Crítica de cinema - Águas profundas
- Atualizado em 13/08/2018 17:52
Divulgação
(Megatubarão) —
Muitos perigos têm saído do fundo do mar. Os mais conhecidos são lulas, polvos, crocodilos marinhos, lagartos gigantes, piranhas adaptadas à água salgada, baleias assassinas... Mas nenhum supera os tubarões. Steven Spielberg se tornou conhecido como diretor com “Tubarão”, seu terceiro longa para o cinema. Esse filme abriu as portas dos mares para que muitos tubarões saíssem por elas. Nenhum conseguiu superar o primeiro tubarão. Mais que um animal com puro instinto, no filme os tubarões se transformam em seres inteligentes, cruéis, perseguidores e vingativos. Com tamanhos desejos assassinos, os tubarões merecem ser eliminados. Curioso que o músico argentino Astor Piazzzola acreditasse nessa sanha dos tubarões, pelo menos para justificar seu gosto por caçá-los.
Enfim, depois do “Tubarão” de Spielberg, apenas um filme dos muitos a que assisti (não me vanglorio de ter visto todos), o que conseguiu alcançar um alto nível de tensão e de qualidade foi “Águas rasas”, de Jaume Collet-Serra, lançado em 2016. Bastaram uma hora e meia com uma praia, uma mulher e um tubarão. Parecia até uma versão atual de “O velho e o mar”.
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
“Megatubarão” foi dirigido por Jon Turteltaub, cineasta experiente, embora não conte com um grande filme no seu currículo. A China financiou a produção. Tanto que o cenário habitado por pessoas é chinês. Mais um a confirmar a tendência de que os filmes chineses são produzidos nos Estados Unidos ou filmes deste país estão se voltando para o ávido mercado chinês. O país não tem a mesma tradição cinematográfica do Japão, da Índia e agora da Coreia do Sul. Fica mais barato encomendar um filme aos estúdios norte-americanos que montar toda uma infraestrutura de produção.
Para tanto, artistas chineses devem participar dos filmes como protagonistas. Em “Megatubarão”, o astro é Jason Statham, especializado em papeis de ação extrema. A mocinha é representada por Bingbing Li. Depois de ter salvado a maior parte da tripulação e sacrificado outra parte de uma nave submarina atacada com um ser misterioso, o personagem de Jason é acusado por ter deixado pessoas morrerem e se aposenta. Cinco anos mais tarde, um submarino lançado numa bilionária pesquisa a uma fossa oceânica é atacado novamente pelo estranho ser e jaz no fundo do mar com a tripulação viva.
Por mais que a tecnologia tenha avançado e existam equipes preparadas para salvamento de alto risco, só existe uma pessoa no mundo capaz de resgatar um submarino em tão grande profundidade: Jason Stathan, que agora vive preguiçosamente na Tailândia bebendo. Como sempre, ele é uma pessoa de pouca conversa, meio intratável, de pouco riso e sempre disposto a dizer não. Seus papéis criaram um protótipo. Jason não pode viver em paz, pois sempre o perseguem ou o procuram para uma missão de alto risco. Seu físico perfeito atrai as mulheres. Bingbing Li sente-se fascinada por ele quase nu.
“Megatubarão” não apenas traz à tona um gigante animal das profundezas do mar, mas desenterra — melhor, deságua — um megalodonte, o maior tubarão de todos os tempos, mas já extinto. Não apenas um, mas dois. Como sempre, existem os cientistas sérios e o empresário inescrupuloso e covarde. Como sempre, há uma criança para aumentar a tensão. Como sempre, há uma luta descomunal entre uma pessoa e um monstro. Como sempre, o monstro perde quando tem tudo para ganhar. Agora, existe uma tendência ao ecologicamente correto. Mas o tubarão é cruel. Ele procura pessoas indefesas numa praia para atacá-las. Enfim, o filme não consegue criar tensão convincente. Daí lançar-se mão de um segundo tubarão e de uma praia mais cheia que a de Ipanema.

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