O errado que dá certo - Casal improvável
24/06/2019 20:24 - Atualizado em 26/06/2019 13:59
(Casal improvável) — Dentro do gênero “comédia”, criou-se o subgênero “comédia romântica”, também conhecida como “comédia de casais”. Ele começou bem com o inesquecível Ernst Lubitsch, na segunda década do século XX, na Alemanha. Depois, já nos Estados Unidos Lubitsch criou o “musical”, outro subgênero que pode ser combinado com o drama ou com a comédia. Geralmente, ele associou o filme cantado (não apenas falado) à comédia.
Lubitsch deixou discípulos ou, pelo menos, admiradores. Billy Wilder, William Wyler, Rob Reiner e Woody Allen tornaram-se famosos na direção de comédias românticas. Na verdade, Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd flertaram com a comédia romântica, mas não ficaram marcados por ela pelo talento individual.
O subgênero teve seu momento de glória, mas vulgarizou-se e decaiu bastante. Hoje, os nomes de Adam Sandler e Jennifer Aniston estão associados a comédias românticas repetitivas e sem criatividade. No meio da mediocridade que os Estados Unidos exportam, aparece, vez ou outra, algo que merece atenção. É o caso de “Casal improvável”, com roteiro de Dan Sterling e Liz Hannah e dirigido por Jonathan Levine.
A combinação de Charlize Theron e Seth Rogen deu certo. Ele é um jornalista judeu simpático ao partido democrata, crítico, idealista, solitário, brigão, com aspecto desleixado. Ela é Secretária de Estado do governo norte-americano. Alta, magra, bonita, inteligente, ela está a serviço de um presidente imbecil, bem ao estilo da era Trump. Suas posições progressistas contrastam com as do governo a que serve. Ela foi o primeiro amor da vida do jornalista. O acaso os coloca frente a frente numa situação inusitada. Ele está desempregado e é convidado pela Secretária para trabalhar em sua campanha à presidência do país. Em campanha por vários países do mundo, nasce uma atração improvável entre ambos. O relacionamento é contraindicado para quem pleiteia a presidência.
Num drama, não há liberdade para tudo. Na comédia sim. Uma candidata pode se relacionar com um secretário, pode mergulhar em orgias rápidas, pode cometer loucuras temporárias. Como de hábito, o casal se forma e se separa, descobrindo no final que o amor é mais importante que a política, a fama, o poder e o dinheiro. Como sempre, também, não se livra do passado, seja porque ele é muito marcante, seja para o homenagear. Uma passagem em que o jornalista se masturba e lança inadvertidamente esperma em sua barba é algo criado por Amodóvar num de seus filmes de forma semelhante. O último discurso da candidata tem como precedente o discurso final de Chaplin em “O grande ditador”, um pronunciamento que destoa completamente do pensamento de Hitler. Em “Casal improvável”, o discurso que parece encerrar a vida política da candidata é a sua salvação política e amorosa.
Com todo o entrosamento entre o casal, falta um pouco de charme ao filme, principalmente na trilha sonora de Marco Beltrami e Miles Hankins. Uma comédia romântica precisa de boa música. Esse sempre foi o segredo de Woody Allen.

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