Suzy Monteiro
Fotos: Marcos Gonçalves

A Polícia Federal de Campos desencadeou, na manhã dessa sexta-feira, a operação “Vale Voto”, que levou à prisão a secretária municipal de Desenvolvimento Humano e Social, Ana Alice Alvarenga, e a coordenadora do Cheque Cidadão, Gisele Koch Soares, além de oito pessoas que fariam parte, como beneficiárias do programa, de um suposto esquema de fraude que visava obtenção de votos em troca de inscrições no programa destinado a pessoas em vulnerabilidade social. Assim como o Ministério Público Eleitoral (MPE) já havia afirmado anteriormente, a delegada federal Carla de Melo Dolinski disse que o número de cadastrados saltou de 12 mil para 30 mil este ano, sendo 18 mil a mais somente a partir de junho a setembro deste ano. Em nota, a Prefeitura de Campos repudiou as prisões, classificando-as de uma medida “desarrazoada, infundada e contrária ao ordenamento jurídico, além de covardemente atingir a dignidade de tais pessoas, através de um desnecessário encarceramento, tratando-as como criminosos e privando-as do convívio familiar”. Já a Associação dos Magistrados do Estado do Rio (Amaerj) divulgou nota de apoio aos juízes eleitorais de Campos, pelas suas ações nos casos.

As 10 pessoas foram presas logo no início da manhã e levadas para a sede da delegacia da PF. Em entrevista coletiva, a delegada Carla Dolinski explicou que as prisões tomaram por base operações anteriores, uma que resultou na prisão do vereador Ozéias (PSDB) e outra busca e apreensão de documentos na secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social e CRAS. As duas investigações foram reunidas. De acordo com a delegada, listagens mostram um aumento de 18 mil beneficiários de Cheques Cidadão entre junho e setembro. Ela destacou, também, que as duas foram presas por serem elas que autorizam a inclusão de beneficiários e que esta inclusão estaria sendo feita sem obedecer critérios, como estudo da real necessidade social, isso estaria sendo motivo de reclamação das próprias assistentes sociais.

Na casa da secretária, a PF apreendeu material de campanha de Dr. Chicão e da vereadora Linda Mara (PTC), do vereador Ozéias, além de agenda. O delegado federal Paulo Cassiano Júnior – que já foi titular em Campos – acompanhou toda ação e também informou que na secretaria de Desenvolvimento havia grande desorganização. Segundo ele, essa seria uma maneira proposital e revela má fé para dificultar acesso a informações precisas. Questionado se novas prisões podem acontecer, Cassiano, foi sucinto: “a investigação está apenas começando”. Ele disse, ainda, que as prisões da cúpula da secretaria de Desenvolvimento e de beneficiários do supo to esquema  mostrava que a PF está atenta, tanto para aqueles que compram votos, quanto para os que estão na outra ponta, os que vendem seu voto.

Cartões — Ao notar que cartões do Super Bom também foram apreendidos e exibidos pela PF, o empresário Joilson Barcelos explicou que o jurídico da empresa busca informações sobre o episódio e vai contribuir com o que for necessário para esclarecer o tema.

Notícia-crime protocolada ontem por peemedebista

O PMDB protocolou também ontem notícia-crime na Polícia Federal e no Ministério Público Eleitoral, onde estão anexas duas listas – uma com 22 nomes e outra com 5 – que fariam parte dos 18 mil cadastros de Cheque Cidadão apontados como irregulares.

O documento foi protocolado por Nayt Junior, presidente do Movimento Negro do PMDB. Segundo ele, existe a leitura política, diante das denúncias das supostas irregularidades, de que o atual governo não quisesse apenas a eleição do Executivo e a maioria na Câmara: “Eles não querem a maioria, querem a totalidade, tendo em vista os desmandos financeiros, fiscal, em afronta à Lei de Responsabilidade, cometidos pelo menos nesse segundo governo. Eles não querem correr risco e sim criar um anteparo de proteção”.

Nayt fala isso com base nos números das ações propostas pelo MP Eleitoral no último sábado: 34 candidatos a vereadores: “Poderiam eleger os 25 e ainda teriam uma sobra para futuras arrumações partidárias”

Juízes de Campos recebem  apoio por “atuação isenta”

A Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj) também divulgou nota, mas de apoio aos juízes eleitorais de Campos, pelas suas ações nos casos de coibição de supostos abusos no Cheque Cidadão. “A AMAERJ manifesta apoio aos juízes eleitorais de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, por sua atuação isenta e firme, com o objetivo de coibir irregularidades nas eleições locais”.

Ainda destaca a nota, investigações apontam que houve aumento de 18 mil beneficiários do programa Cheque Cidadão no período entre junho e setembro: “A AMAERJ considera que os magistrados da Justiça Eleitoral são fundamentais para coibir eventuais abusos econômicos no pleito e garantir a lisura da disputa entre os candidatos, para que a população escolha seus representantes democraticamente”, concluiu.

Por meio de nota, Prefeitura critica decisão

Em nota, a Prefeitura afirmou que a prisão, determinada pelo juiz Ralph Machado Manhães Júnior foi “desarrazoada”. Ainda segundo a nota, os servidores em nada poderiam prejudicar o curso das investigações, tendo em vista que todo material do Programa Cheque Cidadão foi apreendido e encontra-se sob guarda da Justiça Eleitoral, revelando-se, portanto, a desnecessidade da medida extrema adotada pelo magistrado: “A suspensão do Cheque Cidadão prejudica milhares de pessoas humildes, que dependem deste recurso para sustentar crianças, idosos e doentes. O Cheque Cidadão existe há oito anos, e portanto não é compreensível que há menos de 10 dias de eleição este fato seja usado politicamente para desestabilizar o pleito eleitoral, já que a Prefeitura tomou todas as medidas necessárias. Merece registro o fato que o Juiz Ralph Machado Manhães Júnior, nos últimos anos, tem se destacado por proferir decisões controvertidas contra a Prefeitura de Campos dos Goytacazes e respectivos agentes públicos, tendo ao longo do ano de 2015 decidido pelo o afastamento de Secretários, sendo que tais decisões foram consideradas equivocadas e nulas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ)”, disse na nota a Prefeitura de Campos, que garante estar dando total apoio aos servidores presos e suas famílias.

Em emissora de rádio, prefeita desabafa

Após as prisões da secretaria de Desenvolvimento Social e da coordenadora do Cheque Cidadão, na manhã dessa sexta-feira, o secretário de Governo Anthony Garotinho (PR) e a prefeita Rosinha Garotinho (PR) usaram um programa de rádio para comentar sobre o tema. “Peço uma cadeia de orações. Vamos orar pela Ana Alice e pela Gisele. Tudo isso foi uma grande covardia. Peço aos padres e pastores que orem. Encaminhem um louvor a Deus contra essa injustiça”, disse Garotinho. A prefeita Rosinha afirmou que muitas pessoas estão sofrendo por conta da decisão judicial. Segundo a prefeita, tudo precisa ser esclarecido para evitar interpretações distorcidas dos fatos.

O casal Garotinho também disparou contra o juiz. “Um juiz que nem é deste caso. Ele diz que o cheque cidadão não pode continuar durante a eleição. Mas calma aí. É cheque cidadão ou cheque eleição?”.

Para fechar o dia, a prefeita usou o Facebook para postar a seguinte mensagem de paz. “Minha força vem de um Deus que faz milagres”.

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