De um dia pro outro
Ronaldo Junior
Fonte: Pixabay.
Ver excessivamente prejudica o imaginar por falta de fechar os olhos.
 
Sem dar conta de todo o acontecido, a memória deixa de lado as parcas informações deixadas à mostra.
 
Mas o que fica na memória profunda não se revê pelas retinas, faz parte delas, que se entranham pelas cores do amanhecer cotidianamente esquecido.
 
Há muito mais para pensar além da lembrança individualista, há muito de construção para além - para antes - da pessoa formada ao par de olhos e sensações, há muito ao redor para ser só memória dos sentidos.
 
A parede estala com o calor excessivo. A chuva nela escorre e respinga como se banal, minando aos poucos a concretude cimentícia dos materiais.
 
Assim é a insistência dos estímulos, que em pancadas graduais invade o teatro da memória - essa ficção do acontecido seletivamente guardado - e dissimula o que ladeia as nuances da narrativa.
 
-Que horas são?
 
-Falta um minuto para a meia noite.
 
Mas também nada se faz em um minuto. Depende mesmo de um ano inteiro para alcançar o que só se verá no minuto final do ciclo seguinte.
 
Tudo passa num relance. E tudo começa no instante seguinte, como mágica. Ou como constante continuar sentindo pela fresta do muro que tende a virar ruína. O passar de um minuto muda tudo e muda nada, depende se é passagem, se é passado ou se é possibilidade.
 
*Ronaldo Junior tem 26 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
Escreve aos sábados no blog Extravio.

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    Ronaldo Junior

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    Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.