Caso Patrícia: MP recorre de sentença que absolveu réu apontado como executor
Verônica Nascimento e Virna Alencar 06/07/2018 17:19 - Atualizado em 09/07/2018 13:18
Rodrigo Silveira
A grande quantidade de provas e a argumentação da acusação geraram o convencimento do júri, que condenou, nessa quinta-feira (5), os guardas municipais Uenderson de Souza Mattos e Genessi José Maria Filho pelo assassinato da analista judiciária Patrícia Manhães – um crime encomendado, disfarçado inicialmente em um assalto, ocorrido em 13 de abril de 2016 na sede do Grupamento Ambiental da Guarda Civil Municipal de Campos, no Parque Ceasa. O Ministério Público ficou satisfeito com a condenação pela maioria dos jurados e com a sentença aplicada pelo juiz titular da 1ª Vara Criminal de Campos, Bruno Rodrigues Pinto: para Uenderson, por ter contratado o homicídio da esposa e mãe de seus dois filhos, a pena foi de 28 anos e 10 meses de prisão; por agenciar o assassinato, Genessi teve pena fixada em 26 anos e oito meses, também em regime fechado. Mas, conforme o promotor que atuou no Tribunal do Júri, Sérgio Ricardo Fonseca, o MP já recorreu da absolvição de Jonathan Bernardo Lima, que foi inocentado da acusação de ter executado a tiros a analista judiciária. Mas a 146ª Delegacia de Guarus dará sequência às investigações dos executores do crime, segundo informação do promotor e do delegado Luís Maurício Armond.
– Consideramos justo o resultado do julgamento com relação a Uenderson e Genessi e parabenizamos a sociedade campista, através do corpo de jurados, que, inclusive, com a confissão do crime pelo primeiro réu, reconheceu que eles eram culpados e fez o que tinha de fazer: condená-los por maioria dos votos. Com a confissão de Uenderson, a defesa tentou afastar as qualificadoras, que tornariam a pena dele mínima, ridícula mesmo; mas havia uma quantidade imensa de provas contra ele e mostrando que, se não fosse Genessi, que também participou do crime, Uenderson não teria conseguido tramar essa história macabra toda. Com relação a Jonathan, ele foi absolvido em um placar apertado de 4 votos a 3 e, nesse ponto, ainda no plenário do Tribunal do Júri, o MP recorreu e tentará reverter essa absolvição – explicou o promotor público.
Confissão - O promotor, que descreveu Genessi como “um indivíduo extremamente perigoso”, acredita que Uenderson tenha confessado a morte da mulher por medo. “Ele vinha negando, negando; mas, já no primeiro dia de julgamento, a quantidade de provas apresentadas foi um absurdo – acho que nem a defesa esperava tantas provas – e ele teve de confessar. Provavelmente ficou com medo, se meteu com gente barra pesada, e tentou livrar os outros réus. Mas Genessi trabalhava no local onde o crime foi praticado, havia diversas ligações entre eles. Enfim, não havia como não ser o Genessi o agenciador e, quanto ao Jonathan, a gente vai, através do recurso, reverter a situação e trazê-lo a julgamento. Nós não vamos desistir”, declarou Sérgio Ricardo Fonseca.
Além da reviravolta do julgamento com a confissão do Guarda Municipal Uenderson, que conheceu Patrícia nos corredores da Justiça de Campos, casou e teve com ela dois filhos e, depois, para manter um caso amoroso e aferir dos bens e da pensão da analista judiciária, encomendou seu assassinato, o caso teve outros pontos que chamaram a atenção da polícia e do MP. “Tive contato com o processo recentemente, porque sou titular de São Francisco de Itabapoana e vim auxiliar no julgamento, e fiquei pasmado com um homem com condenação por homicídio, usando tornozeleira, com condenação por porte ilegal de arma de arma, sendo guarda municipal. Pareceu uma piada de mau gosto”, comentou o promotor sobre Genessi. “Mas, ontem, o juiz determinou a perda do cargo tanto para ele como para o Uenderson”, complementou.
Execução – A investigação da execução da analista judiciária não acabou. O Ministério Público enviará cópia do processo à delegacia de Guarus, para a apuração dos executores, já que Uenderson, no interrogatório, mesmo alegando que Genessi e Jonathan não teriam tido participação no crime, confessou ter encomendado o homicídio de Patrícia. Com o julgamento concluído nessa quinta-feira, foram condenados o mandante e o agenciador, mas a morte da analista ainda está sem os executores.
O promotor e o delegado Luís Maurício Armond lembraram que uma testemunha ocular apontou que duas pessoas participaram da execução. Somente os vultos desses homens foram vistos, quando eles, depois de atirarem em Patrícia, fugiram para uma mata. Novos fatos também teriam surgido no julgamento.
– O resultado do julgamento corroborou a investigação, dificultada pela ausência de testemunhas e, por isso focada na obtenção de provas técnicas. Todas as suspeitas foram confirmadas. Sempre tivemos certeza da autoria do crime e Uenderson e Genessi foram condenados. A confissão de Uenderson apenas confirmou o trabalho da polícia e espero que isso tenha servido de algum alento para a família de Patrícia Manhães. Mas Uenderson disse que contratou gente para matar a analista e também temos elementos sobre a participação de Fofão (Jonathan) no crime. Assim, vamos retomar as investigações e chegar aos executores”, concluiu o delegado.
Em nota, a família de Patrícia Manhães agradeceu os esforços empregados para a aplicação da justiça na morte da analista judiciária:
Temos uma execução sem executor. Mas todos os familiares e toda sociedade campista, ainda esperam que a justiça seja feita por completo.
Os familiares de Patrícia Manhães Gonçalves vêm a público agradecer e enaltecer o trabalho da Polícia Civil, na pessoa do Delegado, Doutor Luis Maurício Armond e da Inspetora Carolina, dois guerreiros, que com toda dificuldade enfrentada pela Polícia Civil, de um Estado falido, fez um trabalho de excelência.
Agradecemos também ao empenho incansável do Doutor Fabiano, Promotor de Justiça da Promotoria de Investigação Penal de Campos bem como ao Doutor Marcelo Lessa.
Nosso sincero reconhecimento à atuação brilhante da acusação na pessoa do Doutor Sérgio Ricardo e da assistente de acusação, Doutora Isabela.
Agradecemos a imprensa pelo profissionalismo e respeito pela dor dos familiares de Patrícia”.
 
 

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