O mal-estar na escola
26/04/2022 12:34 - Atualizado em 26/04/2022 12:34
Como sempre buscamos fazer aqui neste espaço, trazemos mais uma contribuição sobre a importância do fortalecimento socioemocional, ainda mais após os dois últimos anos tensos por conta da pandemia. Vale muito a leitura do artigo abaixo escrito pela diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino, Acedriana Vicente Vogel.
Divulgação
O mal-estar na escola
Acedriana Vicente Vogel
“Precisamos amar para não adoecer”, disse o célebre Sigmund Freud. Muito antes da realidade contemporânea, com telas por todos os lados e a rotina corrida da grande maioria da população, Freud já alertava sobre uma das dimensões mais importantes da vida humana: a preservação da saúde mental por meio do afeto.
Trocar abraços, sorrisos e experiências, conversar, brincar, rir com outras pessoas, todas essas interações com outras pessoas nos ajudam a ser mais felizes. Mas estar emocionalmente saudável é muito mais que desenvolver relacionamentos saudáveis. Por se tratar de um conceito muito amplo, quase um século depois de Freud, a saúde mental segue sendo uma questão complexa, especialmente entre crianças e jovens. Essa amplitude dificulta a prevenção, o diagnóstico e o tratamento e, por conseguinte, mantém o estigma e amplia o sofrimento psíquico.
Contribuir para uma mudança drástica nesse cenário também é papel da escola. O levantamento internacional “Boas práticas de saúde mental em escolas: um olhar para oito países” mostra, ao longo de muitas páginas, as lições e propostas que escolas de várias partes do mundo trazem para lidar com esse assunto em tempos de pandemia.
O fechamento das escolas por tanto tempo, consequência direta da covid-19, impôs a milhões de estudantes riscos à saúde física e mental, além de insegurança alimentar, falta de proteção contra a violência doméstica e afastamento das atividades escolares. Confinados em suas casas, crianças e jovens se viram, de repente, longe do afeto, do convívio social e das possibilidades de interação. Drama parecido viveram os professores, que precisaram produzir e entregar suas aulas mesmo em condições precárias de infraestrutura e conhecimento tecnológico. Além da distância do contato humano, esses profissionais tiveram de lidar com inúmeros problemas técnicos e de infraestrutura.
Promover o bem-estar, nesse contexto, é tarefa ainda mais dura. Como intervir e socorrer essas crianças e jovens antes que eles adoeçam? Como acolher os medos e as frustrações dos professores em sua atividade profissional, evitando o desdobramento em síndromes de tratamento mais complexo? Responder a essas perguntas foi o grande desafio de escolas públicas e privadas, do Canadá à Nigéria, do Brasil ao Reino Unido.
De repente, a saúde mental precisou passar a ser a pauta prioritária também quando o assunto é educação. Isso exige uma arquitetura de trabalho que inclua alternativas de promoção, prevenção, tratamento e recuperação para quem vive, aprende e trabalha nesse ambiente que é, por natureza, humanizador. Mas cuidar do emocional dos estudantes requer um passo para além dos muros da escola.
Além de estudantes e professores, é imprescindível incluir toda a comunidade escolar nessas iniciativas. Entre os fatores de sucesso para projetos de saúde mental em escolas são destaque: amparo legal, orçamento direcionado, investimento em comunicação e combate ao estigma, equipe dedicada, formação dos envolvidos, material estruturado, integração com o currículo, diagnóstico e intervenção precoce, processos claros de avaliação e envolvimento da comunidade, expandindo para um diálogo intersetorial. Ninguém imaginou que seria simples, não é mesmo?
No Brasil, instituições de ensino já vislumbravam alguns desses aspectos antes mesmo da pandemia. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê as competências socioemocionais como um componente fundamental do ensino formal, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Trabalhar com essas competências é parte importante do sistema de suporte para a saúde mental de estudantes e professores, com propostas de atividades curriculares que envolvam o autoconhecimento, a autorregulação, as habilidades de relacionamento, a consciência social e a tomada de decisão responsável de maneira estruturada e contínua.
Parece pouco, mas é um bom começo quando se sabe que um fator determinante da saúde mental é a aquisição de capacidades que assegurem o bem-estar no enfrentamento dos desafios da vida. Se precisamos amar para não adoecer, como sugeriu Freud, o carinho com o bem-estar emocional do outro deve ser nosso ponto de partida".
 
 
 
 

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    Sobre o autor

    Fabiano Rangel

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    Educador e empreendedor em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, sou graduado em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e professor concursado da área no Governo do Estado do Rio de Janeiro desde 2007. Atuei como coordenador pedagógico e geral de várias escolas particulares em Campos até 2011. Fui também coordenador administrativo do Sesc Mineiro, em Grussaí, no município de São João da Barra, até 2013. Há oito anos me dedico ao Centro Educacional Riachuelo como Diretor Geral das cinco unidades, que formam hoje o Grupo Riachuelo. Sou pós-graduado em Gestão Escolar Integradora e Gestão de Pessoas pelo Instituto Brasileiro de Ensino (IBE). Atualmente também sou apresentador do programa Papo Cabeça na rádio Folha FM 98,3.