Documentos entregues por hospital agravam incertezas sobre morte de idoso com Covid-19
Ícaro Barbosa 02/10/2020 15:03 - Atualizado em 02/10/2020 15:07
João Manoel com os filhos
João Manoel com os filhos / Divulgação
A incerteza sobre o que aconteceu com João Manoel Barcelos, de 70 anos, internado no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus de Campos (CCC) com Covid-19 no dia 23 de agosto, — se está vivo ou não, se foi sepultado ou não — foi agravada com a entrega dos documentos solicitados pela Justiça na última segunda-feira (29). Nos documentos, entregues pelo Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos e analisados pelo advogado da família, Alexander Da Mata, existem duas evoluções médicas distintas para o mesmo paciente e dois finais distintos. O hospital e a Prefeitura informaram que uma sindicância foi aberta e garantiram que não há dúvidas do óbito do paciente.
Na primeira evolução médica, João Manoel teria sofrido uma parada cardiorrespiratória e morrido durante uma sessão de hemodiálise, no dia 19 de setembro, às 12h10. Essa evolução terminou com a ligação da Beneficência para a família para avisar sobre o óbito. Um dos filhos, Jonellis Barcelos tentou ir ao hospital para reconhecer o corpo do pai, mas foi impedido pelos funcionários, por conta dos protocolos estabelecidos pelas leis municipais para os casos de Covid-19. O sepultamento, então, foi organizado e realizado no mesmo dia, sem que a família pudesse ver o corpo, que já saiu da unidade com o caixão lacrado.
Na segunda evolução médica, o paciente também teria sofrido uma parada cardiorrespiratória, mas às 21h do dia 19 e, após cinco minutos de manobras médicas, João Manoel teria sido reanimado e, portanto, estaria vivo. Segundo a família, o caixão que seria de João Manoel foi enterrado às 17h do dia 19, no cemitério São João Batista, em São João da Barra.
Ainda nos relatórios entregues à Justiça, analisados pelo advogado e expostos no processo, que é público, estariam inconsistências e falta de coerência na prescrição de hemodiálise, faltam resultados de exames laboratoriais e evoluções médicas e equívocos na contagem dos dias de utilização de remédios. A família e o advogado não quiseram se pronunciar sobre o material analisado.
Na segunda-feira, o advogado da família havia afirmado que “caso as respostas não sejam esclarecidas com o fornecimento do material solicitado judicialmente e com a sindicância e apuração da Beneficência Portuguesa, a única alternativa será a exumação do jazigo, numa fase posterior, até por questões sanitárias, já que o cadáver está em estágio inicial de decomposição”.
Em nota, a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos e a Prefeitura de Campos reafirmaram que ainda está em andamento a sindicância interna aberta para apurar fatos relacionados ao caso do paciente João Manoel Barcelos. “Não há, portanto, resultado da sindicância. Não existe por parte das instituições dúvidas do óbito do paciente João Manoel Barcelos, bem como o seu enterro correto, além de que hora nenhuma houve dano ou prejuízo ao paciente. A respeito da sindicância, ela ainda está em andamento, apurando os fatos ocorridos e tem como objetivo principal aprimorar os processos. O Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos informa que enviou à Justiça, conforme solicitação da mesma, documentos relativos ao prontuário do paciente e a declaração do medico responsável confirmando o óbito” diz a nota.

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