Guilherme Belido Escreve - Contagem regressiva: 15 dias
- Atualizado em 15/12/2018 17:09
Michel Temer
Michel Temer / Divulgação
Há dois anos e sete meses, quando assumiu como interino a Presidência da República, o vice Michel Temer trouxe consigo a expectativa de que recolocaria o Brasil nos trilhos.
Ante a bagunça exposta na fase final do “governo” Dilma Rousseff – cenário de escombros que se avolumou ao longo de 2015 – Temer tirava a fantasia de petista que, no fundo, nunca lhe caiu bem, e assumia, sem constrangimento, o perfil de emedebista tradicional, deixando aflorar os traços do político cerimonioso que então já o acompanhava por cerca de quatro décadas.
Entretanto, se uma fatia da sociedade e a maioria dos congressistas consideravam a ascensão do vice a melhor alternativa, foi o próprio comportamento de Michel Temer (que por mais que disfarçasse, não conseguia esconder sua ambição pelo cargo) que provocou as manifestações de repúdio lideradas por figuras de expressão do PT.
Na medida em que o impeachment ganhava corpo, mais Temer se distanciava da ‘companheira’ de chapa e já não escondia o entusiasmo em virar presidente. As reuniões no Jaburu com os aliados mais próximos passaram a ser intensas, certamente que ‘esboçando’ o que seria ‘seu’ governo.
Daí, com o afastamento de Dilma dado como certo (questão de tempo), para a aguerrida e barulhenta militância petista, Temer logo passaria a conspirador e, mais um pouco, a traidor.
Se certo ou errado – sendo necessário refletir e levar em conta que o Brasil afundava numa crise sem precedentes – dúvida não há de que Temer conspirou nos bastidores para a queda de Dilma.
Assim, a presidente que se reelegeu em 2014 escondendo do Brasil a realidade econômica, que editou decretos de créditos suplementares e atrasou repasses de recursos do Tesouro aos bancos públicos, conhecido como pedaladas fiscais, – era afastada em 12 de maio de 2016, por até 180 dias, para abertura do julgamento, e definitivamente em 31 de agosto, com a aprovação do impeachment.
Mesmo com o Brasil beirando o colapso e a recessão ameaçando virar depressão, o PT e seus aliados mostram-se mais preocupados com a política do que com a situação caótica do País. De traidor, Temer viraria golpista – palavra de ordem que inspirou manifestações de protestos contra a nova administração do Planalto.
Mas, não por isso, o presidente fracassou em reverter a impopularidade de desde sempre. Ao contrário, foi por suas próprias pernas – por suas próprias transgressões e pelos crimes os quais foi acusado e que nada tiveram a ver com o PT – que Temer foi sugado pelo túnel do desgaste e sequer reuniu condições de disputar a reeleição.
Os escândalos que causaram perplexidade
A simples mudança de governo, em que fôra afastada uma presidente catatônica, que transformara o Planalto em circo e perdera por completo a governabilidade, serviu para oxigenar a economia do Brasil.
Temer exibia trânsito fácil no Congresso Nacional. Conhecia seus meandros e manhas. Era a sua casa. Político bem articulado, refinado, não demorou para que a ‘nova cara’ da Presidência fizesse retomar a confiança no Brasil e, aos poucos, os investimentos voltassem.
Na verdade, a mudança em si – fosse com Temer, fosse com qualquer outro que inspirasse alguma credibilidade – é que estancou a queda livre e desfez o quadro caótico. Henrique Meirelles foi peça fundamental nessa agenda de recuperação e o Brasil voltou a respirar. O desemprego parou de subir, a indústria deu sinais de melhora e os juros, que chegaram a 14,15%, hoje estão em 6,5%.
Queda – Todavia, o esforço que fez melhorar parcialmente a economia – quando pouco, como se diz em Minas, parar de piorar – não foi suficiente para que o presidente deixe o governo senão com a imagem fortemente manchada por escândalos de corrupção.
O vergonhoso diálogo gravado por Joesley Batista na garagem do Jaburu, pela força da evidência, é algo inédito na história republicana do Brasil. Por conta do áudio, tornou-se o primeiro presidente no exercício do cargo a ser denunciado por crime comum – corrupção passiva. A esta, seguiu-se uma segunda denúncia, desta feita por obstrução de Justiça e participação em organização criminosa – ambas barradas na Câmara.
Não bastasse, pesam sobre Temer inquéritos que apuram suposto recebimento de propina no esquema da Odebrechet e, em outro, o caso do decreto para beneficiar o setor portuário.
Enfim, quando descer a rampa do Planalto, daqui a 15 dias, não contará mais com o foro especial por prerrogativa de função, o famigerado foro privilegiado, e terá que enfrentar as denúncias de que é acusado.
As duas primeiras, em particular, são robustas e graves, e o futuro do presidente poderá ser de percalços.
Uma pena que assim vá entrar para a história.
 
 
 

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