André Ceciliano diz que Cláudio Castro "só perde para ele mesmo" em 2020
Aluysio Abreu Barbosa, Aldir Sales, Arnaldo Nero, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel 30/10/2021 00:34 - Atualizado em 31/10/2021 12:51
André Ceciliano em entrevistado ao Folha no Ar
André Ceciliano em entrevistado ao Folha no Ar / Genilson Pessanha
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT) esteve em Campos na quinta e sexta-feira (29) para apresentar aos prefeitos e empresários da região o Fundo Soberano, uma espécie de poupança do excedente dos royalties do petróleo. A menos de um ano para as próximas eleições, a política e as movimentações para o próximo pleito também estiveram em pauta. Em entrevista ao Folha no Ar, da Folha FM 98,3, Ceciliano revelou que, além da amizade pessoal com o atual secretário estadual de Governo e deputado estadual licenciado Rodrigo Bacellar (SD), também possui proximidade com o prefeito Wladimir Garotinho (PSD). Além disso, aproveitou a estadia na planície para tomar chope com Caio Vianna (PDT), mostrando articulação entre os atores antagônicos da política goitacá. Articulação, essa, que apontou ser importante para ser eleito com candidatura única à presidência da Alerj, mesmo durante a onda bolsonarista e sendo filiado ao PT. O parlamentar, inclusive, declarou que a prioridade do partido no Rio de Janeiro é a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto e que é mais provável que ele mesmo seja candidato a deputado federal, mas sem descartar o Senado. Ao analisar o cenário estadual, o petista ressalta a amizade com o governador Cláudio Castro (PL) e o coloca como favorito ao Palácio Guanabara.
Tensão com Rodrigo Bacellar na Alerj – Primeiro, continuamos aliados. É um irmão, um amigo. Agora, o irmão também diverge. Muitas vezes, você diverge dentro de casa. Naquele momento, o que aconteceu foi que o um deputado, naquele instante, chegou para mim ali, na cadeira da presidência, e falou: “O governador me ligou, me ameaçou, falou isso, isso, isso”. E eu fiquei quieto. Veio outro deputado e falou a mesma coisa, mas estava falando isso em relação ao próprio deputado que tinha me falado. E eu pedi ao deputado: “Então, fica fora daqui, não aparece, porque eu vou falar aqui e vai aparecer na televisão”. Aí eu coloquei isso da ameaça. O líder do governo disse que não tinha ameaça, eu disse que tinha e que colocaria o meu mandato ali. E perguntei a ele: “Vossa excelência faz o mesmo? Renuncia o mandato se o governador ligou e ameaçou?”. Aí ele vacilou: “Não...”. Aí eu também respondi. Mas é normal, o parlamento é isso. Você tem a divergência, você tem o posicionamento muitas vezes favorável ou contrário. E, como eu disse, naquela votação era condicionante de só votar, só deixar ir à frente o leilão da concessão se nós tivéssemos o regime, porque o regime vai facilitar, nos próximos 10 anos, o pagamento do serviço da dívida. Nós vamos pagar nos próximos quatro, cinco anos. Primeiro: uma vez assinado o regime, que deve ser assinado a partir de janeiro, fevereiro o novo regime, o Estado vai ficar um ano sem pagar o serviço da dívida. E, nos próximos quatro anos seguintes, nós vamos ter um custo de em torno de R$ 9 bilhões. Nós estávamos pagando R$ 9 bilhões por ano do serviço da dívida, que está hoje em torno de R$ 170 bilhões. Então, o que a gente estava brigando ali não era contra. Inclusive, o governador, meu irmão, meu amigo, ele tem o posicionamento político dele, eu tenho o meu, não significa que tem que ser a mesma posição. Pelo contrário, a gente tem feito um trabalho excepcional de parceria: o Legislativo respeitando o Executivo, e o Executivo respeitando o Legislativo, que tem a função de fiscalizar, de propor leis. Eu acho que o Rio de Janeiro vive um momento importante de paz, de tranquilidade nos poderes: Tribunal de Justiça, Executivo, Legislativo e mais o Ministério Público. Vive um momento de harmonia, cada um fazendo o seu papel. Então, a gente tem ajudado muito o Estado. Quando a gente faz aquela disputa ali, naquele momento, era para condicionar a assinatura do regime. Agora, é como irmãos, a gente briga. Mas, essa noite eu fiquei na casa do Rodrigo. Passamos o dia ontem (quinta). Daqui a pouco, nós vamos estar voando para ver o Porto do Açu. Mas eu também, aqui, tenho amizade com o Wladimir Garotinho. Meu amigo. Também sentei ontem (quinta) e tomei dois chopes com Caio Vianna. Então, a gente também tem relacionamento político e a gente trata bem. O Rodrigo é um amigo pessoal, a esposa dele é amiga da minha esposa, a gente convive em família, gosto muito do pai, mas a gente também tem o nosso relacionamento político. A gente tem que respeitar isso. O governador, ontem mesmo, numa cerimônia, falamos da Assembleia como um todo, não do André. E às vezes não pensa igual, tem divergência, mas todo mundo quer que o Estado melhore. É fundamental essa harmonia entre os poderes, o que não significa que você vai estar do mesmo lado sempre.
