Caixa d'Água: interrogatório detalha como funcionava o esquema
Aldir Sales, Matheus Berriel e Jéssica Felipe 06/02/2018 13:10 - Atualizado em 09/02/2018 14:59
Quatro testemunhas depuseram por cerca de oito horas, nesta terça-feira (6), no Fórum de Campos, no primeiro interrogatório das testemunhas de acusação da operação Caixa d’Água, que investiga um suposto esquema para arrecadação de dinheiro ilícito de empresários locais na Prefeitura de Campos durante a gestão da ex-prefeita Rosinha Garotinho, inclusive mediante extorsão com arma de fogo, segundo a denúncia do Ministério Público Eleitoral. Delator e principal peça da investigação, o empresário André Luiz da Silva Rodrigues, o Deca, detalhou como teria acontecido o esquema que, segundo ele, tinha como objetivo desviar dinheiro para a campanha de Anthony Garotinho ao Governo do Estado em 2014. Além dele, o ex-vice-prefeito Dr. Chicão (PR) e outras duas pessoas foram ouvidas pelo pelo juiz da 98ª Zona Eleitoral, Ralph Manhães. Outras quatro testemunhas serão interrogadas em uma nova audiência de instrução e julgamento, inicialmente prevista para 3 de março, mas remarcada, pelo juiz Ralph Manhães, para dia 15 do mesmo mês, às 13h30. O deputado estadual Geraldo Pudim (PMDB) e o ex-executivo da multinacional JBS, Ricardo Saud, prestarão depoimento por precatória. 
Nenhum dos réus compareceu à audiência. Um dia antes, Ralph já havia dispensado a presença do casal Garotinho, “em razão do intenso desgaste emocional pelo qual vêm passando”. Os dois, assim como todos os processados, chegaram a ser presos durante as investigações. Antes do interrogatório, Chicão disse que foi convocado para ser testemunha de acusação, mas preferiu não comentar sobre o processo. “Não tenho nada a falar. Nem sei por que estou aqui. Fui chamado para ser testemunha”.
A primeira testemunha a ser ouvida foi Adilson Gomes Barbosa, sogro de André Luiz. Na sequência quem falou foi Deca. Ele detalhou uma reunião com outros empresários no Rio de Janeiro, onde Garotinho teria exigido a “contribuição” de R$ 1 milhão de cada um. De acordo com André, o ex-governador teria dito que “era para eles se virarem, pegar dinheiro com agiota, com banco, que ele queria R$ 5 milhões, sendo R$ 1 de cada um. Que se não conseguisse esse dinheiro perderia a campanha”.
Deca relatou, também, que sua empresa, a Working, estava em dificuldades financeiras e tinha dinheiro a receber da Prefeitura. Ele falou que já tinha feito outras “contribuições voluntárias” anteriormente com 10% de cada contrato com o município, mas que nunca havia sido cobrado por isso.
Após a reunião no Rio, Deca conta que conversou com o empresário Ney Flores, co-réu do processo e um dos presentes na reunião. “Aí que foi meu grande erro, colocaram o meu sonho em jogo”. Segundo André, Ney teria falado sobre a possibilidade de um contrato de R$ 3 milhões com outra empresa do delator, a Ocean Link, com a JBS. Inicialmente, Rodrigues afirma que pensou que o serviço seria prestado e que R$ 1 milhão do seu lucro seria para pagar a “dívida” com Garotinho.
O serviço para a JBS seria telecomunicações e instalação e manutenção de softwares. O combinado seria receber o dinheiro antes de executar o trabalho. Os advogados dos réus questionaram se Deca costumava receber o dinheiro antes, mas ele disse que essa era uma situação atípica, que ele não trabalhava desta forma.
Posteriormente, segundo André Luiz, surgiu na história o policial civil aposentado Antonio Carlos Ribeiro, o Toninho, que teria falado para ele sacar todo o dinheiro. Foi quando, segundo o empresário, ele começou a desconfiar que o contrato não seria executado. No depoimento, o delator relata que Toninho o procurou várias vezes, inclusive armado. Ele não falou que se sentiu ameaçado, mas afirmou que temia pela vida da família e que ele se sentiu constrangido com uma arma exposta dentro do carro de Toninho.
Os advogados dos réus questionaram os repasses do contrato atual da Working atrasavam. André relatou que este contrato foi feito em 2015, ainda na gestão Rosinha, e que teve aditivos, mas que no atual governo os atrasos nunca passaram de dois meses. Ele disse também que tinha trabalhos durante a gestão do ex-prefeito Alexandre Mocaiber, mas que as “contribuições” só aconteciam durante a passagem dos Garotinho na Prefeitura de Campos.
Deca ainda relatou que o advogado e ex-subsecretário de Governo, Thiago Godoy, foi responsável por negociar um débito de R$ 5 milhões da Prefeitura com a Working e uma “dívida de contribuições” dele com Garotinho no valor de R$ 900 mil. Sobre o ex-secretário de Governo Suledil Bernardino, André Luiz falou que teve poucos contatos, apenas quando foi à Prefeitura para tentar receber o dinheiro devido pelo município.
Além do casal Garotinho, Toninho, Suledil e Godoy, também figuram como réus o presidente nacional do PR, Antonio Carlos Rodrigues, e o seu genro, Fabiano Rosas, que seriam os intermediadores com a JBS. 

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