Pra não falar de política
Ronaldo Junior - Atualizado em 01/10/2022 10:53
Fonte: Pixabay.
Depois de um considerável período de silêncio neste blog – por motivos vários -, retorno num momento em que não se fala em outra coisa: amanhã é o primeiro turno das eleições.

Fiquei tentado a falar sobre o tema, já ciente de que poderia – enquanto improvisado comentarista político - falar mais do mesmo e ficar repetindo ecos de uma abordagem qualquer que eu li no jornal.

Indo na contramão das minhas expectativas, porém, quero tomar rumo distinto e falar sobre teimosia.

Sim, esse é um assunto que move a humanidade, afinal, um teimoso inveterado é capaz de muita coisa para provar seu ponto. Quem já discutiu com um teimoso verdadeiro sabe que ele é capaz de relativizar até o terraplanismo para sair com a razão – e com a última palavra, pois ninguém suporta algo assim.

Isso significa dizer que o ser humano pode assumir consequências absurdas para garantir o posto de “coberto de razão” ou mesmo para se sentir superior ao outro, o que inclui questionar a realidade, dar um safanão na lógica e desacreditar séculos de estudos sérios sobre algo.

Tal coisa acontece, sobretudo, quando há paixão pelo tema. Um indivíduo apaixonado é capaz de garantir que seu time só foi rebaixado porque o VAR não deu um pênalti claro na rodada 15 do campeonato e brigar ferozmente por isso. Ou até dizer que seu ídolo pop não fez nada depois de ser acusado de uma centena de crimes aterradores – “mas ele é perfeito”, o sujeito dirá.

A questão da teimosia, no final das contas, se reduz ao ego de alguém que tem certeza de algo, apesar de tudo dizer o contrário – tudo mesmo. Há algo de teoria da conspiração nessa postura insensata, mas, na real, é só coisa da cabeça mesmo.

Imagine quem, ainda agora, acredita que não existiu pandemia, que vacina causa aids, que a monarquia é a solução para o Brasil e que todas as pesquisas de intenção de voto foram forjadas para favorecer um único candidato. Parece absurdo, mas pessoas que pensam assim estão por aí, teimosas até o fim, com razão até se cansarem de gritar pelo que não existe.

Ao teimoso, pode até faltar bom senso, mas falta, antes, um bom choque de realidade para entender o tempo e as condições em que se vive.

(Viu só? Em poucos parágrafos, escapei com tranquilidade do impertinente tema eleitoral.)

*Ronaldo Junior tem 26 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
Escreve aos sábados no blog Extravio.

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    Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.