Atuação na presidência da Alerj – A gente viveu uma transição nos últimos anos no Estado em relação ao Parlamento Estadual. Nós tivemos um grupo muito forte que comandou a política da Assembleia e no Estado, com (Jorge) Picciani e (Sérgio) Cabral, por 27 anos. E eu estou muito tranquilo de que a gente está fazendo um trabalho de transição na Assembleia. Eu fico interino a partir de julho de 2017, com o afastamento para tratamento do câncer do presidente Picciani; depois, tem, em novembro 2017, aquele afastamento de cinco parlamentares, depois de toda a confusão da economia quando o Estado quebrou. O Regime de Recuperação é o reconhecimento da falência do Estado. Então, eu tenho para mim que estou cumprindo um papel de uma transição na Assembleia Legislativa. A Assembleia sempre foi muito centro do poder político, quer seja do maior partido, que era o MDB, quer seja da influência em todos os poderes. O grupo tinha mesmo uma influência em todos: no Tribunal de Contas, Ministério Público, TJ. E tinha, é fato. Então, eu tenho uma consciência do papel de uma transição. O que virá depois, a gente não sabe, porque vamos ter uma eleição nova em 2022. Mas o trabalho de enxugamento da máquina da Assembleia que a gente fez nos últimos anos, economizamos uma média de R$ 500 milhões por ano em relação ao orçamento de R$ 1,2 bilhão. Há um novo momento da Assembleia, e aí eu acho que a pandemia potencializa isso, porque teve um afastamento e, agora, a volta semipresencial. A gente mudou. Em 2017, eu era interino do interino. O deputado, nosso saudoso amigo, Wagner Montes era o primeiro vice, eu era o segundo, mas ele mensalmente pedia licença: num primeiro momento, porque ele não queria ser o ordenador de despesa; depois, mais pela doença; mas eu era o interino do interino a cada 30 dias. E a gente mudou alguns procedimentos na Assembleia, de pauta de projetos, de reunião de líderes, de discutir... Tudo da Assembleia, depois de novembro de 2017 foi modificado. Tanto é que fui candidato único a presidente da Assembleia em 2019, por conta de todo o trabalho que fizemos em 2017 e 2018. Isso foi bom, salutar. Eu acho que a o Parlamento Estadual vive um novo momento. Eu não quero ser melhor ou pior do que ninguém, não quero comparar a nossa administração com ninguém, mas o fato é que a gente vive um novo momento. O meu partido elegeu três parlamentares de 70 cadeiras, fui candidato único, quando o presidente (Jair) Bolsonaro elegeu 12 parlamentares na Assembleia Legislativa. Então, mesmo com toda a tensão de 2018, com toda a polarização de 2018, conseguimos ser candidato único na Assembleia.
Candidatura a deputado federal ou senador em 2022 – Em relação ao futuro, eu acho que estou cumprindo esse papel. Não quero mais ser presidente da Assembleia, não pretendo ser candidato a deputado estadual. Isso é o futuro, pode acontecer, mas eu vejo a possibilidade grande de ser candidato a deputado federal, com algumas chances de ser candidato ao Senado, porque o que a gente tem visto e acompanhado... A política está dialogando muito conosco, alguns partidos têm me procurado, que vão lançar inclusive com candidato a governador, mas não vão lançar, segundo o próprio presidente do partido, candidato ao Senado, sinalizando que pode estar conosco, nos ajudando, independente de coligação do PT. Então, eu acho que a gente está reunindo a política em relação a questão do Senado. Mas, muita humildade. Eu, de verdade, não quero mais ser presidente (da Alerj). Eu acho que eu vou cumprir um papel de transição, de um novo momento da Assembleia, e poderei ser candidato a federal ou ao Senado. Mas, o Senado é muita conjuntura. O Senado não é o desejo da pessoa de que eu quero ser senador, é conjuntura. Eu acho que o que o Senado é o último voto que o eleitor define, muito próximo da eleição, a 15, 10 dias da eleição. E tenho para mim que fundamental em relação ao Senado é a conjuntura.
