Presente de Olavo Cardoso para Campos em ruínas
Dora Paula Paes - Atualizado em 22/03/2023 08:12
Rodrigo Silveira
“Se soubesse que sua casa iria ser tratada como vem sendo nos últimos anos, certamente o falecido filantropo e usineiro campista, Olavo Cardoso, não a deixaria em testamento para a prefeitura de Campos dos Goytacazes”. Essa é a conclusão do jornalista, Edmundo Siqueira, em seu artigo “Cadê a varanda do Olavo Cardoso?”. O equipamento cultural vem sendo alvo constante de ataques. Abandono, desmonte e até roubo. Dezenas de peças do seu acervo foram levadas para o Museu Histórico de Campos, no Centro. Recentemente, o local teria recebido estacas para sustentação. A ação, da Secretaria municipal de Obras e da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, foi realizada, mas resultou no sumiço de uma das varandas do imóvel e no desmonte do tradicional balanço verde do quintal; sonho no imaginário de muitas crianças campistas ao cruzar as ruas dos Goitacazes e avenida Sete de Setembro.
Na segunda-feira (20), através dos muros foi possível olhar o entulho que não foi retirado do local, após intervenção. E, inclusive, o balanço verde, que talvez não tenha mais salvação, ainda está lá jogado.
Há 15 dias, o trabalho no local foi reativo, logo após o blog de Matheus Berriel, da Folha da Manhã, noticiar que o letreiro da antiga Estação Leopoldina estava “esquecido numa garagem do Museu Olavo Cardoso”. O item histórico já foi transferido para o museu, na Praça São Salvador.
Rodrigo Silveira
A intervenção da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) ocorreu com uma retroescavadeira dentro dos jardins da casa-museu Olavo Cardoso. A ação foi fotografada e divulgada, inclusive, nas redes sociais da Fundação, que disse estar “cuidando de seus equipamentos”.
Titular da Câmara Técnica de Patrimônio Histórico do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura), Marcelo Sampaio, diz que o descaso com o patrimônio histórico de Campos data de muito tempo, passando por todos os governos e por significativa parcela da população. “É impressionante como nos últimos anos avançou o processo de descaracterização arquitetônica da cidade, principalmente da sua área central. O Museu Olavo Cardoso, lamentavelmente, não é o único exemplo do empobrecimento artístico-cultural do nosso município. Jamais existiu de fato uma política tanto para sua preservação como para sua utilização”, destaca.
Rodrigo Silveira
Ainda, segundo ele, percebe que são poucas as pessoas interessadas em participar das reuniões do Comcultura para somar força na hora de cobrar uma ação mais efetiva contra este descaso de décadas. “O próprio Museu Olavo Cardoso sofreu por estes dias uma interferência da municipalidade que culminou com a derrubada da sua varanda menor sem qualquer critério de uma ação restauradora, mesmo ele sendo tombado pelo Coppam”, disse.
Até o fechamento desta edição não havia resposta do munícipio sobre a ação que levou a derrubada da varanda e do balanço. Ressaltando, que a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Auxiliadora Freitas, também é presidente Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam).
A casa foi doada em testamento por Olavo, assim que morresse o último herdeiro do usineiro que batiza a instituição. A ideia de Olavo era que sua residência servisse como um local de preservação da memória e da história de Campos.
No final do governo passado, o espaço foi alvo de bandidos. Na ação, os criminosos furtaram quase tudo do interior do museu: mobília, livros, quadros, peças de arte, objetos de decoração e itens históricos de alto valor. Neste ano, no início do mês de março, mais uma vez foi alvo de bandidos que miravam as estruturas de ferro. Policiais do Segurança Presente impediram a conclusão do crime, com a detenção dos envolvidos.
Inicialmente, chegou-se a comentar uma parceria entre o Instituto Federal Fluminense e a Prefeitura para salvar o local. O jornalista Edmundo Siqueira conta que partiu dele a ponte, no entanto, apesar de reunião realizadas, nenhum avanço significativo ocorreu. “O IFF já havia sido contactado para ajudar em questões culturais da cidade, mas não havia a proposta de doação de projeto para o Olavo, até então”, conta Edmundo.
Rodrigo Silveira

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