José Eduardo Pessanha: Em busca do ganho fácil
José Eduardo Pessanha - Atualizado em 02/07/2022 01:00
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário
Em tempos de crise – e estruturas digitais, tem sido de alta proliferação as modalidades, novas e adaptadas de golpes aplicados em cidadãos, visando se apropriar de bens alheios, tudo no afã de auferir lucratividade, sem maior esforço e pautado na deslealdade e na ilegalidade.
São criminosos, cada vez mais jovens, muitos deles adolescentes, que do seio de seus lares, usam a rede mundial de computadores para invadir, confiscar dados e realizar operações não autorizadas, desviando fundos e destruindo vidas e economias realizadas a custo de muito suor e lagrimas. Muitos os chamam de “hackers”, mas são na verdade “ladrões de sonhos”.
É cruel ver os relatos de pessoas que, com a maior das boas vontades, muitas vezes buscando atender a pleitos de terceiros, supostamente em condições famélicas ou de risco e que tem seus computadores, celulares e contas bancárias surrupiadas, sem o menor pudor, muito das vezes ainda deixando mensagens sarcásticas ou com desfaçatez, fazendo pouco caso dos lesados. É comum o marginal ainda manter contato com os incautos, gerando climas de terror e insistindo em tornar refém o cidadão, muito das vezes já idoso e com pouco tato e familiaridade com os utensílios digitais.
Não pense poder se tratar de golpe exclusivo contra idosos: hodiernamente, com a escravidão da vida cotidiana ao meio digital, atrelada a curiosidade na vida alheia, sítios de redes sociais são meios propícios para os meliantes agirem, seja criando notícias falsas para direcionar os curiosos a seguirem suas “dicas”, seja oportunizando situações que claramente fogem a razoabilidade, mas o cidadão, desejoso de estar à frente dos demais, se enreda por caminhos tortuosos e acorda... mais adiante...em pleno prejuízo.
Numa boa parcela das vezes a ganância pessoal também auxilia aos criminosos, pois propostas claramente impossíveis de serem cumpridas, promoções fora de todo contexto, ofertas irreais são colocadas como “anzóis” para “pescarem” os ambiciosos e que acreditam que a melhor prática é “sempre levar vantagem”. É comum, quando perquiridos sobre o porquê adentraram naquela situação (clicando em links desconhecidos e/ou promoções suspeitas), ouvir dos lesados que se tratava de uma “proposta irrecusável”. Ora, mas é isso que os mentores dos golpes esperam: ganância doentia, ambição desmedida, descuido e despreparo, fontes que levam ao sucesso das tarefas criminosas.
Outro caso bastante comum é o que se dá em grupos de comunicação, como o conhecido WhatsApp, se passando por familiar em situação limítrofe e buscando a anuência do ente querido, cometendo fraude, abusando de sentimentos nobres como a caridade e o amor. Um ato bestial de pessoas que se revelam a excrecência da raça humana!
Não há como nos dias atuais, deixar de se ter uma dupla ou tripla verificação em sítios bancários, contas de cartões, programas de comunicação ou mesmo no sistema inicial dos aparelhos, micros ou celulares. Embora possa parecer cansativo e dificultoso, esta é a ideia: tentar impossibilitar o acesso a conteúdos por terceiros. Nos dias atuais, muitos já usam dois celulares (um guardado para transações de risco e financeiras e outro para uso simples de grupos de comunicação e ligações telefônicas), onde o segundo, se pungado, o prejuízo tende a ser menor. Cartões de crédito virtuais para uso único também tem sido uma excelente solução ou, quando muito, transite apenas com um cartão de crédito (desvinculado de sua conta bancária) para saídas contumazes (evitem cartões de débito e a habilitação de pagamentos por aproximação).
Os dados de seu celular devem ser criptografados e ter back-up em sistemas de nuvens, bem como portas para acesso remoto para bloqueio e localização à distancia, tornando imprestáveis os aparelhos. Este é o ônus da modernidade: mais trabalho, mas também é uma forma de (tentar) bloquear mentes brilhantes que, lamentavelmente, estão à serviço da criminalidade e desejam os “ganhos fáceis”.
Por fim, cabe aos políticos (no mais das vezes envolvidos com verbas, licitas ou não, mas com pouco apreço à realidade do Povo) e ao Judiciário, criar normas e implementá-las, respectivamente, de forma a esmorecer os meliantes, pois a cada dia fica mais desanimador o cenário, onde a polícia investiga, localiza e prende, mas as “regras”, que nos afiguram ter sido criadas pró-fraudadores, após um breve interregno temporal, os coloca novamente, á solta, para aviltar a vida cotidiana dos cidadãos de bem. Uma lástima.

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