Cabral diz que esquema de propina começou no governo Garotinho
03/02/2020 18:25 - Atualizado em 03/02/2020 19:33
O ex-governador Sergio Cabral (MDB) afirmou, em depoimento na Justiça Federal do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (3), que os seus antecessores no cargo Anthony e Rosinha Garotinho começaram um esquema de arrecadação de propina de empresários que cobraria até 20% de empresas com contratos com o Governo do Estado.
No depoimento, Cabral relatou que o também ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) – então seu vice e secretário de Obras – ajudou a estruturar o esquema, que teria passado para o valor de 5% durante sua administração.
— Antes, eram 15% a 20% pagos aos governos anteriores da Rosinha e [Anthony] Garotinho. Eu estabeleci junto com Pezão o percentual de 5%: 3% para o meu núcleo, 1% para o núcleo dele, que era a Secretaria de Obras, e 1% para o TCE (Tribunal de Contas do Estado), para aprovação das licitações — disse Cabral.
Cabral disse ainda que Pezão foi o inventor da chamada "taxa de oxigênio", mas que esta propina estava englobada nos 5% cobrados dos valores.
— O vice-governador Pezão participou da estruturação dos benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo (da organização criminosa). Desde mesmo da campanha eleitoral e durante os oito anos em que fui governador e posteriormente tenho algumas informações a respeito (da continuidade do esquema)", disse Cabral.
O ex-governador disse ainda que recebia uma mesada de R$ 500 mil da Fetranspor. Em abril de 2014, ao renunciar ao cargo para o sucessor, afirmou que Pezão deveria receber. Além disso, Pezão teria recebido R$ 30 milhões só da Fetranspor para a campanha a sucessão.
"Foram R$ 30 milhões [da Fetranspor] para o governador Pezão para sua estrutura [de campanha) e R$ 8 milhões para meus deputados a quem eu tinha interesse de ajudar. Quando chegou em 2015, Pezão me procurou para me ajudar financeiramente, ele se ofereceu. (...) A campanha dele chegou a R$ 400 milhões, então teve sobra de caixa e ele me ofereceu. Essa situação [do repasse de Pezão a Cabral, de R$ 500 mil] ficou 4, 5 meses em 2015".
Há duas semanas, por telefone, o ex-governador negou as denúncias. Ele diz que, em depoimento, empresários negam as denúncias feitas por Cabral e Miranda. "Na acareação, o Miranda - que tinha apontado R$ 40 milhões - fala em R$ 25 milhões. Não é verdade. Nenhum empresário confirma o que ele está dizendo", afirmou.
Em postagem nas redes sociais, Garotinho negou as acusações de Cabral. "Hoje, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, Sérgio Cabral confessou alguns de seus crimes e a participação de seu vice, Pezão, em alguns deles. Seu ressentimento em relação a mim e a Rosinha ficou evidente ao afirmar que 'diminuiu a taxa de corrupção antes praticada'. Se tem alguma prova contra mim deve entregá-la ao Ministério Público, como fiz em relação a ele seus comparsas. Não respondo a nenhum processo na Lava Jato, apenas ações movidas pela Justiça de Campos, por perseguições de grupos locais".

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Aldir Sales

    [email protected]