Campistas se arriscam em festas
Verônica Nascimento 05/08/2020 11:53 - Atualizado em 08/08/2020 03:24
Polícia dispersou baile funk na Penha
Polícia dispersou baile funk na Penha / Divulgação PM
As medidas de isolamento social são as principais armas para quebrar a cadeia de transmissão do novo coronavírus, evitando, sobretudo, aglomerações. Assim como profissionais da saúde, agentes de órgãos ligados à fiscalização e à segurança pública também estão atuando na frente de batalha contra a Covid-19. A diferença é que os primeiros cuidam de pessoas que foram infectadas e os últimos lidam com indivíduos cuja conduta, em plena pandemia, demonstra despreocupação em propagar o risco de infecção. De acordo com o boletim divulgado nessa terça-feira (04) pela Prefeitura, o município já contava com 218 mortes e 3.185 pessoas contaminadas. Desse total, 2.336 pacientes estão recuperados.
Com o nível 3 (fase amarela) de flexibilização, mas ainda de atenção máxima para a transmissão da Covid-19, a Prefeitura de Campos mantém as restrições acerca de aglomerações. No entanto, operações da Força-tarefa Municipal de Combate ao Coronavírus e da Polícia Militar mostram que tais restrições vêm sendo desrespeitadas e que a ocorrência de eventos clandestinos, com grande quantidade de pessoas e nos quais não são observadas as recomendações sanitárias, como o uso de máscaras faciais e o distanciamento, vem aumentando na cidade. Mas, seja em festas particulares, no rolé de moto com torbal, na resenha da comunidade ou mesmo no jogo de bola com os amigos, as autoridades advertem que, nesta pandemia, a diversão de alguns pode causar a perda de muitos. E as fiscalizações não vão parar.
Diferente dos participantes, o perigo de propagação da doença assusta moradores de áreas próximas aos locais dos eventos, que acabam recorrendo à denúncia. E é nos finais de semana que as equipes de segurança atuam mais para fazer valer as medidas que proíbem as aglomerações. Conforme o secretário municipal de Segurança Pública, Darcileu Amaral, desde o início da pandemia, foram mais de 3,5 mil fiscalizações e foi nos últimos dois meses que as denúncias aumentaram.
— Tivemos um aumento, de junho para cá, de festas, bailes clandestinos, badernas com motos, carros com som alto juntando pessoas, jogos de futebol. Chegamos a receber denúncias de três, quatro festas, com muita gente, no mesmo dia, em diferentes áreas do município. Quando é baile em comunidade, normalmente a PM é que desfaz, mas percebemos que as pessoas não estão cumprindo as medidas de prevenção ao coronavírus. Tivemos um sábado, por exemplo, em que fomos acionados para uma festa de aniversário com show ao vivo, em uma casa na RJ 158 (Campos-São Fidélis). Fomos com a PM, porque havia umas 500 pessoas, todo mundo sem máscara. Nesse dia, interrompemos um torneio de passarinhos em Serrinha, que reuniu muita gente e, na mesma noite, paramos um baile em Morro do Coco — contou o secretário.
No último final de semana, foram fechados dois quiosques e um bar que estavam com atendimento presencial e aglomeração, emitidas mais de 90 notificações, além da apreendidas mais de 50 motocicletas no Parque Santa, em Guarus, onde, pelo segundo domingo consecutivo, foi promovido um festival de pipas. A ação, com o apoio da PM, também acabou com um “rolezinho” na área central, na Avenida Nossa Senhora do Carmo com 28 de Março, onde dezenas de homens foram flagrados promovendo “um desfile” de motos com torbal, em descumprimento às normas de trânsito.
— Não sei se as pessoas não acreditam na doença, não conhecem os riscos ou, simplesmente, não se importam. Mas a população está denunciando e nós vamos agir para atender todas as demandas. Pedimos é que as pessoas tenham consciência, porque o freio da pandemia não está no aumento de atendimento na saúde, de leitos nos hospitais, mas em nossa atitude. A pandemia vai passar, vão ter outros bailes, festas de aniversário, encontros; não, talvez, para os que arriscam a própria saúde e a de seus familiares — alertou Darcileu.
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ENTITY_quot_ENTITYFestival de pipasENTITY_quot_ENTITY também causou aglomeração / Genilson Pessanha
PM acaba com “resenhas” nas comunidades
Em tempos de pandemia, a Polícia Militar continua com o patrulhamento ostensivo, mas na verificação das medidas de combate ao novo coronavírus, a abordagem é diferenciada. O objetivo não é reprimir e prender, mas repreender, orientar e dispersar. Só em junho, quatro grandes bailes funks foram interrompidos por equipes do 8º BPM nos parques Prazeres, Aldeia, Santa Helena e Aeroporto. Em alguns, os policiais precisaram usar gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar a multidão. No maior deles, no Parque Aeroporto, foram necessárias 12 equipes do batalhão para mandar para casa cerca de mil pessoas. Domingo passado, um baile na Cidade de Deus, na Penha, foi terminado pela PM. O que se viu foram pessoas com bebidas, sem nenhuma proteção e um rastro de lixo pelas ruas.
