Médica, mãe e emoção de trazer à vida
Jhonattan Reis 11/05/2018 21:43 - Atualizado em 15/05/2018 14:00
No momento em que a criança nasce, a primeira pergunta que geralmente a mãe faz para a gente é ‘doutora, está tudo bem com ele (a)?’. Elas não querem nem saber de mais nada, nem da sua própria saúde. Só se seu filho ou filha está com saúde”. O relato é da médica ginecologista e obstetra Tânia Araújo, que é mãe de dois filhos e há mais de 30 anos vê mulheres se tornando mães em vários hospitais de Campos. A sensação, conta ela, é inexplicável.
Tânia Araújo
Tânia Araújo / Arquivo Pessoal
— Posso dizer que é muito boa. É gratificante a gente ver a felicidade da família, da mãe com o bebezinho no colo. E quem é mãe sabe da sensação de ser mãe. Assim como acontece com os animais, nós temos aquele cuidado especial com nossas crias. Também tem o outro lado, que é depois do parto. É perceptível a mudança na vida das mulheres depois de se tornarem mães. É frequente ouvir no consultório o quanto isso mudou a vida e a cabeça de uma paciente. Elas contam que passaram a pensar diferente, começaram a fazer tudo pelos seus filhos — disse Tânia.
O interesse de Tânia pela ginecologia e obstetrícia surgiu no sexto ano de faculdade. Ela gostaria de se especializar em uma área clínica, mas também queria ter contato com a parte cirúrgica da profissão.
— Então, ainda quando era estudante, comecei a acompanhar algumas cirurgias e passei a gostar. Inicialmente, pensei em fazer uma especialidade de cirurgia geral. Porém, depois de pouco tempo, em um hospital no Rio de Janeiro, comecei a sentir que, na verdade, não queria exatamente aquela parte de cirurgia geral. Foi aí que meu marido, Jair Araújo (médico cirurgião geral e mastologista), que era meu namorado nessa época, me deu ideia de fazer ginecologia e obstetrícia. Eu, então, me formei, com 23 anos de idade, fiz residência na área, me especializei e comecei, cada vez mais, a me apaixonar por ginecologia e obstetrícia, área que comecei a trabalhar logo em seguida e trabalho até hoje, cerca de 35 anos depois — lembrou ela.
Depois de se especializar no Rio de Janeiro, Tânia voltou para Campos, onde se casou e teve seus dois filhos, Igor Moraes Araújo, que é médico fisiatra e hoje tem 31 anos, e Karla Moraes Araújo Puglia, ginecologista e obstetra, de 29.
— Interessante é minha filha ter escolhido a mesma profissão. Vou explicar o porquê: durante minha vida, na correria de quem é obstetra, profissão que trabalha de dia, de tarde, de noite e não tem hora de trabalho, eu não podia estar perto de casa e minha filha sempre reclamava. Meu filho não era tão questionador, mas ela expunha mais sua insatisfação e dizia: “Mamãe, você não é uma boa mãe. Nunca cuida dos seus filhos. Só pensa nos seus pacientes”. Ela era muito pequena e não entendia o meu trabalho. Já aconteceram várias situações do tipo: eu sair do consultório às 20h, ir para casa e, pouco depois de chegar, receber ligação informando que a bolsa de uma paciente estourou e, com isso, ter que correr para o hospital e só chegar a casa por volta das 6h, tendo que emendar o trabalho do dia seguinte — contou ela.
Arquivo Pessoal
Isso fez com que Karla, filha de Tânia, ainda pequena, tivesse certo receio da profissão.
— Ela sempre dizia: “Nunca vou ser médica, porque eu quero ser uma boa mãe quando tiver filhos”. E a surpresa é que, à medida em que ela foi crescendo, decidiu ser médica. Não influenciei, só observei e deixei que ela mesma escolhesse. Quando ela entrou na faculdade, me disse que nunca seria obstetra e ginecologista, que preferia ser de outra área, como a dermatologia. Eu apenas comentei que achava legal. E sempre busquei não influenciar e deixá-la decidir o que queria fazer, sendo que minha filha sempre foi uma pessoa muito independente em suas escolhas.
E a escolha acabou sendo a mesma da mãe.
— As outras áreas não provocaram tanto interesse nela. E acabou que, quando ela foi para a maternidade, viu as crianças, as mães parindo, começou a gostar de ginecologia e obstetrícia. Ela falava: “Mãe, nasceu tanta criança. Estou apaixonada”. Daí ela terminou a faculdade, foi para o Rio de Janeiro, fez residência, pós-graduação, se especializou e hoje trabalha com ginecologia e obstetrícia. E a gente agora vai até a congressos juntas. Hoje em dia ela entende o que tirava a mãe dela de casa quando ela era pequena — contou, aos risos.
Arquivo Pessoal
Ser mulher, médica ginecologista e obstetra e mãe é algo que Tânia contou ser muito prazeroso.
— A área é cansativa, porque muitas vezes você vai a uma festa, chega à casa doida pra dormir e recebe uma ligação de uma paciente dizendo que rompeu a bolsa. Mas você tem prazer naquilo, porque quando você chega no hospital e se depara com todo aquele envolvimento da família, aquela espera para o bebê nascer, você vê que tudo vale a pena. Muitas vezes cheguei super cansada em casa, de manhã cedo, mas com o pensamento bom de que o neném da paciente veio bem e saudável — relatou.
Tânia Araújo falou, também, que sua relação com suas pacientes é ótima.
— Adoro participar desses momentos, que para elas são tão importantes. Por eu ser mãe também, muitas se identificam e me perguntam algumas coisas do tipo: “doutora, a senhora é mulher e mãe. Já passou por isso, não é?”, “doutora, você é mãe e me entende, não entende?”. Não obrigatoriamente uma médica obstetra tem que ser mãe, claro. Mas eu me sinto bem em poder me colocar no lugar da paciente, por estar familiarizada com aquela situação, por já ter vivido aquilo — disse ela, que ainda não tem netos. “Mas, se eu não fizer o parto, com certeza vou estar ali do lado”.

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