Escravidão no Brasil em debate com angolanos
Celso Cordeiro Filho 14/05/2019 18:37 - Atualizado em 21/05/2019 20:09
Para marcar as discussões em torno do Dia 13 de Maio e a realidade da Abolição da Escravatura para negros no Brasil, até os dias atuais, a Superintendência da Igualdade Racial (Supir), em conjunto com o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) e o Consulado Geral de Angola no Brasil realizaram nesta terça-feira (14), no Museu Histórico de Campos, uma série de mesas de debate acerca dos desafios do negro na sociedade brasileira.
Inicialmente, o professor angolano Manuel Sebastião Diogo participou da mesa “História da África: das sociedades étnicas às nações” juntamente com Jéssica Oliveira e Carol Tomaz, ambas da Uenf. “É importante fazer uma avaliação crítica e apresentar uma análise sociológica sobre o assunto. Sabe-se que a colonização africana foi um projeto da Europa para sugar as riquezas do continente. Contudo, historicamente está comprovado que os africanos contribuíram decisivamente para o desenvolvimento do planeta, notadamente a partir da Revolução Industrial”, salientou.
No final da tarde, o professor Nilson de Jesus Cassoma Diogo, também de Angola, participou da mesa “Identidade e Cultura do Povo Bantu”. Durante a explanação mostrou o apagamento da memória da presença do povo Bantu no Brasil. “Fronteiras artificiais tentam separar o povo de sua identidade. E isso ficou demonstrado ao longo desses anos com a extinção de sua presença em solo brasileiro”, disse.
Para o presidente do Compir, Gilberto Firmino Jr., o Totinho, o evento tem papel importante na ressignificação do 13 de maio. “Senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho. Com isso, houve, então, um debate sobre a necessidade de prover algum recurso à população recém-saída da condição de escrava. Esse recurso, que seria o acesso à terra, importante para que as famílias iniciassem uma nova vida, não foi concedido aos negros. Mesmo o já precário espaço no mercado de trabalho que era ocupado por essa população passou a ser destinado a trabalhadores brancos ou estrangeiros. Por esse motivo, essa data é, desde o início dos anos 80, considerada pelo movimento negro como um dia nacional de luta contra o racismo”, pontuou.
A escolha do dia 14 de maio, um dia após a abolição, é uma chamada à reflexão sobre o papel do Estado na inserção plena do negro na sociedade brasileira no pós-abolição. Para o Superintendente de Igualdade Racial, Rogério Siqueira, “esse é um evento que foi organizado para trazer uma reflexão sobre o dia 13 de maio, mas a partir do dia 14 de maio, que é o dia pós-abolição. Como foi a inserção do negro na sociedade brasileira? O quanto ainda temos que avançar? Por que nossa história não é estudada a partir da origem africana? São essas reflexões que a gente quer fazer, junto aos companheiros do movimento negro, junto a estudiosos do tema e junto à sociedade como um todo. Esse evento é de extrema importância para marcar a data do 13 de maio, que é uma data que nós não comemoramos, mas sim é uma data de reflexão, onde a gente procura analisar e avaliar o contexto histórico e, a partir disso, fazer apontamentos das direções que a gente tem que tomar, enquanto gestor de política pública, da igualdade racial, enquanto ativista do movimento negro”.

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