Clarissa Garotinho (União), deputada federal e pré-candidata à reeleição, decidiu reviver a mentira bolsonarista. Em suas redes sociais, na última terça-feira, a deputada publicou um vídeo onde diz que ter o “direito de não querer que meu filho seja exposto na escola a um conteúdo, com cinco anos de idade, como o kit gay”. Antes, disse, apesar da declaração, não ter “preconceito com ninguém”.
Nas últimas 12 postagens de Clarissa no Instagram, 4 trazem o presidente Bolsonaro como destaque. Tentando atrair os votos — de grande resiliência — do bolsonarismo, a deputada aposta na agenda de costumes e não perde a oportunidade de aparecer com o “mito”.
Em 2014, a filha do ex-governador Anthony Garotinho conquistou 335.061 votos. Quatro anos depois, Clarissa contabilizou apenas 10,5% deles: 35.131. Em 2020 se lançou à prefeitura do Rio, e amargou o 11º lugar, ficando com 0,46% dos votos.
Porém não parece ser uma verdade que Bolsonaro transferirá votos a Clarissa. Mesmo mantendo uma base fiel em torno de 25 – 30% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro não demonstra grande capacidade de transferência de votos. Nas últimas eleições, apenas 15 dos 61 apoiados por ele conseguiram uma cadeira no parlamento. Com rejeição na casa dos 60% e chances reais de perder no primeiro turno, apostar em Bolsonaro como cabo eleitoral pode ser um desastre eleitoral para Clarissa; ainda maior que os últimos.
'Kit Gay', de fato, nunca existiu – Clarissa repete fake news
“É obvio que vou ensinar o respeito e a tolerância, mas tenho o direito de não querer que esse tema (kit gay) seja abordado para crianças”, disse Clarissa no vídeo de terça.
A deputada repete a fake news de Bolsonaro. O chamado "kit gay" fazia parte do projeto ‘Escola sem Homofobia’, de 2004. Voltado à formação de educadores, fazia parte do programa ‘Brasil sem Homofobia’ do governo federal, à época. Mas o que resto comprovado foi que o material nunca teve a previsão de ser distribuído para alunos, e ainda assim o programa não chegou a ser colocado em prática.
Clarissa tem todo direito, esse sim legítimo, de declarar apoio a Bolsonaro e buscar o dele. Se reverterá os maus resultados anteriores, o tempo dirá. O que não se confunde com o uso de inverdades. Em um país com 33 milhões de pessoas passando fome (confira aqui), fazer campanha baseada em fake news e na sexualidade alheia não eleva o debate, pelo contrário.
As instituições responsáveis por determinar a ilegalidade de condutas e falas que faltem com a verdade, para além de Clarissa Garotinho, terão um grande desafio em outubro.