Guilherme Belido Escreve - O grande assalto
09/12/2018 12:18 - Atualizado em 10/12/2018 15:35
O governador Luiz Fernando Pezão completa hoje, domingo, dez dias desde que foi preso no Palácio Laranjeiras e levado para a Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói. A operação da força-tarefa da Lava Jato ganhou o sugestivo nome de “Boca de Lobo’’.
Acusado de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção, a prisão, em si, não deveria causar surpresa ou espanto. Afinal, Pezão já vinha sendo investigado pela Lava Jato por suposto recebimento de propina e há quase dois anos pesava sobre sua cabeça pedido de impeachment protocolado na Alerj.
Contudo, há de se reconhecer que depois de tudo que aconteceu e com tanta gente indo parar na cadeia, é espantoso que Pezão tenha insistido nas práticas delituosas. E já não se pode apenas chamar de ousadia ou de convicção na impunidade. Não cabe. Se, de fato, praticou os crimes de que vem sendo acusado, é caso de insanidade mental.
Muito simples: há muito o emedebista vinha sendo investigado por receber dinheiro desviado ao longo dos sete anos em que foi vice-governador nos mandatos do ex-governador Sérgio Cabral Filho. E as investigações se aprofundavam na medida em que as acusações se revelavam mais robustas.
Ora, ao ver que o cerco se fechava sobre Cabral e que a prisão do “chefe” viria mais cedo ou mais tarde, era de se esperar que o roubo cessasse.
Cadeia anunciada, Sérgio Cabral foi preso em 2016, acusado de receber milhões em propina para fechar contratos públicos. À prisão de Cabral seguiu-se muitas outras, indo parar atrás das grades boa parte da corja que integrava a quadrilha comandada pelo ex-governador que assaltou os cofres públicos e quebrou o Rio de Janeiro.
Mas, ao contrário, a roubalheira não cessou. De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Pezão não apenas assumiu a liderança da organização criminosa, como operou esquema de corrupção próprio, tendo recebido – em valores atualizados – cerca de R$ 40 milhões de propina.
Aposta na impunidade
Para além da afronta à Justiça, Pezão vem assistindo às seguidas condenações de Sérgio Cabral – cujas penas somam quase 200 anos – o que seria motivo de sobra para pisar no freio (pé é o que não falta) da corrupção e parar de cavar o poço de lama no qual supostamente desde os tempos de vice-governador já estaria enterrado até o pescoço.
Mas, pelas acusações que lhe são imputadas, Pezão desafia a mais rudimentar noção de lógica – aquilo que se mostra claro, a um palmo de sua face – e, dando de ombros, prosseguiu com o mãozão sobre o dinheiro público.
Teria sido uma aposta na impunidade em época de punição? Se foi, fica a dúvida se prevaleceu a desonestidade ou a falta de inteligência.
De toda forma, entra para a história do Rio de Janeiro como o primeiro governador preso no exercício do mandato.
Questão de humanidade
Confirmadas as acusações contra o governador – que são fortes e, segundo o MPF, com “registros documentais” de recebimento de propina – cai por água abaixo a imagem do político de hábitos simples, típico do interior, como se ainda guardasse os traços de vereador e prefeito de sua cidade natal, Piraí.
A hipótese de ter se tornado refém do esquema de corrupção do qual participou não prospera, posto que elaborou seu próprio sistema de propina. Além do que, receber “de presente” de Cabral um home theater de R$ 300 mil e não desconfiar... é demais. Com 300 mil compra-se uma casa em Piraí.
Enfim, a soma de todos os assaltos explica a situação de penúria do Rio. O que fica difícil de explicar – mas muito difícil – é que o governador tenha continuado a corrupção à custa dos salários atrasados dos servidores, dos aposentados, gente que ficou vários meses sem dinheiro para comprar comida e remédio.
 
 

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