Quem acompanha a política de Campos é impossível nunca ter ouvido falar dos conflitos entre os Garotinho e os Bacellar. Algo que vem de pai para filho, que começou quando o patriarca Marcos Bacellar entrou na política e passou a fazer oposição a outro patriarca, Anthony Garotinho. O próprio Bacellar ressalta o seu pioneirismo ao enfrentar o seu opositor no mesmo tom. Difícil esquecer o dia em que o ex-presidente da Câmara se passou por um ouvinte e entrou, ao vivo, no programa de rádio do ex-governador, o chamando de “pilantra”. Lá se vão 15 anos de uma relação que já teve vários momentos quentes, mas que ganhou capítulos de destaque no último ano.
Pacificação
Os protagonistas agora nem são mais os pais, apesar do peso inegável dos nomes e trajetórias, mas, se depender das juras de paz feitas durante a posse da nova presidência da Câmara, o clima promete ser mais ameno daqui para frente, pelo menos, por enquanto. O Legislativo vive uma pacificação após um ano tumultuado que resultou na eleição de vereadores de oposição para a Mesa, com Marquinho Bacellar na presidência. As discussões acaloradas, pautas trancadas e ameaça de perda de mandato de vereadores, que faltavam sessões por não concordarem com a suspensão da primeira eleição em que Fábio Ribeiro “perdeu”, parecem ter ficado para trás.
Costura de Cláudio Castro
O fim das brigas que marcaram 2022 foi, segundo os próprios políticos, costurado nos bastidores pelo governador Cláudio Castro entre os grupos do prefeito Wladimir Garotinho (sem partido) e do deputado estadual licenciado Rodrigo Bacellar (PL), atual secretário estadual de Governo. Mas até se chegar a esse entendimento, os dias foram de muita tensão, impulsionada por um fato ainda em 2021, quando uma polêmica entre Rodrigo e Wladimir ganhou grandes proporções por envolver, de forma desnecessária, a primeira-dama Tassiana Oliveira, como mostrou o Blog Opiniões, do jornalista Aluysio Abreu Barbosa (aqui).
Desculpas
Tanto Wladimir, quanto Rodrigo marcaram presença na posse da nova Mesa Diretora, nessa segunda, que acabou sendo um momento para que os dois deixassem ainda mais em evidência que estão se “entendendo em prol de Campos”, inclusive com muitos abraços e fotos. O secretário de Castro aproveitou para se desculpar publicamente com Wladimir e Tassiana, mesmo que o prefeito, segundo Rodrigo, tenha dado o assunto como superado sem a necessidade de desculpas públicas. Daí para frente foi só relembrar os tempos em que, de acordo com eles, foram bons amigos e sabiam separar as discussões acaloradas vividas por seus pais.
Wladimir fez questão de relembrar que ele e Rodrigo eram amigos há muito tempo, mas que se afastaram durante um período pelo “calor da política” e ressaltou que é bom voltar a falar com “um grande amigo”. Em outro momento, se referiu diretamente a Marcos Bacellar na plateia, comentando que se ainda existia alguma diferença herdada dos conflitos entre seu pai Garotinho e o ex-vereador, da parte dele, se encerrava ali. Rodrigo, que se apresentou também como candidato à presidência da Alerj, até então único nome, disse que é humanamente impossível viver na política sem atrito, mas fez questão de se referir a Wladimir como “irmão”.
No fígado
Para o deputado licenciado, os grandes adversários de ontem podem ser os grandes amigos de amanhã. “Nunca, na vida, a gente vai viver em harmonia plena, isso não existe, isso é hipocrisia. É humanamente impossível a gente viver num ambiente de política sem atrito. Mas a gente precisa aprender que até os atritos, meu querido amigo Wladimir, têm limite (...) A gente do interior leva a política muito para o fígado e quando você chega na capital você aprende que tem que sentar na mesma mesa às vezes com o seu maior opositor”, discursou Rodrigo, pedindo que Wladimir reconstrua a relação.
Reconhecimento
Rodrigo também não deixou de citar os pais do prefeito, ressaltando a importância deles para o Estado. “Vocês não sabem a fama e a importância do município de Campos, muito das vezes levada pelos seus pais, meu irmão, a ser reconhecida como uma das cidades mais importantes do estado do Rio de Janeiro. Então, a gente tem que ter orgulho sim, erros acontecem. Teu pai cometeu um monte, tua mãe cometeu um monte, meu pai, quando presidiu aqui, cometeu, Mocaiber também cometeu, mas também acertaram demais. E eu acho que a história não pode ser apagada”.
Sem morrer de amores
Marquinho Bacellar, que assumiu a Câmara, também seguiu a linha do irmão. “Wladimir, a gente não precisa morrer de amor, mas precisa se respeitar. Ainda temos dois tempos para reconstruir a história da nossa cidade. O momento de briga passou. Vamos construir uma nova história sem guardar ódio e rancor. Estou com o coração aberto e limpo para ser o presidente desta Casa”, destacou Marquinho, agradecendo a presença de vários secretários municipais, pedindo que eles estejam mais presentes na Câmara.
