Cinema: Redefinição de um gênero
Felipe Fernandes - Atualizado em 06/04/2021 15:42
OPERAÇÃO FRANÇA — A filmografia de William Friedkin é formada em sua maioria por filmes pessimistas, que retratam uma realidade degradante e formada por personagens imorais. Em 1971, sua carreira deslanchou com o lançamento de “Operação França”, um filme policial intenso que remodelou o gênero e se mostra influente até hoje.
Baseado no romance de Robin Moore, o filme é uma adaptação fiel ao livro, que conta a história real da maior apreensão de heroína da história da polícia de Nova York.
Acompanhamos uma dupla de policiais da narcóticos, interpretados por Gene Hackman e Roy Scheider, que descobrem uma quadrilha de traficantes internacionais agindo na cidade e passam a perseguir um francês que eles acreditam ser o chefe do grupo. Porém, o temperamento dos dois policiais pode pôr a investigação em risco.
O filme teve muita dificuldade para sair do papel. Na história, fugindo do convencional do gênero, o protagonista violento e a abordagem diferente proposta pelos realizadores fizeram com que o projeto fosse recusado em vários estúdios, até encontrar o local ideal para sua realização.
Trazendo sua experiência em documentários para o longa, Friedkin construiu uma narrativa policial crua, mostrando uma Nova York, suja, um estilo degradante. Buscando reproduzir ao máximo a experiência dos policiais nas ruas, o diretor imprime um ritmo intenso ao filme, que junto às várias perseguições, cria uma narrativa realmente tensa.
Realizando um trabalho de câmera excepcional, Friedkin insere sua câmera dentro das perseguições, transformando-a quase que em um personagem e, consequentemente, inserindo o espectador nas perseguições (artifício que é usado até hoje).
Chama a atenção o grau de realidade e tensão das perseguições, já que se tratam de perseguições de diferentes estilos, sem muita firula, culminando na famosa e clássica perseguição ao trem. Uma cena longa, em que muitos dos acidentes em cena de fato ocorreram — fruto de uma época em que o cinema era mais focado em reproduzir realidade e menos em efeitos especiais.
O filme teve consultoria da dupla de policiais reais, que levaram o elenco e membros da produção para conhecerem locais reais de tráfico de drogas, o que elevou o grau de perfeccionismo da reprodução.
A dupla de protagonistas é um capítulo à parte. Friedkin e o roteirista Ernest Tidyman subvertem as personalidades, transformando os protagonistas em pessoas de moral reprovável. Violentos, preconceituosos e obsessivos, eles são uma personificação das mazelas da cidade.
As atuações de Hackman e Scheider também enriquecem a composição dos personagens. Hackman foi premiado com o Oscar por sua atuação e se tornou um dos grandes atores de Hollywood após essa produção.
“Operação França” é um clássico policial que influenciou profundamente o gênero. Seja por sua abordagem realista, pelos personagens de moral duvidosa ou por suas perseguições impressionantes, é difícil ver um filme do gênero que indiretamente não tenha sido influenciado pela obra.
A obra ganhou cinco Oscars, entre eles os de melhor filme, melhor ator para Hackman e melhor diretor para Friedkin, fazendo com que ele se tornasse (na época) o diretor mais jovem a conquistar o prêmio. Com um estilo realista e ousado, Friedkin mostrava para público e crítica a que vinha.

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