Jornalismo: "uma condição para a democracia e a paz duradoura" Prêmio Nobel da Paz
09/10/2021 13:49 - Atualizado em 09/10/2021 13:51
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Jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov recebem Nobel da Paz
Anunciado nesta sexta-feira (8) pela Academia Sueca, em Estocolmo, o prêmio foi concedido "pelos esforços de salvaguarda da liberdade de expressão, pré-condição para a democracia e paz duradouras".
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“Uma condição para a democracia e a paz duradoura". Essa foi a justa definição para o jornalismo dada no Prêmio Nobel da Paz de 2021. A cerimônia, que aconteceu nesta sexta em Estocolmo, premiou os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, por seus esforços para salvaguardar a liberdade de imprensa e de expressão em seus países.
A informação sempre foi uma arma. E como tal, pode ser utilizada como defesa ou como instrumento de destruição. Com a internet, as pessoas tiveram mais acesso e as fronteiras físicas deixaram de ser impeditivas. Porém, o uso da informação passou a ser ainda mais manipulado e danoso, influenciando o voto e instigando as massas para benefício de grupos políticos. Como o Nobel evidencia o jornalismo é, nesse cenário, ainda mais importante e garantidor da democracia e da paz.
Uma das características da onda recente de extrema-direita no mundo é o ataque sistemático à imprensa e o uso constante das chamadas “fake news”. Em seus exemplos mais emblemáticos, o ex-presidente americano Donald Trump e o atual brasileiro Bolsonaro elegeram a imprensa como inimiga. Este, disse que a imprensa é “o maior problema do Brasil”.
— Não é nem lixo, porque lixo é reciclável. Não serve para nada, só fofoca, mentira o tempo todo.
— A imprensa se tornou tão desonesta que, se não falarmos sobre isso, estaremos fazendo um tremendo desserviço ao povo americano. A imprensa está fora de controle.
São alguns dos exemplos do que disseram, sentados em cadeiras presidenciais.
O ataque à imprensa não é exclusividade da extrema-direita. Regimes autoritários e totalitários, — de esquerda ou de direita —, tem como medida essencial para sustentar-se de pé calar jornais, controlar TV e rádio. Sem imprensa livre não há democracia.
Maria e Dmitri – O Prêmio Nobel da Paz de 2021 coloca o jornalismo em seu lugar de merecimento. Os escolhidos mantêm em seus veículos a liberdade de expressão e os fundamentos éticos como norte. Os temas nos artigos críticos de ambos os jornalistas vão desde corrupção, violência policial, prisões ilegais até fraudes eleitorais. Como resumiu bem o ex-presidente da extinta União Soviética, Mikhail Gorbachev, o prêmio “eleva o significado da imprensa no mundo moderno a uma altura maior”.
Dmitry Andreyevich Muratov, de 59 anos, dedicou seu prêmio aos seis colegas que foram assassinados pelo trabalho que desenvolvem na Novaya Gazeta, que Muratov é cofundador e editor. Yury Shchekochikhin, um dos seis jornalistas assassinados, foi o primeiro a escrever sobre corrupção e a máfia na União Soviética, em 1988. Yury temia ser “assassinado por sua escrita”, o que de fato aconteceu.
Maria Ressa e Dmitry Muratov
Maria Ressa e Dmitry Muratov / Reprodução
Como jornalista e diretora da Rappler, companhia de mídia digital voltada ao jornalismo investigativo, Maria Ressa usa a liberdade de expressão em um país de grande repressão. Expondo abusos de poder, a violência e o autoritarismo crescente nas Filipinas, Ressa, de 58 anos, deu um grito e chorou ao saber que receberia o prêmio. “Oh, meu Deus! Estou sem palavras! Muito obrigada!”.
“Essa campanha implacável de assédio e intimidação contra mim e meus colegas jornalistas nas Filipinas é um exemplo forte de uma tendência global de que os jornalistas e a liberdade de expressão enfrentam condições cada vez mais adversas”, disse a jornalista que já recebeu 10 mandados de prisão pelo governo filipino e foi proibida de deixar o país.
Mesmo com todas as ameaças e desafios, os jornalistas vencedores do Nobel são ícones da salvaguarda democrática que o jornalismo exerce. Arriscando a própria vida, exercem a profissão com a grandeza que ela exige. Maria Ressa disse em entrevista sobre a premiação que “é o melhor momento para ser jornalista” e que “os momentos mais perigosos são também os momentos mais importantes”.
O Prêmio Nobel da Paz deste ano coloca o jornalismo em seu lugar de merecimento: garantidor da democracia.
 
 
 

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    Edmundo Siqueira

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