Bônus fora da prestação de contas
30/03/2016 08:03

Alexandre Bastos
Foto: Divulgação 

A prefeita Rosinha Garotinho (PR), que, segundo a revista “Veja”, recebeu um “bônus de R$ 1 milhão da Odebrecht”, não conta em sua prestação de contas com valores repassados diretamente pela empreiteira. Em uma pesquisa é possível descobrir que a Odebrecht doou R$ 840 mil ao diretório nacional do PR. Uma parcela de R$ 500 mil e outra de R$ 340 mil. Já a empresa Praiamar, que seria “laranja” para os repasses da empreiteira, doou R$ 300 mil ao diretório nacional. Posteriormente, parte da arrecadação do diretório nacional “desceu” para o diretório estadual, presidido pelo então deputado federal Anthony Garotinho (PR), e recursos chegaram até a campanha de Rosinha. De acordo com Garotinho, “tudo foi feito dentro da legalidade”.

A doação da Odebrecht, que firmou em Campos o contrato para a construção das casas do programa “Morar Feliz”, não aparece na prestação de contas do comitê financeiro, direção estadual e também na direção municipal. Além disso, tendo em vista o valor repassado pela empresa ao diretório nacional (R$ 840 mil), haveria um déficit de R$ 160 mil em relação ao “bônus” apontado pela revista “Veja” para a campanha de Rosinha.

No dia da divulgação da lista, Garotinho disse que “do total de sua campanha (Rosinha), mais de 90% foram repasses dos diretórios estadual e nacional, com CNPJ/CPF e número do recibo eleitoral. Exatamente como determina a lei”. O ex-governador afirmou que não se preocupa com o fato de o seu clã aparecer na lista. “Trata-se de uma constatação normal de doação que está declarada na minha prestação de contas feita ao TRE-RJ, assim como os casos de Rosinha e da minha filha Clarissa. Também não me preocupa a possibilidade de algum opositor tentar deformar os fatos, porque acredito que as investigações apontarão a realidade”, afirmou Garotinho, que aparece como “beneficiário” de uma doação no valor de R$ 1 milhão em 1º de setembro de 2010 — mesmo dia e valor das duas doações somadas da Leyroz e Praiamar, que seriam “laranjas” para os repasses da Odebrecht. Ambas foram declaradas pelo PR ao TSE, que não registrou nenhuma doação da Odebrecht a Garotinho em 2010, ano em que disputou e ganhou seu último mandato, como deputado federal.

Ex-secretária — A ex-secretária da Odebrecht Conceição Andrade afirmou no último domingo, em entrevista ao Fantástico, que o pagamento de propina é uma prática antiga na empresa. Ela afirma que trabalhou no departamento financeiro da empresa por 11 anos e que guardou uma lista de 500 nomes de políticos e empresários que recebiam propina desde a década de 80. Sobre os pagamentos aos políticos, ela afirmou: “Tudo isso era propina. Tudo que tem dentro, toda essa relação que existe nessa lista foi pagamento de propina, de caixa dois”, disse.

Legislativo com festa ao invés de debates

Na manhã dessa terça-feira (29), quem esperava uma sessão da Câmara de Campos marcada por debates e cobranças sobre a relação da Prefeitura de Campos com a Odebrecht viu uma solenidade para e entrega de títulos no horário dos trabalhos. Por conta disso, o debate ficou para esta quarta-feira. Um pedido de informação sobre os contratos da Prefeitura de Campos com a Odebrecht já foi protocolado na Câmara Municipal pelo vereador Marcão (Rede). A meta é abrir a “caixa preta” e descobrir detalhes sobre o maior contrato já firmado entre a Prefeitura de Campos e uma empreiteira.

A oposição busca informações sobre o contrato desde 2012, quando a então vereadora Odisséia Carvalho (PT) protocolou um requerimento cobrando transparência. Na época, a bancada governista manobrou e a matéria nem chegou a ser votada. Nessa terça-feira, durante entrevista no programa “Folha no Ar Entrevista”, Marcão comentou sobre o assunto. “Não adianta dizer que tudo foi legal. É preciso provar. A população merece explicações sobre o contrato e essas doações. Não acredito que a bancada governista irá votar contra. Se foi tudo feito dentro da legalidade, por que esconder?”, indagou Marcão.

O vereador Rafael Diniz (PPS) também cobra explicações. “É aquela velha história: quem não deve, não teme. Se alegam que não existe nada errado, é hora de mostrar o contrato e revelar como foram feitas essas doações”, frisa Diniz.

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