Prioridade é eleger Lula – Mais do que isso, nós, do Partido dos Trabalhadores, temos a consciência de que, em 2022, a prioridade é a eleição do presidente Lula. Então, o PT do Rio de Janeiro não quer ser candidato a governador, não quer ser candidato a vice nem ao Senado, porque a prioridade do PT do Estado do Rio de Janeiro é (promover) palanques para o presidente Lula. Então, temos muito muita tranquilidade. E vivemos também um momento único no PT do Estado. O PT está muito coeso em relação a isso, eu acho que isso ajuda muito, de não ter candidatos a esses cargos majoritários, para que a gente possa ter a tranquilidade. Fundamentalmente, para nós, é a eleição de 2022 do presidente Lula.
Cenário para 2022 – Eu acho que a incógnita de 2022 é o (Eduardo) Paes. Eu, há um tempo atrás, apostava que ele seria candidato. E ele brinca comigo: “Fala para o André que ele vai perder a aposta”. Em uma entrevista que eu dei para Mônica Ramos em um programa de televisão, eu disse a ela, e ela brincou com ele. Mas, é uma incógnita o Paes. É um momento importante, o Rio vive uma transição também, a capital tem problemas estruturantes seríssimos, principalmente financeiros. Mas foi anunciado, inclusive, um superávit já no primeiro ano das contas do município. O Paes é uma incógnita para onde ele vai, se ele vai lançar candidato; Felipe Santa Cruz é um belo candidato, uma pessoa muito competente. É um rapaz novo, que está fazendo um papel bacana a nível nacional na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), tem um histórico familiar do pai, e ele é o pré-candidato do Eduardo Paes. Então, há expectativa e perspectiva sobre o que vai fazer o Eduardo Paes em 2022: se ele será candidato, se ele lança o Felipe ou apoia algum candidato. Eu acho que o movimento do Paes vai dizer muito. Para onde o Paes for, pode definir a política do Estado. Marcelo Freixo é um parlamentar experiente, trocou de partido, saiu do Psol e foi para o PSB. Ele sempre vai aparecer muito bem porque ele tem um mandato muito propositivo, apesar de que, algumas vezes, a questão dos costumes, das minorias, pode, inclusive, atrapalhá-lo. Questão da defesa de algumas pautas nesse momento que o Brasil vive. Já foi pior, eu acho. Agora, está um momento propositivo. Mas ele, sem dúvida nenhuma, é um fortíssimo candidato. O PT conversa muito com ele. A aliança do meu partido, a nível nacional, prioritária é com o PSB, com o PCdoB, e, possivelmente, com o Freixo na capital, no Estado. Tem o Rodrigo Neves, que é um candidato fortíssimo. Rodrigo tem um mandato muito propositivo em Niterói. O Rodrigo com 6%, 7%, 8%, como apareceu na pesquisa de ontem, é um candidato importante, tem experiência administrativa, é trabalhador. Eu não acredito nas duas candidaturas até o final, Freixo e Rodrigo. Vai ter que ter a política, vai ter que ajustar isso no próximo ano. Não dá pra ter dois candidatos mais de centro-esquerda e esquerda, na minha opinião. Acho que isso vai se ajustar, e a política se resolve. Na política, tudo se resolve. Você olha, acha que não pode, mas pode. Política é você ter que ter, no final, um caminho, e eu acho que o caminho não dá para ter dois candidatos de esquerda. Vamos ter que construir uma unidade no futuro. E o Cláudio Castro está fazendo um bom trabalho, eu acompanho, sou amigo dele. Faz um belíssimo trabalho, tem todas as condicionantes. Para ter 16%, é muito, é um percentual alto para quem é desconhecido de mais de 50% da população. Então, eu falo aonde vou: o Cláudio só perde pra ele mesmo, porque está com a máquina, tem dinheiro como nunca no Estado. Se ele vai conseguir executar todo esse recurso... Por exemplo, só o superávit que vamos ter em 2021, a máquina do Estado não tem não capacidade de licitar isso em seis, sete meses, que é o prazo para começarem as obras para antes da eleição. Mas