Ponto de inflexão
08/04/2020 13:43 - Atualizado em 08/04/2020 13:43
O jornal O Globo fez uma ótima matéria na sua edição de domingo (aqui, somente para assinantes) com o consagrado repórter fotográfico Sebastião Salgado, de renome internacional, que vem preparando uma exposição sobre a Amazônia.
Habituado a rodar o planeta retratando as maiores tragédias humanas (entre guerras, êxodos ou a fome) e os mais belos e intocados cenários (em expedições para o projeto “Gênesis”), Sebastião Salgado está hoje confinado em casa, com sua esposa, como boa parte do mundo.
Na entrevista, que aborda a visão dele deste momento do mundo, destaco essa passagem, que vale para reflexão de todos:
O Globo - Você fotografou as maiores aglomerações humanas e paisagens intocadas. Qual seu sentimento ao ver, hoje, o mundo parado?
Tenho a impressão de que estamos vivendo um ponto de inflexão. Daqui para frente, certamente será uma outra coisa. Acredito que haverá uma preocupação muito maior com a natureza e com o planeta. Nossa sociedade foi se dirigindo cada vez mais para a superficialidade. Veja o que é o Produto Interno Bruto (PIB) dos países ricos. Quando se anda na rua, se nota a enorme quantidade de lojas de roupas e de alimentação sofisticadas, e de tantas coisas que, se cessarem, não mudará nada para a sociedade, porque nada disso é essencial. Fomos na direção de uma composição do PIB feita de superficialidades, de sofisticações desnecessárias. Quanto mais se é rico, mais se torna consumidor de coisas superficiais, que têm, cada uma delas, um preço para o planeta, por sua marca de carbono, de matérias-primas, de minerais, de petróleo. O conceito de essencial para nós foi mudando. Estamos muito perto da própria morte ou da morte de nossos próximos para dar valor à superficialidade. Penso que com que o agravamento desta epidemia, muitos valores vão mudar na sociedade. Voltaremos a um conceito de essencial, de proteger a natureza, de realmente produzir pelo bem-estar do ser humano, e não por seu egoísmo e por outros valores que foram sendo impostos por todo um sistema. A razão de viver é viver, é o bem-estar.

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    Christiano Abreu Barbosa

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