Violência contra criança e adolescente cresce durante a pandemia
Joseli Matias - Atualizado em 12/06/2021 01:48
Um bebê de dois meses passou 68 dias lutando pela vida no Hospital Ferreira Machado (HFM), após ser agredido pelo pai em São Fidélis, no dia 2 de abril. O ato de covardia ganhou repercussão e revoltou a sociedade, entretanto, não se trata de um caso isolado. Somente em Campos, centenas de crianças e adolescentes têm sido vítimas de violência todos os anos e esse quadro se agravou durante a pandemia da Covid-19.
De acordo com a Promotoria de Tutela Coletiva da Infância e Juventude, no ano de 2020, foram registrados 763 casos de violência contra crianças e adolescentes no ambiente doméstico em Campos, um aumento de 31,3% em relação ao ano anterior, que teve 581 registros. Somente no primeiro trimestre de 2021, 227 casos já haviam sido reportados, elevando a estimativa para este ano.
As crianças entre zero e 7 anos de idade são as mais atingidas pela violência, que acontece, na maioria dos casos, em ambiente doméstico e tem os pais, outros familiares e demais responsáveis pelos menores como autores das agressões. As denúncias tratam de casos de violência física, psicológica e sexual.
A promotora de Tutela Coletiva da Infância e Juventude, Anik Assed, explica que o isolamento social imposto pela pandemia e a consequente suspensão das atividades escolares têm contribuído para o aumento dos casos de violência e, ainda, com a subnotificação.
— É preocupante o aumento de casos identificados pelos Conselhos Tutelares de violência sofrida por crianças e adolescentes, especialmente porque é grande ainda a subnotificação da violência contra menores, uma vez que o isolamento, a suspensão de aulas e de outras atividades presenciais dificultam a percepção por professores e outros adultos do cenário que pode estar sendo vivenciado pelos infantes, diminuindo o número de denúncias. A situação ainda piora tendo em vista a crise financeira, agravada pela sanitária decorrente da pandemia. O uso de álcool e drogas pelos responsáveis e conflitos no ambiente doméstico são os principais fatores que desencadeiam a violência contra menores — destacou Anik Assed.
Segundo a promotora, familiares, vizinhos e, em alguns casos, a própria vítima realizam as denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Em geral, são feitas pelos canais próprios: Disque 100, Ouvidoria do Ministério Público, telefone 127, Whatsapp (21 99366-3100), pela internet (http://www.mprj.mp.br/comunicacao/ouvidoria) e, ainda, diretamente aos Conselhos Tutelares.
— É importante que todos estejam atentos aos sinais de alteração de comportamento nas crianças e adolescentes, que podem indicar a ocorrência de violências — ressaltou a promotora.
Violência sexual — Segundo a Vigilância Socioassistencial da secretaria de Desenvolvimento Humano e Social de Campos, atualmente 118 das 694 famílias acompanhadas nos três Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Crea) por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi) apresentaram a violência sexual como uma das violações vivenciadas, o que representa 17% de todo público atendido nos Creas.
Bebê recebe alta após 68 dias internado
Após 68 dias internado, o bebê de dois meses agredido pelo pai em São Fidélis recebeu alta do Hospital Ferreira Machado nessa quarta-feira (9). A recuperação foi comemorada pelo tio Agnaldo Rangel Couto e outros familiares, além de funcionários da unidade hospitalar. A criança deu entrada no HFM no dia 2 de abril com afundamento de crânio, diversos hematomas no tórax causados por mordidas e fraturas nas costelas.
“A gente está saindo de um pesadelo e entrando em um sonho. Se Deus quiser, agora só vai ser coisa boa. Só tenho a agradecer. Esses 68 dias de luta se transformaram em glória”, disse o tio em um vídeo postado por ele.
A princípio, o bebê havia sido levado pelos pais ao Hospital Armando Vidal, em São Fidélis. A polícia foi acionada por funcionários da unidade e o casal encaminhado à 141ª Delegacia de Polícia (São Fidélis). Aos policiais, a mãe, de 21 anos, contou que a criança foi agredida por bandidos, quando ela saiu de casa para procurar o marido, de 20 anos, pai do bebê. No entanto, o pai teria admitido a agressão em depoimento na 134ª DP (Centro-Campos), para onde o casal foi conduzido. Segundo a polícia, o pai, que foi preso, disse que o choro da criança motivou as agressões.

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