Crítica de cinema - Sobre o amor e a sobrevivência
- Atualizado em 10/08/2018 18:08
Divulgação
(Vidas à deriva) - O apelo de “Vidas à deriva” com o grande público é trazer um jovem casal de atores em ascensão, em uma história real que mistura romance com filme de sobrevivência. Toda a divulgação ressalta como o romance vai permitir aos dois ter forças para sobreviverem àquela situação extrema. De fato, o romance é um elemento forte, mas a maior qualidade do longa é o pragmatismo com que lida com a situação extrema após o furacão.
Baseado em uma história real, o filme acompanha a aventureira Tami Oldham (Shailene Woodley) que chega ao Taiti sem muitos planos e acaba conhecendo o velejador Richard Sharp (Sam Clafin). Após se apaixonarem, eles saem juntos para levar um iate até a costa da Califórnia quando são atingidos por um furacão. Após sobreviver ao incidente, Tami encontra o barco destruído e Richard gravemente ferido. À deriva, ela precisa lutar pela vida dos dois.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Ao trabalhar a história em dois momentos diferentes simultaneamente, o roteiro permite uma dinâmica interessante, pois apresenta os protagonistas ao mesmo tempo em que já os mostra na situação limite após o furacão, permitindo assim apresentar informações que se complementam e criam um ritmo que suaviza características da história que poderiam ser bem problemáticas, como o romance exagerado e suavizar a falta de ação devido à natureza de toda situação.
Essa dinâmica e ritmo funcionam também pela eficiente montagem do experiente John Gilbert (O senhor dos anéis: A sociedade do anel) que transita entre os dois segmentos com fluidez possibilitando o desenvolvimento do casal e de seu relacionamento, sem perder a tensão do iate destruído na imensidão do mar.
Dirigido pelo islandês Baltasar Kormákur (Dose dupla), o cineasta abre o filme com dois longos planos que são muito bem sucedidos em estabelecer a realidade e dramaticidade da situação. Kormákur também utiliza com inteligência planos abertos que trabalham a infinitude do mar para passar a solidão e a sensação do quão perdido do mundo está o casal.
A linha do tempo que mostra o encontro do casal é eficiente, mas não traz muitos destaques. Já o segundo segmento explora bem visualmente o contraste da dramática situação com as belezas do mar, do céu, criando momentos melancólicos e belos. Ao abordar a situação de forma bem direta, o filme torna real muito da gravidade da situação, porém o longa escorrega justamente ao exagerar em alguns momentos no melodrama, tudo em prol de uma reviravolta.
O filme praticamente conta somente com o casal de atores que interpretam os protagonistas. Sam Clafin demonstra carisma e sua química com a parceira é essencial para o funcionamento do longa. Mas quem carrega o filme é mesmo Shailene Woodley, esbanjando carisma, ela ainda demonstra força e convence como sobrevivente.
Narrando uma história real impressionante, que demorou a ganhar as telas, a maior qualidade de “Vidas à deriva” é sua eficiência em mesclar o romance com filme de sobrevivência, sem deixar que um sobressaia o outro. É um filme correto, que se não chega a emocionar, também não pesa a mão, mas se destaca em filmes deste estilo.

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