Sérgio Cabral é preso pela PF
17/11/2016 07:11

Fotos: Agência Brasil

Uma ação conjunta da Polícia Federal (PF) com o Ministério Público Federal (MPF) e a Receita Federal do Brasil (RFB) prendeu, na manhã desta quinta-feira (17), o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB). A Operação Calicute investiga desvio de recursos públicos federais em obras realizadas pelo Governo do Estado. O prejuízo estimado é superior a R$ 220 milhões. Cabral foi transferido no início da noite para o Complexo Penitenciário de Bangu, onde foi recebido com manifestação de servidores.

Cabral foi preso em sua residência, no Leblon, na Zona Sul do Rio, e levado para a Superintendência da PF, na Praça Mauá, zona portuária da cidade. Duzentos e trinta agentes cumpriram 38 mandados de busca e apreensão, oito mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 14 de condução coercitiva expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, além de 14 mandados de busca e apreensão, dois de prisão preventiva e um de prisão temporária expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba.

A ação teve como base as delações premiadas do empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta, e de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia. Segundo as delações, Cabral recebia propinas mensais.

As informações passadas pelos colaboradores estão sendo ratificadas por uma série de indícios e provas diretas levantadas pelo MPF, PF e Receita Federal.

— Há fortes indícios de cartelização de obras executadas com recursos federais, mediante o pagamento de propina a funcionários e a Sérgio Cabral — disse o procurador do MPF no Rio, Lauro Coelho Junior.

Já o juiz Sérgio Moro citou a atual situação de crise financeira do Estado do Rio para justificar a prisão. Moro afirmou que seria uma afronta deixar que os investigados continuassem usufruindo dos recursos das supostas propinas.

A mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, foi alvo de condução coercitiva, quando alguém é conduzido para depor. Ela é suspeita de ser beneficiária do esquema.

Estão presos preventivamente, sem previsão de soltura, Paulo Fernando Magalhães Pinto (ex-assessor de Cabral), Wilson Carlos Cordeiro da Silva Carvalho (ex-secretário de governo do RJ), Hudson Braga (ex-secretário de obras), Carlos Emanuel de Carvalho Miranda (sócio de Cabral na empresa SCF Comunicação), Luiz Carlos Bezerra, Wagner Garcia, José Orlando Rabelo e Luís Paulo Reis. Também foi preso Alex Sardinha da Veiga, mas, diferentemente dos demais, a detenção é temporária.

Construtoras pagaram R$ 850 mil de mesada

De acordo com as investigações, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral teria recebido propina de construtoras em seus dois mandatos, entre 2007 e 2014. Segundo as investigações, o ex-governador chefiava um esquema de corrupção que cobrou propina de construtoras, lavou dinheiro e fraudou licitações em grandes obras no estado realizadas com recursos federais.

De acordo com Ministério Público Federal, Sérgio Cabral chegou a receber R$ 350 mil de “mesada” da Andrade Gutierrez e R$ 200 mil da Carioca Engenharia, que, no segundo mandato, aumentou o pagamento para R$ 500 mil.

As investigações começaram em julho, a partir de informações colhidas em acordos de delação premiada de executivos da Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia.

A PF e o MPF se concentraram na apuração de irregularidades em três obras, cada uma orçada em mais de R$ 1 bilhão: a reforma do Maracanã para a Copa de 2014, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Favelas e o Arco Metropolitano. A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, por sua vez, investigou a contratação da Andrade Gutierrez para a obra de terraplanagem do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj).

Segundo a apuração, a propina de 5% sobre as obras era paga em espécie. Havia ainda uma “taxa de oxigenação” de 1% para operadores do esquema. Com esses valores, os investigadores afirmam que chega a R$ 224 milhões a propina paga nas três obras investigadas pela força-tarefa no Rio.

Cachorro-quente e lancha entre os bens

Os investigadores afirmaram que o esquema do grupo ligado ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) lavou dinheiro comprando bens que incluíram vestidos de festa, joias, uma lancha avaliada em R$ 5 milhões e até cachorros-quentes de uma festa de aniversário do filho do político.

A informação dos bens comprados para lavagem de dinheiro foi dada durante uma coletiva de imprensa com a presença de procuradores e policiais federais, além de agentes da Receita Federal.

Segundo os procuradores, a lavagem de dinheiro fica caracterizada pelos bens apreendidos: compra de móveis de escritório, seis vestidos de festa da ex-primeira dama Adriana Ancelmo, equipamentos e máquinas agrícolas, blindagem de carros e parcelas de compras de carros. Tudo foi pago em dinheiro vivo. Cerca de R$ 950 mil foram gastos desta forma.

A investigação também aponta transferências de Luiz Carlos Bezerra, um dos presos na operação, que foram feitas para a família de Cabral. Elas foram usadas para pagar faturas do cartão de crédito da mãe de Cabral, Magaly Cabral, e para o cachorro-quente na festa do filho de Cabral — no valor de R$ 1.070. Outra transferência, no valor de U$ 10 mil, também foi contabilizada para Magaly. A polícia encontrou ainda a transferência de 10 mil euros para Susana Neves Cabral, ex-mulher de Cabral. (S.M.) (A.N.)

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