A crise silenciosa no Flamengo: um problema espiritual que nem Jesus consegue resolver
04/04/2022 16:41 - Atualizado em 04/04/2022 19:20
Culpar o treinador é um discurso tão fácil e superficial que parece não convencer mais uma parte importante da apaixonada e raivosa torcida do Flamengo. Felizmente a parte do público mais raivosa e irracional parece ter diminuído ou mudado parcialmente suas disposições. Comentaristas rasos que só sabem jogar com as emoções deste público, como é o caso exemplar de Renato Maurício Prado, não tem aquele espaço todo que sempre tiveram neste tipo de crise. Paulo Souza é um treinador competente e já mostrou isso. Mas além de tempo, precisa da cooperação dos jogadores para realizar um bom trabalho.
Ocorre que o Flamengo está com um elenco arrogante, acomodado e desonesto: o time claramente está boicotando o trabalho do treinador, como já fizeram antes com Dome e Ceni. Há um problema “espiritual” no grupo. E foi a presença de espírito do Fluminense que derrotou a arrogância do Flamengo. Assim como foi a presença de espírito do Palmeiras que ajuda a explicar a virada épica contra o São Paulo. Não falta apenas o famoso, amado e necessário “plus” da “raça” em campo, mas também e principalmente respeito à hierarquia organizacional e portanto ética profissional. Como afirma Mauro Cezar: esses jogadores estão manchando sua própria história no clube.
É evidente que o trabalho de Paulo Sousa não surtiu os resultados esperados. Demonstrou avanços no começo, mas a equipe retrocedeu de modo inaceitável nos últimos jogos, especialmente no último. Neste jogo, os jogadores cumpriam as posições, mas não faziam os movimentos requeridos pelo esquema tático. Os generosos buracos entre as linhas foram o resultado desta indisciplina do time em correr como manda o treinador e sua tática.
Tem cara de boicote, rabo de boicote, pele de boicote. Não pode ter sido outra coisa. O grande problema do Flamengo não é o treinador. É a equipe. Obviamente não toda a equipe. Mas uma parte bem maior do que imaginamos. Há ervas daninhas poderosas que precisam ser arrancadas. Jogador não tem que pedir pra treinador ser flexível e mudar o esquema de jogo de acordo com suas preferências e seu comodismo. Jogador é pago, e no caso muito bem pago, para fazer o que o treinador manda. Se Paulo Sousa cair, será o terceiro treinador que essa panelinha de velhos cansados derruba. E se voltar, com a vitória da panelinha sobre mais um técnico, nem Jesus salva o Flamengo de sua grave crise na cultura organizacional do futebol. Precisamos de uma barca grande e generosa, e sobretudo de uma mudança política no futebol do clube que inviabilize esse boicote inaceitável que alguns atletas estão fazendo. Paulo Sousa tem que ficar e os velhos devem ir caminhar na praça. A manutenção do treinador é um posicionamento político essencial para resolver a crise.
 
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Roberto Dutra

    [email protected]