Alunos da Uenf em ato contra cortes e proposta da CPI das universidades
Ícaro Barbosa 30/05/2019 08:51 - Atualizado em 06/06/2019 14:51
Isaías Fernandes
Estudantes da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) realizaram, na manhã desta quinta-feira (30), uma manifestação na avenida Alberto Lamego, em frente à instituição. O ato é contra o corte de verbas anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e, também, contra a proposta de CPI das Universidades Estaduais. Os alunos atearam fogo em pneus e, após as chamas terem sido apagadas, eles permaneceram no local com faixas.
Presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE), Gilberto Gomes explicou que a manifestação está ligada ao Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Educação, que é uma preparação para o dia 14 de junho, para quando está prevista uma greve geral.
— A gente se manifesta, em especial, contra os cortes anunciados pelo governo Bolsonaro. O que muita gente precisa entender é que a Uenf, apesar de ser estadual, tem verba federal. Tem verba federal no restaurante universitário, nas bolsas Capes e CNPQ. Já foram cortadas 20 bolsas Capes na Uenf por conta disso — apontou.
Outro problema relatado por estudantes é a proposta da CPI das Universidades Estaduais, feita pelo deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL).
— A proposta tem sido ventilada desde o início do governo Witzel e é tocada, principalmente, pelo Knoploch e pelo Rodrigo Amorim, também do PSL. Ela impacta não só a Uenf, mas também a Uerj e Uezo, a partir do momento em que a CPI visa a criminalizar as universidades. Como? Querendo jogar para o povo que a universidade gasta mal o dinheiro que recebe, quando, na verdade, sabemos que a universidade recebe pouco. Inclusive, a Uenf, de 2016 para cá, sequer recebeu sua verba de custeio. Então, como a gente quer dizer que a universidade gasta mal o recurso que recebe, se ela nem recebe esse recurso? Esse é nosso questionamento — disse, ressaltando que a Uenf tem histórico de “orçamentos corretos e reitores honestos”. “Não há necessidade nenhuma de CPI”, afirmou Gilberto.
De acordo com a assessoria do deputado Alexandre Knoploch, o início da CPI depende da aprovação no plenário. Nesta quinta, haverá a votação e discussão sobre a proposta. “Toda discussão cabe emendas. Se tiver emenda, sai de pauta e volta na semana seguinte. Avaliam-se as emendas e abre a votação. Caso seja aprovada, em duas semanas, começa a instalação da CPI”, informou o deputado, destacando que há indícios de irregularidades em universidades e, “caso sejam comprovadas, nos levarão a tomar providências legais”.
Em relação à manifestação dos estudantes da Uenf, nessa manhã, ele declarou que “a afirmação que foi posta pelos manifestantes não é verídica. A Uerj, inclusive, tem burlado as vedações do Regime de Cooperação Fiscal, no seu artigo 8, e vem criando diversos auxílios e benefícios vedados. Já pedi explicação da Uerj duas vezes e não fui respondido. Inclusive, se o estado do Rio de Janeiro for excluído do Regime de Cooperação Fiscal por causa de operações como essas, todos irão ‘pagar o pato’”.
Segundo o deputado, a operação citada poderia resultar em um pagamento de R$ 15 bilhões do Estado para a União. “Isso agrava a situação do nosso Estado, pois faltaria dinheiro para pagar os salários, insumos da área da Saúde e por aí vai. Dizer que não está sendo repassado não é verdade O que existe é uma má gestão do recurso público nesses locais. É importante deixar claro que você tem gastos com a segurança de R$ 150 milhões por ano e sequer você vê resultado, tanto que existem altos índices de criminalidade nos campi”.
Entrada negada — No momento do ato em frente à instituição, o professor da Uenf Ricardo Garcia foi impedido de entrar na universidade. Ele atua no Laboratório de Engenharia Agrícola do CCTA e é coordenador do curso de Agronomia.
— Essa manifestação ocorre em função de uma decisão do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), e os professores da Associação de Docentes da Uenf (Aduenf), em assembleia, decidiram parar também. Sempre uma minoria de professores. Eles nos comunicaram da decisão por e-mails. Ontem, os estudantes decidiram em assembleia organizada pelo DCE que fariam a paralisação, incluindo o fechamento da Uenf, o que pelas novas normas de graduação é proibido. Fui hoje cedo à universidade trabalhar em minha sala, adiantar assuntos inerentes ao curso de Agronomia, que coordeno. Cheguei às 9h e tive minha entrada negada por um estudante que não conheço. Ele me perguntou se eu era aluno ou professor, e o que faria na universidade. Respondi que era professor. Depois, ele falou que eu não poderia entrar. Virei minha moto e fui embora. Na última manifestação desse tipo, entrei com meu carro e alunos bateram no capô, me xingaram e me ameaçaram em redes sociais. Para evitar, resolvi recuar hoje. Sou a favor de manifestações, é um direito de todos, porém, não podem cessar nosso direito de ir e vir, tampouco existir violência e agressões. Não são só os professores que são prejudicados, os alunos também. Nossas atividades são interrompidas, aulas precisam ser repostas, provas precisam ser remarcadas, experimentos e outras atividades são prejudicadas — contou o professor.

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