Campos dos Goytacazes,  09/12/2021 17:43

Folha Artigos
09/12/2021 17:43 - Atualizado em 05/12/2021 10:25
Nélio Artiles: Riscos de alfa e ômega
Nélio Artiles Freitas - Atualizado em 09/12/2021 17:43
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
O alfabeto grego vai de alfa a ômega, constituído de 24 letras, instituído por volta de 750 a.C. A Organização Mundial da Saúde deixou de nomear as variantes da Covid-19 com o nome do país no qual elas surgiram e passou a usar letras do alfabeto grego, evitando preconceitos e estigmatizações. No fim de novembro as autoridades sanitárias da África do Sul comunicaram o surgimento de uma nova variante da SARS-CoV-2, com muitas mutações naquela proteína Spike da superfície viral, constituinte importante da maioria das vacinas.
A descoberta desta variante com tantas modificações fez com que a OMS de imediato a classificasse como uma nova variante de preocupação, denominada B.1.1.529 ou variante Ômicron. Após as conhecidas variantes alfa, beta, gama e delta, aparece a ômicron, pulando a letra“nu” que tem uma fonética semelhante a new, novo em inglês, e a letra “xi”, sobrenome do presidente chinês. Embora ainda se desconheça as características virológicas e epidemiológicas desta nova variante, é preciso redobrar a atenção e cuidado, sem pânico. 
São centenas de variantes detectadas continuamente, com a manutenção da circulação viral no planeta, porém só são destacadas algumas que precisam ser observadas biologicamente e epidemiologicamente. O que se sabe sobre esta variante até o momento, para ser considerada de preocupação, tem a ver com três características principais.
A nova variante não evoluiu a partir destas outras destacadas conhecidas, mas a partir de cepas que já circulavam no continente africano desde o início da pandemia, sugerindo que ela vem evoluindo e se adaptando através de diferenciação genética. Outro aspecto muito preocupante é o acúmulo de mutações, o que nunca havia sido identificado anteriormente na evolução do SARS-CoV-2. São mais de 50 mutações, sendo 32 delas na proteína Spike. Muitas já existiam nas outras cepas de importância e conhecidas por se associarem ao aumento de infecciosidade viral ou ao escape da resposta à vacina. Porém, ainda não se sabe quais outros efeitos, as mutações exclusivas e inéditas da Ômicron podem causar.
Outro destaque importante é que esta nova variante coincidiu com um expressivo aumento de casos nas regiões africanas, sendo capaz de se tornar rapidamente dominante, substituindo de forma competente a variante Delta, que predominava na região. Isto demonstra que a Ômicron tem grandes vantagens adaptativas numa competição direta com as demais variantes.
Apesar de haver indícios que as vacinas continuem a proteger indivíduos imunizados, inclusive contra esta nova variante, todo o cuidado é pouco, com ações protetivas e uma maior vigilância genômica em todos continentes. Enquanto o número de vacinados não chegue a um quantitativo expressivo da população mundial, haverá sempre o risco de preenchermos o alfabeto grego com variantes mais perigosas. Ninguém quer isto.
A vacinação completa, inclusive com as doses de reforços, certamente além de proteger individualmente, impedirá que novas variantes apareçam. As ações não farmacológicas continuam valendo, como o uso de máscaras em todos os ambientes, principalmente fechados, o distanciamento entre pessoas, e a minimização de aglomerações.

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