está tocando, tem coisas acontecendo no Estado, tem parcerias com os municípios. Então, 16% é um percentual significado dele, mas a eleição está aberta. Eu acho que os grandes eleitores de 2022 serão o presidente Lula e o prefeito Eduardo Paes no Estado do Rio de Janeiro. O que o prefeito vai fazer, eu acho que pode definir tudo. O prefeito pode apoiar um outro candidato ou pode apoiar mesmo o Felipe ou mesmo o Cláudio. Então, está muito aberto. É uma incógnita. O Eduardo é um player que tem que ser olhado. O Eduardo vai fazer a maior bancada de deputados federais, vai ser o partido do Eduardo, o PSD, que se reposicionar nacionalmente, principalmente na região Sudeste, principalmente em São Paulo, Rio e Minas Gerais. Então, a eleição presidencial vai passar por aqui também, nessa nossa região. Isso eu acho que vai definir para a eleição de 2022 para presidente da República.
“Volta à política em 2022” – De novo: a prioridade do Partido dos Trabalhadores é a eleição do presidente Lula em 2022. Em relação à constituição dos palanques, a prioridade do partido é o arco de aliança, e quem está conduzindo isso são a presidente (nacional) Gleisi (Hoffmann) e o presidente (estadual) João Maurício. Logicamente, nós tivemos a candidatura do (ex-governador Luiz Fernando) Pezão, por exemplo, estava alinhada com Aécio Neves, mas teve a Dilma (Rousseff) com o próprio Pezão (em 2014). A política se resolve, se ajuda. Boi voar em 2022, eu acho difícil, mas vai melhorar muito. Eu acho que está voltando para política. O que a gente viu em 2018, em 2020 já não foi a mesma coisa. O outside de 2018, e não estou nem dizendo do presidente da República, porque ele já tinha mandato de 27 anos como deputado federal, mas o novo, aquela coisa de que você elegeu fora da política, ele volta em 2020. Tem um personagem muito importante a nível nacional que diz o seguinte, vou fazer um paralelo. Ele diz assim: “André, sabe aquela empresa ou aquele órgão que você diz ‘sob nova direção’? Em 2022, o eleitor vai voltar para política, e você vai ter que botar uma placa: ‘Sob velha direção’”. É verdade, tem que voltar para a política, com todas as suas virtudes e os seus defeitos. É fundamental ter pluraridade de ideias, de opiniões, respeitar os extremos, a opinião da direita, da direita como a gente nunca viu, e da esquerda, porque é preciso debate. É preciso, mas tem que ser na política. Fora da política, não existe democracia. Com todos os defeitos e virtudes, não tem nada melhor do que a democracia. Já inventaram outros sistemas. Com todos os defeitos, não tem nada melhor. A cada dois anos temos eleições: prefeito, vereadores, deputados estaduais, federais, senadores, governador e presidente da República. Esse exercício é que vai fazer com que a gente possa caminhar com mais clareza, porque fora da política não há salvação. O sujeito pode não gostar, pode gostar. Ontem (quinta), em um debate aqui na CDL, foram feitas perguntas, e eu disse: “Eu não tenho vergonha de ser político e nem vergonha do meu partido. Ao contrário, meu único partido, eu me orgulho do meu partido. Tem pessoas sérias em todos os partidos, como também tem gente que não presta em todos os partidos”. Não me sinto melhor do que ninguém. Eu me dedico ao que eu faço, me considero trabalhador aplicado. Não sou melhor do que ninguém, mas eu procuro estudar, ler um pouquinho e me dedicar ao que me proponho a fazer. Então, 2022, eu acho que vai voltar para a política. Já voltou um pouco em 2020. É fundamental porque a gente não pode testar, ter experiência nenhuma. Eu acho que a gente precisa ter o debate certo, posicionamentos de esquerda, de direita, de centro, centro-esquerda, centro-direita, mas a gente precisa voltar para a política, que é fundamental para a nossa democracia.
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