Natal com clima de pacificação política
Arnaldo Neto 24/12/2022 09:39 - Atualizado em 24/12/2022 10:38
O período de Natal costuma mexer com os sentimentos de muita gente. Coincidência ou não, foi a mesma época na qual a “pacificação política” ganhou forma na planície. Ninguém passou a se declarar melhor amigo de ninguém, nem se faz de esquecido depois de tantas polêmicas, mas as principais forças políticas da cidade no momento resolveram selar um acordo de paz. Talvez o principal mediador tenha sido o governador Cláudio Castro (PL). Mesmo com todas as confusões envolvendo os Garotinho e os Bacellar, ele conseguiu manter ao seu lado o prefeito de Campos, Wladimir (sem partido), e Rodrigo (PL), deputado estadual reeleito e atual secretário de Governo. Um reflexo dessa harmonia entre adversários políticos foi visto no início da semana, após o rompimento do dique na XV de Novembro. Enquanto não surgir uma nova polêmica, especialmente na Câmara, que terá Marquinho Bacellar (SD), irmão de Rodrigo, como presidente, não parece haver motivos para abalar a pacificação.
Para quem acompanha a política campista, é impossível não lembrar das inúmeras trocas de farpas, que algumas vezes até ultrapassaram a linha da vida pública e chegaram a questões pessoais. Nem tem como esquecer a tensão no lançamento das obras do Parque Saraiva, quando a presença de Castro não foi suficiente para arrefecer o clima. Muito menos apagar toda confusão no Legislativo, com eleição anulada, pedido de destituição de Mesa, processos de cassação da oposição, entre outros episódios. Nas redes sociais, as alfinetadas entre “torcedores” de um grupo e do outro continuam. E é claro que políticos também não deletam a história da memória, mas a proposta deles, ao menos até agora, é deixar tudo no passado para que alianças sejam traçadas para o bem de Campos.
Na cerimônia de diplomação dos candidatos eleitos do Rio de Janeiro, no último dia 16, uma foto foi símbolo dessa pacificação. Wladimir e Rodrigo juntos, ao lado dos deputados estaduais reeleitos Bruno Dauaire (União) e Chico Machado (PSD), como mostrou a Folha no último sábado. A jornalista Berenice Seara, do Extra, que também cobre os bastidores da política fluminense, chegou a destacar que “quem está com a presidência da Alerj nas mãos, não quer guerra com ninguém”. Bacellar costura, tendo o apoio de Castro, sua candidatura como única a presidente do Legislativo estadual. Ainda secretário estadual de Governo, ele afirma que é preciso acabar com a confusão em Campos.
— Eu entro no Palácio às 7h, sem hora para ir embora, e aí eu não posso ficar com essa questão de Campos pendente. Então, pedi ao meu irmão lucidez do Poder Legislativo de Campos; conversei com o Wladimir. Estamos tentando ter esse diálogo para o bem de Campos. Se a gente não consegue torcer para o mesmo time, que um seja Flamengo e o outro seja Vasco, mas que saibam se sacanear na hora do jogo, na vitória de um e na derrota de outro, mas depois sentar, conversar, tomar uma cerveja, brincar, e aí respeitar aquilo que faz com que estejamos onde estamos, que é o voto da população. A população não quer mais briga, não quer mais conflito, porque quem perde é ela. É com esse mesmo espírito que o governador Cláudio Castro trouxe para a gente no Rio de Janeiro que a gente está tentando fazer em Campos também — afirmou Rodrigo.
Wladimir destacou a harmonia entre lideranças políticas e lembrou de conquistas alcançadas com o apoio de Castro: “O clima hoje, entre todos os representantes, é de pacificação, respeitando as diferenças, respeitando as opiniões contrárias, mas o clima é de pacificação. Temos um governador que atende às nossas demandas. Campos foi a cidade que mais apresentou projetos, e por isso tem muitas obras em andamento, já licitadas. Na última semana, deu ordem de serviço em mais duas obras grandes na cidade, no formato Bairro Legal, ali no Parque Novo Mundo, Santa Clara, Rio Branco, Bela Vista, Jardim das Acácias, enfim. Acho que o caminho agora é de união, pacificação, para a gente avançar ainda mais”, pontuou.
O cenário de diálogo aberto entre grupos opositores facilitou, por exemplo, a interlocução da Prefeitura de Campos e do Governo do Estado. Na terça-feira (20), manhã seguinte ao rompimento do dique na XV de Novembro, Rodrigo e Wladimir contaram que estavam em constante diálogo para buscar uma solução para o caso. O secretário estadual de Governo relatou o envio de uma equipe técnico para acompanhar a situação. À noite, coube ao prefeito anunciar o início das obras no dia seguinte, com apoio do Governo do Estado.
O clima de pacificação não significa necessariamente na união dos grupos no palanque eleitoral. Aliás, essa nem é uma possibilidade levantada por nenhum interlocutor dos Garotinho, nem dos Bacellar. Ao retornar as sessões do Legislativo, a partir de fevereiro, é provável que divergências voltem, inclusive, a ganhar destaque. “Discordância é normal, não pode é ter clima de guerra. Guerra não faz bem a ninguém”, disse Wladimir.
Teste de fogo será com retorno da Câmara
Quem conhece os bastidores da política de Campos sabe que o retorno das sessões na Câmara, a partir de 15 de fevereiro, será essencial para saber a validade do clima de pacificação. Aliás, só foi possível chegar a esse momento da política campista após o governo aceitar a derrota na eleição da Mesa Diretora, com a oposição flexibilizando o percentual de remanejamento do Orçamento de 2023 — Castro, mais uma vez, participou dessa interlocução.
O Legislativo será comandado por Marquinho Bacellar. Para Wladimir, pelo bem da cidade, precisará ser mantida a harmonia dos poderes:
— O diálogo vai ter que ser maior, é natural. Eu acho que todo mundo amadureceu muito. Marquinho está no primeiro mandato, com certeza amadureceu em dois anos. Eu também, com meu primeiro mandato à frente do Executivo. Tive algumas conversas reservadas com ele também, e a pré-disposição dos dois lados é de diálogo. Não adianta o Legislativo tentar construir projeto sem conversar com o Executivo, porque às vezes não tem como ser cumprido; e também não adianta querer entubar no Legislativo projetos prontos. Estou muito confiante para o próximo ano.
Após vencer a disputa pela Mesa, o líder da oposição na Câmara afirmou que apesar das divergências com o prefeito, sua gestão não será responsável por atrapalhar o governo. “Quem espera uma Câmara atrapalhando o prefeito, brigando o tempo todo, está enganado. A gente brigou porque foi necessário brigar, foi necessário subir o tom, foi necessário às vezes baixar o nível na Câmara, porque a gente estava buscando respeito”, declarou Marquinho, em recente entrevista ao Folha no Ar.
Com a experiência de quem presidiu a Câmara em um período muito conturbado, Fábio Ribeiro (PSD), também em entrevista ao programa da Folha FM, falou o que deseja ao novo presidente: “Desejo ao Marquinho muita luz, mais paz do que eu tive (risos)”.

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