Metrópolis no Cineclube Goitacá
13/08/2019 16:15 - Atualizado em 26/08/2019 13:45
Divulgação
O filme “Metrópolis” (Metropolis, 1927), dirigido pelo austríaco Fritz Lang, será a atração de hoje do Cineclube Goitacá. A apresentação será do historiador Aristides Soffiati, que romperá com sua tradição de exibir filmes curtos para levar ao público um longa-metragem com pouco mais de duas horas de duração. Crítico de cinema da Folha da Manhã, Edgard fez uma crítica sobre a obra, classificada como “um dos pilares do cinema de todos os tempos”. A sessão está marcada para as 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, situado no cruzamento das ruas Conselheiro Otaviano e 13 de Maio, no Centro de Campos. A entrada é gratuita.
Crítica de cinema
Por Edgar Vianna de Andrade
O roteiro de “Metropolis” é meio piegas para Fritz Lang. Normalmente, o diretor austríaco colocava pessimismo, amargor e ceticismo em seus filmes. Em “Metropolis”, superprodução de 1927 que se transformou num dos pilares do cinema de todos os tempos, o diretor mostra uma cidade futurista, com edifícios de arquitetura arrojada, com metrôs de superfície e com população ativamente circulando em suas ruas movimentadas. A vida fervilha. Todos são felizes. Mas essa felicidade depende dos operários que se esfalfam nos subterrâneos para manter a cidade em funcionamento. Ela é como uma grande empresa dirigida por um homem frio e mau.
Os operários se comportam como zumbis nos porões de Metropolis para mantê-la em funcionamento. De vez em quando, ocorrem acidentes com vítimas fatais, algo considerado normal pelo patrão todo-poderoso. Seu filho descobre, logo no início do filme, esses escuros porões e se compadece dos pobres trabalhadores. Antes de descer a esse Hades, ele fica impressionado com Maria, filha de um dos operários, que fica cuidando de crianças enquanto os pais trabalham. Ela mostra os felizes moradores da superfície e os chama de irmãos. Foi amor à primeira vista entre um rico e uma pobre. Trata-se de um tema antigo e muito comum.
A divisão da sociedade em classes é representada fisicamente: em cima, os ricos; embaixo: os trabalhadores. O patrão descobre que os operários conspiram contra ele e incumbe um cientista do mal a substituir a bela e generosa Maria por um robô. O cientista trabalhava para o patrão e já planeja substituir operários por robôs. Já se levantava a questão da robotização do trabalho. O robô que se passa por Maria olha para todos, inclusive para os espectadores, com um olho caído e a boca derreada para mostrar que é má. Os operários se arrastam com zumbis para deixar claro que são mortos-vivos. O filme é muito teatral. O corpo e as expressões devem ser usados com intensidade para compensar a ausência de palavras.
O tiro sai pela culatra. A robô incita os operários a quebrarem as máquinas e tomarem o poder. Um entre eles demonstra serenidade e ponderação. Quebrar máquinas, como os luddistas da revolução industrial, é destruir-se a si mesmos. A verdadeira Maria reaparece e tudo se esclarece. Nem dominação nem revolução, mas acordo e paz cristã. O fiador é o filho do patrão. É o mediador esperado por Maria.
Lang parece repudiar a solução bolchevique e fascista, já em vigor. O nazismo está a caminho. Mas o grande mérito do filme está na estética expressionista. É indubitável que o célebre diretor recolheu toda a tradição alemã. “O gabinete do Dr. Caligari” está ali, e toda a tridimensionalidade do filme marcará o cinema do futuro, inclusive o que exige óculos 3D. A eletricidade como elemento de transformação da realidade aparecerá em “Frankenstein” e em quase todos os filmes de ficção científica do futuro. “Tempos modernos”, de Chaplin, tem influência de “Metropolis”, mas com a crítica mordaz e bem-humorada do diretor inglês. Pode-se dizer o mesmo do anarquista “A nós a liberdade”, de René Clair. E o claro-escuro caravaggiano? E as brumas e as sombras? Enfim, não há filme de ficção científica que não tenha dívida com “Metropolis”.

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