Bolsonarista invade festa de aniversário temática do PT e mata guarda no PR
10/07/2022 16:11 - Atualizado em 10/07/2022 21:37
O guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, no Paraná, Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos, foi morto a tiros durante a própria festa de aniversário com tema do partido e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na madrugada deste domingo (10). O assassino foi policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho. Inicialmente, a polícia chegou a informar que ele também morreu após trocar tiros com Marcelo, mas houve uma correção e o homem segue internado em um hospital da cidade. Testemunhas e o boletim de ocorrência dizem que ele chegou ao local gritando “aqui é Bolsonaro!”.
Durante o dia, vários políticos repudiaram o acontecido, mas o presidente Jair Bolsonaro (PL) não havia se manifestado até a última atulização.

À RPC – afiliada da TV Globo no estado, o secretário de Segurança Pública de Foz do Iguaçu, Marcos Antonio Jahnke, afirmou que a Polícia Civil investigará as motivações do crime e disse que há elementos de intolerância política.

A comemoração era realizada na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu. O boletim de ocorrências informa que Guaranho chegou no local de carro e que no veículo estavam também uma mulher e um bebê.

Segundo o documento, ele desceu do carro, armado, gritando: "Aqui é Bolsonaro!". De acordo com o boletim, o policial penal não era conhecido de ninguém na festa nem foi convidado. O registro cita que o policial deixou o local, mas voltou cerca de vinte minutos depois, sozinho e armado.

O boletim de ocorrência diz, ainda, que Guaranho atirou duas vezes contra o guarda municipal, que revidou e baleou o policial penal. Os dois chegaram ser encaminhados a uma unidade de saúde, mas o guarda não resistiu aos ferimentos.
Repercussão

A Prefeitura de Foz do Iguaçu disse, em nota, que Marcelo Arruda era da primeira turma da Guarda Municipal e estava na corporação há 28 anos. O guarda também era diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de Foz do Iguaçu (Sismufi).

"Agradecemos ao Marcelo Arruda por toda a sua dedicação e comprometimento com o Município, o qual nestes 28 anos de funcionalismo público defendeu bravamente, tanto atuando na segurança como na defesa dos servidores municipais. Desejamos à família, aos amigos e colegas de Marcelo força neste momento de dor", afirmou o prefeito Chico Brasileiro.

Em nota, o PT no Paraná lamentou a morte do tesoureiro e disse que presta assistência à família da vítima e que acompanhará todas as investigações. "Um ataque contra a vida, um ataque contra a liberdade de expressão, um ataque contra a democracia", disse o PT-PR.

O Partido dos Trabalhadores também se manifestou e, em nota, reconheceu neste domingo a atuação de Marcelo Arruda. Em 2020, o guarda municipal foi candidato a vice-prefeito de Foz do Iguaçu pela sigla.

"Cobramos das autoridades de segurança pública medidas efetivas de prevenção e combate à violência política, e alertamos ao Tribunal Superior Eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal para que coíbam firmemente toda e qualquer situação que alimente um clima de disputa violenta fora dos marcos da democracia e da civilidade. Iniciativas nesse sentido foram devidamente apontadas pelo PT em várias oportunidades, junto ao Congresso Nacional, o Ministério Público e o Poder Judiciário", disse o partido.

O ex-presidente Lula também se manifestou e pediu tolerância e paz. “Nosso companheiro Marcelo Arruda comemorava seu aniversário de 50 anos com sua família e amigos, em paz, em Foz do Iguaçu. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, sua festa de aniversário tinha como tema o PT e a esperança no futuro; com a alegria de um pai que acabou de ter mais uma filha. Uma pessoa, por intolerância, ameaçou e depois atirou nele, que se defendeu e evitou uma tragédia ainda maior. Duas famílias perderam seus pais. Filhos ficaram órfãos, inclusive os do agressor. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de Marcelo Arruda. Também peço compreensão e solidariedade com os familiares de José da Rocha Guaranho, que perderam um pai e um marido para um discurso de ódio estimulado por um presidente irresponsável. Pelos relatos que tenho, ele não ouviu os apelos de sua família para que seguisse com a sua vida. Precisamos de democracia, diálogo, tolerância e paz".
O presidente Jair Bolsonaro (PR) foi outro que comentou sobre a morte do guarda municipal, neste domingo. "Independente das apurações, republico essa mensagem de 2018: dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos", afirmou Bolsonaro no Twitter.
Outros políticos e pré-candidatos à presidência também lamentaram a morte de Marcelo através das redes sociais.
Ciro Gomes (PDT) - Pré-candidato a presidente: "É triste, muito triste, a tragédia humana e política que tirou a vida de dois pais de família em Foz do Iguaçu. O ódio político precisa ser contido para evitar que tenhamos uma tragédia de proporções gigantescas. Que Deus, na sua misericórdia, interceda em favor de nós brasileiros, pacificando nossas almas, e traga conforto às duas famílias destruídas nesta guerra absurda, sem sentido e sem propósito".
Simone Tebet (MDB), pré-candidata a presidente: "Lamento profundamente as mortes violentas em Foz do Iguaçu. Me solidarizo com as famílias de ambos. Mas o fato é que esse tipo de situação escancara de forma cruel e dramática o quão inaceitável é o acirramento da polarização política que avança sobre o Brasil. Esse tipo de conflito nos ameaça enormemente como sociedade. É contra isso que luto e continuarei lutando. Tenho certeza que nós, brasileiros, temos todas as condições de encontrar um caminho de paz, harmonia, respeito, amor e dignidade humana suficientemente sólido para reconstruir o Brasil. Que o caso de Foz do Iguaçu faça soar o alerta definitivo. Não podemos admitir demonstrações de intolerância, ódio e violência política."

