Prefeito Zezé Barbosa e seu destaque em Campos
21/08/2016 10:08

Saulo Pessanha

Na história política de Campos, entre os anos 1960/1990, um capítulo merece ser dedicado a José Carlos Vieira Barbosa — o Zezé Barbosa, como se popularizou. A vida pública dele, intocável, foi marcada pela trajetória de um administrador que mostrava eficiência e dedicação. Já às 5h iniciava o seu trabalho no “Triturador”, sede da secretaria de Obras, ao lado do Cemitério do Caju.

Zezé conseguiu um feito, que dificilmente será alcançado. Foi prefeito de Campos por três vezes, em uma época que não havia reeleição e o dinheiro da prefeitura era pouco. Todos os mandatos foram cumpridos integralmente. O primeiro foi entre 1967/1970. O segundo entre 1973/1976. E o terceiro entre 1983/1988.

Pela sua popularidade, e a capacidade de transferir votos, elegendo o genro Sérgio Diniz deputado estadual e contemplando com muitos votos políticos de fora como Célio Borja e Ronaldo Cezar Coelho, em diferentes eleições, foi chamado de o “Rei do Norte” no Jornal do Brasil.

Zezé foi um homem de um único casamento, com Zaíra Paes. O casal teve quatro filhos. Depois que deixou a prefeitura, quando foi alvo de ataques de um adversário por gostar de criar cavalos de raça, Zezé, em um palanque no Parque Leopoldina, disparou:

— Andam por aí falando de Zezé Barbosa. Mas isso não me preocupa porque os adversários só atiram pedras em árvores que têm frutos. Quando fui prefeito, mesmo com poucos recursos, transformei esta cidade. Agora tem outro detalhe. Zezé quando entrou na prefeitura, era casado com Zaíra e continua casado com ela.

Em tempo: o tal crítico de Zezé havia separado da mulher.

Dona Zaíra destaca a liderança de Zezé

Dona Zaíra Barbosa revela que Zezé sempre demonstrou um espírito de liderança e inconformismo com as condições precárias do bairro Guarus e assim foi eleito presidente do Centro Pro Melhoramento de Guarus.  Ela cita que ali, através do seu trabalho pioneiro, conseguiu muitos benefícios para o bairro.

Dali em diante, conta Zaíra, surgiu juntamente com amigos o sonho de poder contribuir para a construção de uma Campos melhor. “José Carlos ingressou na política e passou então a ser Zezé Barbosa. Era um político sério, exigente com aqueles que confiava as suas ordens e sempre acordava cedo para verificar no seu gabinete de trabalho, no Triturador o cumprimento das ordens do dia”.

Zaíra lembra que, ao fim do dia, Zezé sempre gostava de andar pela cidade para fiscalizar as obras em andamento, a coleta de lixo e a manutenção de praças e jardins pois sempre valorizou a presença de árvores na cidade. “Assim acho que ele foi um político com um grande tino de administrador”.

Soffiati: Ex-prefeito tinha perfil pragmático

O historiador Aristides Soffiati diz que Zezé Barbosa representa um tipo de administrador municipal que se desenvolveu entre o fim do Estado Novo (1945) e o fim do regime militar brasileiro (1985). “Esse tipo era eleito pelo voto direto, mas estava subordinado a um governo autoritário, escolhido indiretamente. Ele tinha geralmente o perfil conservador e pragmático. Governava com poucos recursos e dependia das oligarquias locais. Embora dependente do voto popular, esse tipo de prefeito não tinha compromisso permanente com seus eleitores, mas devia obrigações a forças econômicas que o sustentavam.

Soffiati revela que Zezé Barbosa se enquadra perfeitamente nesse perfil. “Já diverso do de Garotinho, que conta com recursos dos royalties e se mantém no poder por ações populistas”, destaca.  

Beatriz: Valorização da família e política

Beatriz Barbosa Diniz tem como lembrança de sua vida política inicial, a participação, com apenas seis anos, junto com seus irmãos, da propaganda política da primeira eleição de Zezé Barbosa. “Papai sempre valorizou a nossa presença na política com o lema de que é na família que os seres humanos aprendem a viver para a pátria e para vida”.

Mãe de Rafael Diniz, hoje candidato a prefeito de Campos, Beatriz recorda que Zezé fez da casa dele seu quartel general, “aonde vivenciamos a presença de amigos, políticos e mesmo adversários”. Ela diz que o pai recebia todos com cordialidade. “Desta forma conseguia unir tudo aquilo que mais gostava: família e política”.

Beatriz admite que o pai, tal como era na política, foi muito exigente com os filhos na educação e nos estudos, ficando a tarefa a cargo de sua mãe Zaíra. “Ele queria filhos formados e com carreiras independentes”.

Sobre o pai, Beatriz acrescentou que após três mandatos de prefeito ele se sentiu com o dever cumprido e ainda teve a oportunidade de sentir no carinho e respeito do povo “o reconhecimento de sua carreira política dedicada à Campos”.

Rockfeller: Prazer em ser seu adversário

O principal adversário de Zezé foi Rockfeller de Lima, por duas vezes detentor do cargo de prefeito — em 1965/1966, quando assumiu a prefeitura com a morte de Barcelos Martins e entre 1971/1972.  Hoje afastado da vida pública, Rockfeller revela que teve o prazer de ter Zezé como “companheiro de luta política”. Cita que o relacionamento dos dois foi muito bom. “Sempre tive por ele um grande respeito e admiração”. Rockfeller lembra que foi candidato a vice de Zezé Barbosa quando ele se candidatou a prefeito pela primeira vez, em 1962, eleição que foi vencida por Barcelos Martins e pelo próprio Rock. É que, na época, o voto dado ao vice era desvinculado do titular da chapa. Depois se tornaram adversários. O confronto direto entre eles ocorreu em 1982. Zezé ganhou.



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