Segundo a PM, a tática dos organizadores desse tipo de bailes também foi mudada e agora o “pancadão” ou a “resenha” acontecem geralmente em locais de difícil acesso e com equipamentos de som em veículos.
— Tentamos explicar aos participantes que eles representam um risco para eles mesmos e para os outros, mas esse tipo de evento sempre ocorreu, não parou, todo final de semana tem. A PM está mais preocupada porque, agora, ocorrem de forma irregular e é difícil descobrir onde vão acontecer, só por denúncias ou pelo trabalho de inteligência em redes sociais, pois os organizadores não deixam vazar o local. Agora, também, são “bailes móveis”, mais fácil para fuga. A guarnição passa, não tem nada e, uma hora depois, está tudo montado. A gente inova do nosso lado e eles, do deles. Usam a rede social para dizer que vai ter, mas deixam as pessoas na expectativa de onde será. As denúncias aumentaram, mas não porque os bailes não aconteciam antes e, sim, por passarem a representar um risco à saúde pública — explicou o comandante do 8° BPM, tenente-coronel Luiz Henrique Monteiro.
Baixas - Conforme a Secretaria de Estado de Polícia Militar, 466 policiais militares estão afastados em licença para tratamento de saúde, com suspeita de contaminação por Covid-19. Até o momento, foram 2.275 casos confirmados e 34 óbitos em decorrência da doença. O comandante do 8º BPM chama a atenção dos que se arriscam em multidões.
— São descompromissados com o resultado. Nós, da PM, cumprimos medidas preventivas muito sólidas, seguimos procedimentos rígidos de proteção, como o afastamento na hora do rancho, só entrar no batalhão após medir a temperatura corporal, o uso de máscaras ao lidar com o público. Num efetivo de 960, temos 12 afastados pela doença. Estamos na linha de frente, em um trabalho até mais de conscientização, mas pedimos que as pessoas fiquem em casa e só saiam se houver necessidade. Sigam as orientações, caso contrário, a PM terá de agir — avisou o coronel.
Mas o trabalho da Polícia Militar junto às comunidades tem surtido efeito, segundo opinião de moradores de locais onde as “resenhas” costumam acontecer.
— Rola muita bebida, droga e briga. Eu costumava ir aos bailes. No início da quarentena, fui a um na Tira Gosto. Ninguém usa máscara, tem nada disso não. A polícia bateu e botou todo mundo pra correr. Os PMs falaram: “Vocês não tem noção de nada não, todo mundo morrendo e vocês se arriscando?”. Teve uma mulher que reclamou, falou que se tava todo mundo ali, era porque queria se divertir. Os PMs foram tranquilos e percebi que estavam ali para proteger a comunidade. Na hora de curtir, a gente vai, mesmo sabendo do risco, sem pensar, só pra sair de casa. Mas a ficha caiu e não voltei mais. O povo passa em casa e me chama, e vou logo falando que não, que a Covid está matando e eu tenho família. Mas os bailes continuam. O povo agora só confirma na hora e arma tudo rapidinho. Infelizmente, muita gente ainda não está esquentando a cabeça — disse D, 30 anos, que pediu para ter a identidade preservada.
Thais, de uma comunidade de Guarus, que também não quis ser identificada, deixou de frequentar os bailes funks assim que surgiu a pandemia. “Sair, só para o trabalho. Tenho quatro filhos, o mais novo ainda bebê. Os bailes, que agora chamam de resenhas, nunca pararam e acho que o povo ainda não tem noção da gravidade da situação. Por falta de consciência, estão acabando com as famílias, não estão protegendo quem amam”.
Parceria pretende por fim aos rolés de motos
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê que conduzir o veículo com característica alterada, como o escapamento, é infração grave. Mas outra reclamação que secretaria Municipal de Segurança Pública recebe sempre é de perturbação por motocicletas com descarga aberta (torbal), que, com um barulho ensurdecedor, interrompem o silêncio da quarentena. E a perturbação não é só da paz dos que estão em isolamento. Grupos de motociclistas se reúnem para “rolé”, pela madrugada, em trechos da avenida 28 de Março, na área central, e grandes avenidas de Guarus. Os rolés geram aglomerações e estão na mira da força-tarefa de Campos.
— Cabe ao Detran fiscalizar veículos com alterações em suas características, mas estamos buscando uma forma de trazer para o município a competência do estado de multar. Estamos fechando convênio com o Detran para atuar de forma a complementar ao estado, e motociclistas que gostam de “rolés” devem aproveitar enquanto podem, porque a baderna vai acabar em breve — garantiu o secretário de Segurança Pública.
Com a previsão de abertura de bares e restaurantes a partir desta sexta-feira, Darcileu Amaral faz um pedido aos empresários: “Toda fiscalização é muito mal vista pelas pessoas, mas esta, relacionada a badernas com motos e entregadores de deliverys com motos barulhentas, a população apoia e pede, porque acaba com a tranquilidade. Nossa fiscalização vai continuar e pedimos aos donos de bares e restaurantes que não contratem motoboys que usam motos modificadas com torbal”, concluiu.

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