Lula provou que dia de muito é mesmo véspera de nada
Edmundo Siqueira 29/08/2022 18:54 - Atualizado em 29/08/2022 18:58
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A liderança e carisma de Luiz Inácio é incontestável. O que, mais uma vez, foi provado na entrevista ao Jornal Nacional da Rede Globo, na última quinta-feira (25). Ali Lula esquivou-se das flechadas em seus dois calcanhares de Aquiles: corrupção e Dilma Rousseff.

Foi festejado pela militância e por muitos simpatizantes como a melhor entrevista da série de sabatinas no JN. Falando em uma linguagem acessível e com as conhecidas analogias futebolísticas, Lula foi mesmo bem.

Mas o debate de ontem (28), na Band TV, foi um fiasco para o ex-presidente. Como era previsível — por estar na frente das pesquisas e por seu histórico recente —, Lula foi o alvo principal dos debatedores. Corrupção como tema principal. Visivelmente nervoso, dessa vez não soube contornar os ataques.

Enquanto esfregava as mãos, em gesto típico de quem não se sente à vontade na situação, Lula tentava falar em tom moderado, mas não convencia. Seu principal opositor da noite, o candidato Bolsonaro, logo o escolheu para ser inquirido, e introduziu o assunto dizendo: “corrupção”.

Lula quis repetir a fórmula usada na JN, dizendo que nos seus governos foram criados diversos mecanismos de controle da corrupção, e que os desvios só são mostrados quando se investiga. Novamente recorreu às anotações. Se limitou a ler a defesa escrita, que por sua vez se limitava a relacionar as leis de combate à corrupção e de transparência. Mas dessa vez não funcionou e Lula se mostrou inseguro. Não convenceu.
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Com Simone Tebet (MDB) em uma noite inspirada e Soraya Thronicke (União) chamando Bolsonaro de “tchutchuca”, e com a dobradinha ensaiada das candidatas, Lula ficou apagado. Tentou em alguns momentos retomar a verve habitual, mas, sem sucesso.

Quando chegou o momento de outro embate esperado — Lula e Ciro Gomes — o petista ensaiou uma conciliação. Disse que respeitava o pedetista, que Ciro seria uma das três pessoas no Brasil que ele “trata com deferência”, e que o “amigo” teria o “coração mais mole que a língua”. Ciro, no púlpito ao lado, parecia gostar do que ouvia, até a frase final de Lula, que estragou qualquer chance de reconciliação: “eu espero que o Ciro, nessas eleições, não vá para Paris”.

O que parecia ser uma fala de aproximação, se transformou em discórdia. Ciro contra-atacou e flechou, mais uma vez, um dos calcanhares de Lula. Expôs a corrupção evidente dos governos petistas, e potencializou o ataque de todos os outros candidatos no mesmo tema.

Ciro estava mais à vontade do que na entrevista no JN. Embora tenha usado os adversário de “escada” para falar de seus projetos e realizações em Sobral e sem debater de fato com seus pares, conseguiu impor ritmo ao debate, trouxe Bolsonaro para responder às graves incoerências — e inconsequências — do seu governo, e lembrou o desastre econômico do governo Dilma.
Mas a luta mais esperada da noite era entre Lula e Bolsonaro. E o primeiro round já começou com nocaute do atual presidente. Lula poderia dizer sobre as corrupções do governo Bolsonaro, sobre a mansão comprada por Flávio Bolsonaro, sobre o escândalo no MEC, sobre rachadinha, sobre Queiroz, e tantos outros assuntos que equilibrassem o jogo. Mas decidiu não fazer, e voltou a ler anotações.

Mesmo quando foi chamado de “ex-presidiário” por Bolsonaro, e pediu direito de resposta, e esse foi concedido, se manteve na defensiva, dizendo-se vítima. Seja por estratégia mal formulada, por cansaço, ou ainda por decisão de se poupar de embates mais agressivos, Lula saiu mais fraco, em um dia de “derrota” depois da “vitória”. Dia de muito, é véspera de nada.

Lula, diferente do protagonista e maior guerreiro da Ilíada de Homero, Aquiles, tem vários pontos fracos. As eleições não devem ser uma guerra, mas sem dúvida é uma batalha de narrativas e retórica. Onde territórios conquistados são perdidos de um dia para o outro.

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