O Solar e o Arquivo - simbiose que há 20 anos salva a história de toda uma região
- Atualizado em 18/05/2021 17:34
PMCG
Alguns séculos antes do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho existir, a construção que o abriga já estava lá — bela e imponente. Essa coisa da “imponência” pode chegar aos “ouvidos” de quem lê de formas diferentes. A forma intencional aqui é trazer ao leitor as projeções mentais de uma construção antiga, sólida e grande. A maior construção histórica em alvenaria de toda região Norte Fluminense. O Solar do Colégio — morada do Arquivo há 20 anos — foi construído pelos padres da Companhia de Jesus, no século XVII. Uma fortaleza erguida em Tocos, na mítica Baixada Campista, que resistiu aos séculos e ao abandono, mas que renasceu há duas décadas.
Como toda construção histórica, carrega em suas paredes marcas de um passado glorioso. Mas também tenebroso. Marcas que visíveis no Solar. No século XIX, ele foi sede de uma das maiores fazendas escravistas do Brasil, contando à época com mais de 1500 escravos, entre nativos e negros. Como conta a historiadora Larissa Manhães, hoje integrante da equipe do Arquivo: "ele (o Solar) foi construído com tijolos queimados e telhas fabricados na própria fazenda. Cada um desses tijolos continham as marcas de produção deixadas pelos cativos que lá trabalhavam, marcas que, feitas com as mãos são um registro da severa escravidão ocorrida naquele local”. O majestoso Solar também abrigou em seu interior o primeiro hospital da região, destinado a prestar atendimento de saúde aos escravos.
Seu antigo proprietário, João Batista Vianna Barroso, o “Sinhô Barroso”, se recusou a abandonar o Solar e apenas depois de sua morte, em 1980, a desapropriação foi finalizada. Antes disso, e ainda de acordo com Larissa, no dia 24 de julho do ano de 1946 — e graças a uma campanha feita por Alberto Lamego, um pesquisador e memorialista campista, nascido em Itaboraí — o Solar do Colégio e outros bens foram tombados pelo Iphan. O Solar foi inscrito no Livro de Belas Artes sob o número 308. O Solar é considerado como sendo um exemplar da arquitetura jesuítica e portuguesa, valorizada à época.
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Hoje ele continua uma fortaleza. É guardião nossa história. Abriga uma das instituições culturais mais importantes da região e é considerado o 5º melhor Arquivo Público do país. O nosso Arquivo comemora hoje 20 anos de existência. Na concepção fria, um Arquivo tem a função de conservar e tronar disponível os documentos acumulados por órgãos dos poderes executivo e legislativo, no âmbito da administração municipal, garantindo a memória do município através desses documentos. Mas, em uma região essencial para compreensão do país como é o Norte Fluminense, o Arquivo se torna um instrumento vivo, protegido pelos tijolos cheios de marcas do Solar do Colégio. Que devemos lutar para que assim permaneça. Vida longa ao Arquivo!
Rafaela Machado, atual diretora: 
 
“A comemoração desses 20 anos do Arquivo é certamente um marco na história da instituição e representa divulgar ao público e tronar cada vez mais conhecido o Arquivo e seu acervo. Eu sempre repito que não existe Arquivo sem o Solar e Solar sem o Arquivo, a gente precisa de um e do outro para dar vida. E pensar também, nesse momento tão importante da história que precisamos defender a descentralização dos equipamentos culturais, dos espaços de cultura e universalizar o acesso. É isso que a gente planeja e pretende para os próximos anos de atividade do Arquivo”.
 
Carlos Freitas, primeiro diretor do Arquivo:
“Esse 18 de maio, e os próximos, deve ser comemorado como um marco para a preservação da memória da região Norte Fluminense, pois o Arquivo Público Municipal, criado há 20 anos, é um fato da mais alta importância. Não consigo esquecer as lutas e conversas com políticos e pessoas envolvidas com a cultura de Campos. Justiça deve ser sempre feita à luta e perseverança da professora Lana Lage e apoio de instituições como a UENF. Essencial foi o apoio do vereador Edson Batista, autor do projeto da lei municipal de criação do Arquivo. Não consigo citar todos os que apoiaram esse projeto, mas foram essenciais também. 
Uma instituição de preservação de documentos é primordial para que os cidadãos e o poder público possam contar com informações sobre o passado da região, e assim, se basear em novos empreendimentos. Desejo, profundamente agradecido, a todos os que partilharam comigo da implantação do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, o mesmo entusiasmo e dedicação, além de trabalho árduo, para o engrandecimento e continuidade de uma instituição com permanente dedicação à preservação da memória da região Norte Fluminense”.
Edson Batista, ex-vereador, autor da Lei que criou o Arquivo:
"Quando decidi criar a Lei do Arquivo Público Municipal de Campos em 2001 foi para centralizar os documentos da história de Campos, que estavam dispersos em vários locais. O acervo da UENF estava na Casa de Cultura Villa Maria e o Solar do Colégio iria ser a sede da Escola Brasileira de Cinema e Televisão que o Darcy Ribeiro havia projetado para a UENF, mas que não saiu do papel. Foi quando o governador Anthony Garotinho então cedeu o prédio do Solar do Colégio, que pertencia ao estado e iria ser utilizado para a Escola Brasileira de Cinema e Televisão da UENF, para ser a sede do Arquivo Público Municipal de Campos com o objetivo de guardar e disponibilizar para pesquisas o acervo da nossa história.
"Quando os Diários Associados encerraram o Monitor Campista, o acervo do Monitor foi para os Diários Associados no Rio de Janeiro. Houve um movimento pela volta do acervo do Monitor para Campos e eu pude colaborar para a volta do acervo do Monitor para Campos porque entre os locais pensados a Câmara foi escolhida para ter a guarda do acervo do Monitor, que depois foi encaminhado para a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro para digitalização. Na Escola Municipal de Gestão do Legislativo (Emugle), criada na minha administração, tínhamos a Central de Digitalização, onde digitalizamos documentos como atas da Câmara, livros de escritores de Campos e revistas de Campos, que foram disponibilizados na Biblioteca Digital Campistana hospedada no portal oficial da Câmara Municipal. Depois de 20 anos de história da minha Lei que criou o Arquivo Público Municipal de Campos, a luta agora deve ser pela digitalização do acervo do Arquivo Público para que este possa ser disponibilizado para o mundo inteiro por meio da internet. O caminho é este. Na Emugle também realizamos cursos sobre a História de Campos, de Paleografia e Restauração de Documentos, em parceria com o Arquivo Público, ministrados pela Rafaela Machado e sua equipe para qualificação de pessoal para realizar serviços específicos necessários para o trabalho fundamental desenvolvido pela equipe do Arquivo Público, que é um patrimônio de Campos e região, que precisa ser valorizado, recuperado e preservado porque trata-se da nossa memória e da nossa história, que não pode ser perdida e esquecida. Vida longa ao Arquivo Público Municipal de Campos!"

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    Edmundo Siqueira

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