Grafiteiro busca espaço na região
Jhonattan Reis 01/06/2018 19:02 - Atualizado em 04/06/2018 13:28
Crítica social, música, política, esporte, poesia e história são alguns dos temas evidentes no grafite realista do artista paulistano Áureo Melo, mais conhecido como “Lobão”. Ele, que tem 20 anos de profissão, é consagrado pela excelência de seus gigantescos murais e pela sensibilidade de suas mensagens, muitas vezes subliminares. E Lobão, depois de fazer sua arte em muros de várias cidades do Brasil, busca “telas” em novas regiões, como Norte e Noroeste Fluminense.
— É sempre um prazer passar por novas cidades, novas regiões. A (região) de Campos é um lugar onde nunca fiz um trabalho, mas com certeza tenho muita vontade de conhecer e levar minha arte. Por enquanto, o mais próximo que cheguei foi a Região dos Lagos — disse Lobão.
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Ele explicou que faz obras com fins comerciais e, também, para colorir as cidades.
— Acontece da seguinte forma: faço minhas artes de forma comercial, pois é meu trabalho, quando alguém me contrata. Porém, quando sou contratado para grafitar em uma cidade “nova”, onde nunca fui, eu fico cerca de três dias a mais para fazer um grafite em uma rua, para favorecer a cidade e, além disso, divulgar meu trabalho.
Atualmente, Lobão, que é natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, está morando no Rio de Janeiro, onde tem realizado vários trabalhos. Nos últimos meses, além da capital carioca, ele fez grandes artes em cidades como Ribeirão Preto, onde grafitou um muro gigantesco em uma das principais avenidas do município; Rio das Ostras, fazendo um desenho do rosto do cantor, compositor e violonista Dorival Caymmi num mural de cerca de 15 metros; e Casimiro de Abreu, marcando os rostos do poeta Casimiro de Abreu e da atriz Carmen Miranda na fachada do cine teatro da cidade.
A arte feita em Ribeirão Preto teve como tema “Respeito às Diferenças”. Lobão trabalhou com imagens que traduzem as diversas facetas do povo brasileiro, como o índio, o negro, o transexual e o branco. Marielle Franco, vereadora que foi assassinada há dois meses, é o rosto central da obra.
— Sempre procuro passar uma mensagem, sem que, necessariamente, precise escrever. O barato está em observar que a pessoa olha para a minha arte e capta um aprendizado. E a ideia é levar este tipo de trabalho para vários lugares. Todos os meus grafites têm sido voltados para um objetivo: levar uma reflexão às pessoas — disse o artista.
Já sobre trabalhos como os que fez em Rio das Ostras e Casimiro de Abreu, ele comentou:
— Sou especializado em fazer retratos. Adoro fazer isso, e gosto mais ainda quando é para grafitar rostos de pessoas que gosto, respeito e admiro, como é o caso de Casimiro de Abreu, Caymmi e Carmen Miranda.
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Os trabalhos de Lobão têm uma abordagem sensível e sua marca é bastante pessoal. Suas obras chamam atenção, também, pela linguagem visual moderna e pela riqueza de detalhes que emprega. Além dos já citados, entre os seus grafites mais famosos também estão uma arte de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, de cinco metros de altura, na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e um Charles Chaplin de oito metros rememorando o famoso clássico “Tempos Modernos”, em Cabo Frio.
As obras citadas são recentes, mas a paixão pela pintura veio quando Lobão ainda era criança, nas aulas de artes. O artista, que é autodidata, contou que se via encantado por tinta guache e, com ela, começou a fazer seus primeiros desenhos. Só que o jovem Lobão queria fazer traços grandiosos. Surgiu, então, a paixão pelo grafite, aos 13 anos. Desde então, o guache foi substituído pelo spray e pelas tintas, seus companheiros nas artes feitas nas ruas.
— O primeiro grafite que fiz, quando tinha 13 ou 14 anos, foi num muro, numa rua de Ribeirão (Preto). Desenhei um palhaço, ajoelhado, rezando, de três metros de altura. É um tamanho pequeno em comparação à altura das artes que faço hoje, mas naquela época foi uma grande evolução. Eu tinha certeza que gostava muito de fazer trabalhos grandes, e esse foi o ponto de partida para começar. Foi nesse dia, do desenho do palhaço, que descobri que queria realmente ser o que sou hoje — lembrou.
Ainda novo, Lobão, em busca de ganhar o Brasil com seu trabalho, saiu de Ribeirão Preto e seguiu sua trajetória na capital mais próxima, São Paulo. Depois, continuou fazendo sua arte urbana em diversos estados, como Paraná, Goiás, Brasília, Minas Gerais e, atualmente, Rio de Janeiro. Além de grafitar, ele, quando convidado, compartilha seus conhecimentos em oficinas de desenho e pintura.
Ao longo de suas duas décadas grafitando, Lobão sempre procura, ressaltou ele, trabalhar sua identidade.
— Eu luto para ser o mais autêntico possível. Amadureci muito nesses 20 anos. Sempre tento usar o meu conhecimento para criar coisas minhas, dentro do meu estilo — relatou o artista, que já fez trabalhos de até 15 metros de altura e busca fazer grafites com tamanhos maiores. — Quero fazer desenhos de 40, 50, 100 metros de tamanho na horizontal — comentou.
O artista, que hoje tem 34 anos, pode ser encontrado no Instagram. Também é possível contatá-lo pelo e-mail [email protected].

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