bacellar, que complementou:

“Falar de Parque Saraiva é mole... Gravar vídeo falando que a obra é em parceria com o Estado. Que parceria é essa? É o governador que paga 100% da obra. O projeto está com erro básico e é da prefeitura, mas isso ninguém vê. Tem que parar com essa palhaçada de vídeo, de blábláblá, de atacar os outros. Tem que parar de ser ingrato com o governador que faz tudo por Campos. Que o pai do prefeito chama de ladrão todo dia. Que parceria é essa? Não sou desleal com meus amigos”.

Castro x Garotinho

Com a missão de se equilibrar entre os dois apoiadores que são rivais entre si, Cláudio Castro reafirmou a amizade com Wladimir, mas disse “saber separar” e mostrou não se esquecer das críticas que tem recebido do pai do prefeito, o ex-governador Anthony Garotinho, e de sua irmã, a deputada federal Clarissa Garotinho. Questionado na saída do evento, o governador chamou Garotinho de “uma piada”.

— O Parque Saraiva precisa de dignidade, de gente que respeita o povo. Não viemos aqui para criar briga. Campos é assim, o sangue ferve mesmo. A gente entende que isso faz parte. (...) O mais importante não é quem fez a obra, é que a obra chegue na população. Ninguém nunca me viu em palanque bradar que eu fiz isso ou aquilo. (...) Não tenho como deixar de ser verdadeiro e, sem querer colocar lenha, mas tem gente que colocou muita lama e quer voltar. Não tenho como agradecer a parceria com muita gente boa. Quero agradecer a parceria com Rodrigo Bacellar, mas quero, sim, agradecer a parceria com o prefeito Wladimir Garotinho. Meu amigo. Ninguém faz nada sozinho.

Em uma referência a Garotinho, que vem gravando vídeos na rede social Tik Tok, Castro criticou a falta de “palavra e gratidão”, mas reafirmou sua amizade com o prefeito. “O Rio de Janeiro está saindo desse momento de crise porque estamos trabalhando juntos no Governo do Estado. Eu entendo e respeito as disputas locais, só que eu vou trabalhar com todos. Aprendi com meu pai a ter palavra e gratidão. Estamos falando de realizações do Governo do Estado. Pode gravar Tik Tok, mas estamos vendo realizações em Campos que não acontecem há muitos anos. Eu sei separar, eu sou amigo do Wladimir. Ele é um amigo que eu tenho e não vou mudar isso por briga política. O resto, para mim, não vale nada, com todo o respeito”.

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