Os fantasmas se divertem
- Atualizado em 01/07/2019 19:02
(Annabelle 3: de volta para casa) —
Por maior que seja a confiança dos pais numa babá, não se deve sair de férias e deixar as crianças com ela. Basta ver o que aconteceu com Judy Warren (Mckenna Grace), que ficou sob os cuidados de uma jovem e bela babá (Madison Iseman) quando seus pais, Ed Warren (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (a notável Vera Farmiga, sempre mal aproveitada), saíram de férias. Logo a estudiosa de fenômenos paranormais Lorraine Warren, que, de fato, existiu e morreu exatamente em 2019. O casal exorcista tem um quarto cheio de criaturas do mal trancafiadas. Uma espécie de museu de seus trabalhos de despossessão, entre elas a temível Annabelle.
Às duas moças sozinhas numa casa de horrores em repouso, junta-se uma outra bastante curiosa. Daniela (Katie Sarife) está muito abalada com a morte do pai num acidente de carro em que ela estava no volante. O palco está pronto. Um museu de fantasmas com uma pessoa curiosa é uma combinação explosiva. O roteiro de Gary Dauberman com base na criação de James Wan, também principal produtor do filme, é, de todos os filmes do universo “Invocação do mal”, o melhor.
Sob a direção de Gary Dauberman, o filme se concentra numa casa comum com três jovens e um quarto fechado a sete chaves com espíritos atormentados. O clima no interior é sombrio. No exterior é nevoento. A curiosidade de Daniela a leva a descobrir as chaves do quarto e dos armários. Ela solta Annabelle, a rainha do mal, a atratora de assombrações. Dauberman trabalha bem no roteiro e atrás das câmaras. O segredo de um bom filme de terror não está nas aparições repentinas acompanhadas de sons de alto volume. É o medo que deve reinar no silêncio, não os sustos por barulhos súbitos.
O clima favorece o medo. Antes mesmo das fantasmagorias, o espectador fica tenso à espera de aparições. Os fantasmas estão à solta e se divertem. Pianos tocam sozinhos, macaquinhos de corda andam e gargalham. Sempre existe algo atrás da porta. E há também espaço para leituras subjacentes. O pai de Daniela aparece e a acusa de ser culpada por sua morte. Fica a dúvida: sentimento de culpa da moça ou sobrenatural de verdade? A filha do casal exorcista têm visões como sua mãe. Annabelle e companheiros vieram mesmo do além ou é imaginação da menina? A babá não é dada a crendices. Mas elas puxam seu pé. Existe mesmo o sobrenatural ou a bela moça está envolvida num clima favorável a visões? Trata-se de um filme de adolescentes, algo que se faz bem nos Estados Unidos.
Como no “Aprendiz de feiticeiro”, de Paul Dukas e Walt Disney, o casal Warren retorna e coloca a casa em ordem. As almas penadas voltam para suas jaulas. Trabalhado sempre com duplas interpretações, Dauberman cria não uma obra prima do terror, mas não cai nos clichês que dominam os filmes do gênero.

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