Luciano Bivar (União Brasil), pré-candidato a presidente: "Inadmissível onde chegamos. Esta doença 'política' contaminou nossa gente, até aqueles que amamos lá na casa da esquina."

Luiz Felipe d'Avila (Novo), pré-candidato a presidência: "Estamos caminhando a passos largos para a campanha política mais violenta que já vivemos. O assassinato do tesoureiro do PT, Marcelo de Arruda, em Foz do Iguaçu, era mais uma tragédia evitável. O vergonhoso silêncio de Bolsonaro só piora a situação."

André Janones (Avante), pré-candidato a presidência: “O debate ideológico sem qualquer base racional leva a tragédia que vamos lamentar profundamente. Ninguém vai conseguir explicar essa paixão que leva um ser humano odiar o outro por convicções políticas diferentes. Hoje nós vamos lamentar, desejar condolências às famílias. Mas e amanhã? Amanhã nós vamos esquecer como esquecemos o Genivaldo assassinado brutalmente em uma viatura? Aplaudir e agradecer agressores durante discursos em cima de palanques, como feito ontem? Nós vamos no chocar só com o agora? Não vamos mudar essa mentalidade? Nós vamos esperar que a tragédia, a barbárie chegue dentro das nossas casas pra combatê-la? Essa idiotização (que muitos chamam de polarização) não pode prevalecer. O Brasil precisa cuidar dos seus problemas reais, não criar novos.”

Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado: "O assassinato de um cidadão, durante a comemoração de seu aniversário com a temática do candidato Lula, é a materialização da intolerância política que permeia o Brasil atual e nos mostra, da pior forma possível, como é viver na barbárie. Devemos todos, especialmente os líderes políticos, lutar para combater este ódio, que vai contra os princípios básicos da vida em família, em sociedade e em uma democracia. A convivência com o contraditório deve ser mais do que respeitada. Deve ser preservada e estimulada, pois é dessa forma que podemos, por meio de diálogo e busca de consensos, evoluir para um país melhor. Duas vidas perdidas na tragédia. Meus sentimentos sinceros aos familiares."

Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal: "A intolerância, a violência e o ódio são inimigos da Democracia e do desenvolvimento do Brasil. O respeito à livre escolha de cada um dos mais de 150 milhões de eleitores é sagrado e deve ser defendido por todas as autoridades no âmbito dos 3 Poderes."

Gleisi Hoffmann (PT-PR), deputada e presidente nacional do PT: “Basta de violência! Basta de destruição! É tempo de reconstrução e transformação do Brasil e das relações entre brasileiros e brasileiras! Vamos chorar e enterrar mais um companheiro que tombou vítima da violência política, basta! Cobramos das autoridades de segurança pública medidas efetivas de prevenção e combate à violência política, e alertamos ao Tribunal Superior Eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal para que coíbam firmemente toda e qualquer situação que alimente um clima de disputa violenta fora dos marcos da democracia e da civilidade. Iniciativas nesse sentido foram devidamente apontadas pelo PT em várias oportunidades, junto ao Congresso Nacional, o Ministério Público e o Poder Judiciário.”

Baleia Rossi (MDB-SP), deputado e presidente nacional do MDB: "Inaceitável e triste o que ocorreu em Foz do Iguaçu (PR). Todas lideranças políticas precisam dar exemplo e condenar qualquer tipo de violência. Democracia é também respeito ao adversário."

Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB: "A sociedade e as famílias brasileiras não podem aceitar a intolerância política e a radicalização. A violência política afasta o Brasil da civilidade e é injustificável. O momento exige de todos nós o compromisso firme de trabalhar por um país unido e, principalmente, pacificado."

Juliano Medeiros, presidente nacional do Psol: "Infelizmente, aconteceu. O bolsonarismo fez sua primeira vítima na campanha eleitoral deste ano. O guarda municipal Marcelo Arruda foi assassinado essa noite durante sua festa de aniversário após levar três tiros disparados pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho. Esse é o resultado da campanha de ódio disseminada pelo presidente do Brasil. Isso precisa parar! Toda a solidariedade do PSOL à família de Marcelo, seus amigos e companheiros de militância. Exigimos punição exemplar ao assassino. Chega de violência política!

Sergio Moro (União), ex-ministro da Justiça: “Precisamos repudiar toda e qualquer violência com motivação política ou eleitoral. O Brasil não precisa disso.”

Alessandro Vieira (PSDB-SE), senador: “A tragédia em Foz do Iguaçu é infelizmente uma consequência previsível do clima de violência política armada que é estimulado diariamente por Bolsonaro e seus parceiros, com a tolerância do Congresso e dos órgãos de controle. Eleição não é guerra, somos todos brasileiros!”

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