"Pantera Negra" levanta questão racial
16/02/2018 18:55 - Atualizado em 21/02/2018 14:16
Pantera Negra
Pantera Negra / Divulgação
T’Challa, mais conhecido como Pantera Negra, é um rei-guerreiro da nação africana fictícia de Wakanda. O herói de rosto africano, interpretado por Chadwick Boseman, é a estrela do filme “Pantera Negra”, a primeira grande produção cinematográfica derivada dos quadrinhos da Marvel em 20 anos a trazer um protagonista (e um elenco principal) negro para o centro da tela.
Em cartaz nos cinemas de Campos, o filme, cujo elenco também conta com Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Letitia Wright e Forest Whitaker, já se consolida como um marco da representatividade e levanta questões sobre os desafios e a importância de se discutir questões raciais na cultura pop.
Antes mesmo da chegada da obra à tela grande, o frisson fez Pantera Negra bater o recorde de pré-vendas de ingressos nos Estados Unidos, levou à organização de sessões “black”, prioritariamente voltadas para pessoas negras, e também gerou reações contrárias, com grupos se organizando para dar notas baixas em plataformas de avaliações de filmes como o “Rotten Tomatoes”, em um gesto de incômodo mal disfarçado com a chegada definitiva da diversidade ao mundo dos super-heróis. Até pouco tempo, este era um meio majoritariamente branco e masculino.
Com mais de três mil membros, o grupo, batizado de “Down With Disney’s Treatment of Franchises and its Fanboys” (“Abaixo o tratamento da Disney para suas franquias e seus fãs”, em inglês), já havia se organizado para dar notas baixas ao filme “Star Wars — Os Últimos Jedi”, por avaliar que a franquia incorporou ideias de “esquerda”. A ideia era fazer o mesmo com o Pantera Negra, mas a iniciativa foi barrada pela própria plataforma, que alegou não existir espaço para “discursos de ódio” no site.
“Respeitamos as opiniões de nosso público, mas não referendamos discursos de ódio. Nossa equipe de segurança e de redes seguem monitorando as nossas plataformas e quaisquer usuários que estiverem engajados em atividades desta natureza serão bloqueados do nosso sistema e seus comentários serão removidos o mais rápido possível”, informou Rotten Tomatoes.
“Acredito que hoje em dia temos mais espaço para discutir, mas a crítica e a reflexão fazem com que muitos saiam da zona de conforto, é sempre muito complicado”, afirma Anne Caroline Quiangala, criadora do blog Preta, Nerd & Burning Hell, dedicado a discutir a cultura pop de um ponto de vista de intersecção de identidades sociais.
Para muitos outros, porém, a representatividade é bastante bem-vinda.
Nos Estados Unidos, campanhas de financiamento coletivo reunidas sob a hashtag #BlackPantherChallenge já levantaram 260 mil dólares, dinheiro destinado para realização de sessões de cinema gratuitas para crianças afro-americanas.
“É muito legal para as crianças verem heróis e heroínas negras no cinema”, explica Ana Paula Evangelista, que organizou, ao lado do marido, uma sessão fechada do filme voltada para o público negro em São Paulo. “Nós lutamos por isso todos os dias, para que as crianças já cresçam com a visão de que esses heróis e heroínas negras existem”, afirma ela, que espera o comparecimento de cerca de 300 pessoas, de crianças a idosos.
A jornalista Catarina Ferreira, de 21 anos, conta que cresceu cercada de quadrinhos por influência do pai, que era fã, mas dificilmente se via representada em meio aos protagonistas brancos. “Eu já assisti [ao Pantera Negra] e achei incrível. Toda a estética do filme é negra: a cultura de Wakanda, as roupas, os cabelos dos atores”, exemplifica.
O filme mostra o retorno de T’Challa à sua terra natal, a isolada nação de Wakanda, após a morte de seu pai, com as missões de sucedê-lo no trono e retomar seu lugar de direito como rei. A aparição de um antigo inimigo coloca, no entanto, o futuro da nação africana (e do mundo) em risco.
Subvertendo os estereótipos que frequentemente cercam o continente africano, Wakanda nunca foi colonizada. É extremamente desenvolvida, dona de uma secreta tecnologia avançada cuja existência é mantida escondida do restante do mundo, e cuja estética bebe diretamente da fonte do afrofuturismo. A trilha sonora foi idealizada pelo rapper Kendrick Lamar e, na versão brasileira, conta com músicas do também rapper Emicida. (A.N.)

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